O “Mercado da Avenida 24 de Julho” conhecido por “Mercado da Ribeira Nova”, foi inaugurado em 1 de Janeiro de 1882. Foi projectado pelo engenheiro Ressano Garcia, a quem se deve o planeamento e construção de estruturas da zona metropolitana de Lisboa como a Avenida da Liberdade, a Praça Marquês de Pombal, a Avenida 24 de Julho, os bairros de Campo de Ourique e da Estefânia.
“Mercado da Avenida 24 de Julho”
A par dos mercados hortícolas, existia em Lisboa um mercado de pescado que, no século XVI, já se situava na Ribeira, era conhecido por “Mercado da Ribeira Velha”. Ocupava a faixa de terreno em frente à “Casa dos Bicos”, com várias barracas, onde as vendedeiras colocavam o peixe para venda. Consta que era um dos mercados de pescado melhor abastecidos do mundo. A sua celebridade veio do facto de ter sido o grande mercado lisboeta durante mais de 200 anos, como do facto de se terem ali celebrizados os fritadores de peixe, que deram ao local o aspecto e o cheiro que se adivinha. Chamava o povo ao sítio e as respectivas locadas «O mal cozinhado».
“Mercado da Ribeira Velha”
Com o Terramoto de 1755, e depois de um período em que a cidade teve mercados provisórios, o Rei D. José mandou edificar para a venda de pescado, na Ribeira da cidade, nos terrenos perto da “Praia de S. Paulo”, o “Mercado da Ribeira Nova” em 1771.
Terreno onde viria a ser construído o “Mercado da Avenida 24 de Julho”
Carta Topográfica de Lisboa nº 50 de 1856
Este primeiro “Mercado da Ribeira Nova”, formava um quadrilátero, todo empedrado e lageado, e destinava-se à venda de pescado fresco. Tinha 123 cabanas e telheiros com 256 lugares de venda, alugados com carácter vitalício às vendedeiras. Posteriormente foi alargado às vendedeiras de frutas e verduras que ocupavam uma parte da Ribeira Velha. O Marquês de Pombal determinaria, medidas policiais que impedissem a concentração de vendedores ambulantes nas ruas de acesso ao mercado.
Primitivo “Mercado da Ribeira Nova” em 1771
“Novo Guia do Viajante em Lisboa …” de 1863
Extinto e demolido o “Forte de São Paulo” - situado sensívelmente onde hoje é a Praça Dom Luís - por ocasião da construção do aterro em frente à Boavista, o seu terreno foi entregue à Câmara de Lisboa, e esta decidiu construir um novo Mercado «dando esta n'esse sentido as suas indicações á respectiva Repartição technica, para a organisação do necessário projecto».
Levantamento topográfico de Francisco Goullart em 1881
Projecto de Francisco Ressano Garcia, datado de 20 de Abril de 1876
«Effectivamente foi este elaborado bem como o orçamento pelo respectivo engenheiro o sr. Francisco Ressano Garcia, e se não podemos dizer que seja um primor de elegancia e bom gosto, é ao menos mais um edifício importante que não envergonha a cidade.(...)
As rasões que levaram a Camara a preferir este sítio para a construcção do novo mercado, além da conveniencia de se achar já para ali encaminhada a concorrencia publica, foram o desafogado do local, permittindo uma facil ventilação, poder ficar isolado de quaisquer outras edificações, sem perder a vantagem de ficar no centro da parte da cidade que é destinado a alimentar, portanto hygienica e economicamente bem collocado. A proximidade da praia e a largueza da rua com a qual confina completam estas vantagens.» in revista "Occidente".
Interior do Mercado antes de 1926
O “Mercado da Ribeira Nova” era principalmente de peixe. A construção, com estrutura de ferro, mantinha todas asa bancas da praça dentro de portas, melhor dizendo, de oito imponentes portões gradeados. A coxia central era uma das novidades do novo edifício onde, pela primeira vez, ao longo do vasto corredor, os vendedores dispunham de água em abundância.
Em 1905, formou-se, em frente, encostado à linha férrea, um mercado de hortaliças e frutas, gerado pelo fim recente do “Mercado da Ribeira Velha” e por uma greve das hortaliceiras da “Praça da Figueira” entretanto vindas do “Cais de Santarém” onde se tinham juntado. A situação conservou-se até 1927, acabando por se fazer a unificação no mesmo espaço. Manteve-se, porém, durante muitos anos, uma lota de peixe junto ao rio.
Lota do peixe
Descarga do peixe e varinas no Cais da Ribeira
Vendedoras de figos e melancias
Desde a sua Inauguração, em 1 de Janeiro de 1882, foi sofrendo sucessivas remodelações e ampliações. Em 7 de Junho de 1893 um incêndio destruiu a parte do lado nascente do mercado.
Este “Mercado da Ribeira Nova” seria demolido em 1926. A sua reconstrução, ficou a cargo do arquitecto João Piloto tendo sido concluída em 1930, com a instalação da cúpula, com um lanternim, revestida de azulejo por fora e com um tecto pintado por dentro. Na entrada, foram colocadas silhares de azulejos, da autoria do pintor Vitórai Pereira e outros painéis, de Jorge Colaço, representando fainas do mar. O Mercado voltou rapidamente a ser o centro do comércio grossista e retalhista.
Novo “Mercado da Ribeira” em 1936
Talão de tara ou vasilhame
gentilmente cedido por Carlos Caria
No ano 2000 o mercado abandonou a actividade de comércio grossista mas manteve o retalhista. Em 2001, com a inauguração do novo primeiro piso, o espaço iniciou uma nova vertente social, cultural e recreativa.
“Mercado da Ribeira” no ano 2000
Desde 2014, o “Mercado da Ribeira” é gerido pela revista “Time Out Lisboa”, altura em que apresentou um projeto, e concretizou, que inclui bancas dedicadas à restauração, juntamente com atrações culturais. Este espaço foi inaugurado em 18 de Maio de 2014.
Situa-se no piso térreo, dividida em 30 espaços servidos por 500 lugares sentados no interior, e três esplanadas com 250 lugares. Há ainda um quiosque virado para o jardim da Praça Dom Luís, e, no interior, cinco bancas onde cinco chefs conceituados apresentam os seus pratos, além das bancas de várias marcas de produtos nacionais. A oferta gastronómica varia entre o marisco, pregos, hambúrgueres e gelados, entre outras especialidades.
A “nova” Ribeira também ganhou direito a esplanada, ou melhor, três esplanadas com capacidade até 250 pessoas sentadas. Estas estão viradas para a Praça D. Luís I onde foi montado um quiosque vermelho que, em breve, dará a provar «as melhores sandes do país», também elas criadas por chefes de renome.
Mantém uma zona das bancas tradicionais. E aqui continuam a marcar presença (em menor número, é certo) as peixarias, o talho, as bancas de frutas e legumes, o corredor das flores e muito mais. Apesar das mudanças nos espaços vizinhos, o caráter genuíno desta área mantém-se, que é como quem diz a simpatia dos vendedores, os pregões e os produtos fresquinhos.
Bibliografia: blogs “Ruas de Lisboa com Alguma História” e “ComJeitoeArte”
Fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, ComJeitoeArte, Casal Mistério
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