A "Obra Antituberculosa de Coimbra" nasceu de um plano gerado pela "Junta do Distrito de Coimbra", continuado pela "Junta de Província da Beira Litoral" a que presidiu o professor Doutor Bissaya Barreto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e figura de eminente projecção, eleito para o cargo em 15 de Dezembro de 1945, vindo a tomar posse a 2 de Janeiro de 1946.
Professor Doutor Bissaya Barreto (1886-1974)
«A criança que tem fome deve ser alimentada. A criança doente deve ser assistida. A criança em atrazo deve ser amparada. A criança que se desencaminhou deve ser reconduzida. A criança que é orfã, ou exposta, deve ser recolhida e tutelada.» Lema desta exposição "Obra Social nas Beiras", na Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa.
1928 1933 1935
Esta importante Obra concebeu, e pôs em execução um vasto programa de assistência de apoio e protecção à criança, combate à tuberculose, protecção à grávida, através de acções de higiene e profilaxia social paralelas, de educação, etc., implementadas num largo número de instituições (Casas da Criança, Dispensários, Preventórios, Asilos, Colónias, casa de Educação e Trabalho, escolas Profissionais, etc.).
"Preventório de Penacova" e "Casa da Criança Rainha Dona Leonor", em Castanheira de Pêra
Hospital Civil de Santo Agostinho em Vila Nova de Ourém
Hospital Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil, na Quinta dos Valles, perto de Covões concelho de Coimbra
Este programa assistencial desenvolvido durante o Estado Novo, através da "Junta de Província da Beira Litoral" e já anteriormente esboçado pela Junta-Geral do Distrito, decorreu da necessidade de transformar a acção reduzida e meramente caritativa que até então velava pelos mais necessitados, por acções com função de apoio social efectivo, junto dos tuberculosos, das grávidas, das crianças e dos idosos. Acções de verdadeira profilaxia que se tornavam tanto mais urgentes, quando comparados os assustadores índices de crescente mortalidade e os níveis de estagnação no desenvolvimento dos meios de combate á doença e flagelo social de todos quantos se tornavam iminentes alvos de contágio.
Assim dentro do espírito uno da Obra, distinguiram-se em Coimbra: a "Obra de Protecção à Grávida e Defesa da Criança", e a "Obra de Protecção à Infância". Da primeira fez parte, como guarda avançada, um Dispensário com consultas externas, que funcionou anexo ao "Ninho dos Pequenitos", onde se velava pela assistência pré-natal, prolongando-se os seus cuidados à 1ª e 2ª infância. Deste modo eram encaminhadas as mulheres grávidas, reconhecidas como indigentes, à Maternidade. Tratando-se de uma mãe tuberculosa, o seu recém-nascido era defendido do contágio sendo recolhido no "Ninho dos Pequenitos", onde permanecia até á idade de 3 anos.
Postais editados em 1942 pelo "SPN - Secretariado de Propaganda Nacional"
O "Ninho dos Pequenitos" era uma instituição onde viviam permanentemente crianças recolhidas com menos de 3 anos de idade, a partir do 1º dia de vida. Ali podiam ser alojadas as crianças em perigo de contágio tuberculoso ou cuja vida corria risco de qualquer espécie. Funcionava conjuntamente com a maternidade que a povoava, vestia os seus pequenitos pobres, e promovia consultas externas de pediatria que lhe alargava a campo de acção.
"Ninho dos Pequenitos"
Do mesmo modo, entravam no "Ninho" as crianças abandonadas, órfãs ou em perigo de vida pela ameaça da miséria. Esta instituição, com instalações sanitárias e de higiene regulares, possuía capacidade para 70 crianças. Daí, muitas transitavam para o "Preventório de Penacova", preparado para acolher as crianças até aos 10 anos de idade, atingidos os quais, tratando-se de rapazes, ingressavam na "Escola Profissional de Agricultura de Semide" recebendo aí uma contínua educação e a aprendizagem de um ofício até ao 18 anos. Tratando-se de raparigas, estas transitavam do Preventório para a "Casa de Educação e Trabalho D. Helena Quadros" (Na Quinta do Linheiro em Sever do Vouga) onde, da mesma forma, se ministravam diversos ofícios e misteres de utilidade doméstica, na sua maior parte, e noções de higiene e sanidade.
"Escola Profissional de Agricultura de Semide" e "Quinta do Linheiro" em Sever do Vouga
Preventório de Penacova
A 2ª Obra (de Protecção à Infância) procurou colmatar o terrível flagelo da mortalidade infantil através de programas de educação e acompanhamento de crianças expostas, filhas de indigentes, de pai ou mãe incógnitos, pais reclusos, dementes, etc., vivendo em situação de abandono ou em reconhecido ambiente de "perigo moral".
Procurou, assim, a Obra tudo fazer, começando desde logo pela educação higiénica das mães, ao mesmo tempo que criava creches e parques infantis, centros de educação física, aquilo que numa palavra se chamou de "Casas de Assistência Infantil" e onde se cuidaria dos menores até aos 7 anos de idade.
Aparecem assim: o "Jardim de Infância D. Maria do Resgate Salazar" e o "Parque Infantil Doutor Oliveira Salazar" (anexo ao "Ninho dos Pequenitos") e as Casas da Criança de Vila Nova de Ourém, de Estarreja-Salreu, de Santa Clara ("Rainha Santa Isabel" em Coimbra), de Castanheira de Pêra ("Rainha D. Leonor"), do Loreto ("D. Joana do Avelar" em Coimbra), dos Olivais ("D. Filipa de Vilhena" em Coimbra) e da Figueira da Foz ("Infanta D. Maria") e nas quais se instalaram Dispensários de Puericultura, Creches e Parques Infantis.
Mercê de contingências administrativas, pelas quais a Junta de Província da Beira Litoral passaria a abranger os distritos de Coimbra, Aveiro e Leiria, ficariam ainda a cargo desta Obra o “Asilo-Escola Distrital de Aveiro” (com secções diferenciadas por sexos, para crianças dos 7 aos 16 anos) e o Asilo Distrital de Leiria, também com secções diferenciadas para rapazes e raparigas dentro da mesma faixa etária e outra para idosos.
fotos in: Biblioteca Nacional de Portugal, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian
4 comentários:
Sou da Terra onde o Dr. Bissaya Barreto nasceu - Castanheira de Pêra. Um grande Português, como se pode apreciar neste post. Aquando da sua morte, após o 25 de Abril, entre outras atrocidades, até foguetes se atiram na sua terra, por gente ignorante, só porque foi colega do Dr. Salazar e seu amigo durante toda a vida.
Caro Anónimo
As pessoas vão, mas a obra fica.
É o que interessa. Muitas dessas pessoas decerto usufruíram, e continuam a usufruir, de muitos equipamentos por ele e por outros promovidos.
O mesmo se passou com centenas de portugueses aqui referenciados directa ou indirectamente neste blog.
Repito: na maioria dos casos ficaram as suas obras.
Os meus cumprimentos
J.Leite
Belíssima entrada a de hoje!
E era maçon, claro!
D. Graça Sampaio
Grato pelo seu comentário
Os meus cumprimentos
J.Leite
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