O cinema “Odéon”, na Rua dos Condes em Lisboa, foi inaugurado em 21 de Setembro de 1927 fruto de um projecto de 1923, pelo construtor Guilherme A. Soares, é hoje o cinema com mais história de Lisboa, tendo passado pela sua tela clássicos do mudo e do sonoro (Stroeheim, Lang, Tod Browning, Eisenstein, Cukor, Capra, etc.).
Em 20 de Setembro de 1927 o "Diário de Lisboa" escrevia:
«O cinema progride. Lisboa progride. De amanhã em diante, os amadores de cinema contam com uma nova casa de espectáculos, sumptuosa, elegante, confortável. É o "Odéon".
O novo cinema, que se ergue em frente do "Olympia", veio dar à Rua dos Condes um aspecto imponente de artéria moderna.
(...) O "Odéon", alem de oferecer uma grande comodidade para os espectadores, obedece a condições modernas de segurança, que atenuam o perigo em caso de sinistro.»
Na inauguração deste cinema em 21 de Setembro de 1927 foi estreado o filme mudo “Viúva Alegre “ de Stroheim, acompanhado pela orquestra de René Bohet.
Para a história deste cinema nos seus primeiros anos publico três páginas referentes ao “Ódeon” publicado no livro “Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa 1896 – 1939”, escrito por Manuel Félix Ribeiro.
Drogaria Ferreira, no lugar onde nasceria o Odéon
Obs: Clicar nas páginas anteriores para maior resolução e leitura.
A capacidade do cinema “Odéon” era de 691 espectadores distribuídos pela plateia, dois balcões e camarotes, sendo um deles suspenso.
O conjunto da sala de espectáculos, é formado pelos seguintes elementos: tecto em forma de quilha de navio, em madeira «pau Brasil», único no mundo, e que hoje se encontra intacto depois de anos de abandono; pelo lustre alemão de néons gigantes , que uma longa corrente vertical, comandada do tecto, faz deslizar até ao chão para manutenção; pelo luxuriante palco com moldura e frontão em relevo Art Deco (outro caso único); pela complexa teia de palco, com o seu pano de ferro; e pela série de camarotes, galerias e balcões em andares, tudo isto forma um exemplar assinalável, mais ainda por ser o último do género existente em Portugal.
Pela tela do “Odéon” passaram clássicos do filme mudo e do sonoro, a preto e branco e a cores, de Fritz Lang a Tod Browning, passando por Sergei Eisenstein, George Cukor e Frank Capra. Pelo seu palco passaram inúmeros actores e cantores, portugueses e estrangeiros, com realce para Laura Alves, Lola Flores, Hermínia Silva, António Calvário que protagonizaram peças de teatro radiofónico.
Filme “Bola ao Centro” de Jorge Brum do Canto, estreado no Odéon em 1947
«(...) Essas fitas, idênticas, aliás, a produções da mesma época de países como a Espanha, a Itália ou a Alemanha, alcançavam, de facto, êxito considerável junto do público, o que pode ser ilustrado por um episódio algo caricato ocorrido na sequência da estreia de Uma Hora de Amor (1964), de que eram protagonistas António Calvário e Madalena Iglésias, dois cantores que integrariam outros desses filmes durante quase uma década. Tantos foram os admiradores que os quiseram ver na noite de estreia do filme que a Presidência da República alertou os responsáveis do cinema Odeon, mítica sala de espectáculos onde, por norma, se exibiam melodramas portugueses, espanhóis e mexicanos e onde se apresentara Uma Hora de Amor, para o facto de nunca em Portugal deverem concentrar-se mais pessoas, fosse para que evento fosse, em número superior ao verificado aquando de qualquer presença pública do Chefe de Estado, na época o almirante Américo Thomaz (1894-1987).» in: Instituto Camões
O Doutor António de Oliveira Salazar, antigo Presidente do Consellho entre 1933 e 1968, também era um fã assumido do Cinema “Odéon”, tendo a gerência lhe garantido um camarote cativo - pelo menos até 1970.
Planta
Na segunda metade dos anos 80 do século XX, já propriedade da “Sociedade Parisiana, Lda.”, passou a exibir sessões de cinema pornográfico, e viria a encerrar definitivamente em 1993.
O cinema “Odéon” esteve em vias de classificação como Imóvel de Interesse Público de 2004-2009, altura em que o processo foi arquivado pelo Igespar.
O “Ódeon” actualmente
Recentemente, terá sido aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa, uma informação prévia conducente à transformação do “Odéon” em centro comercial e estacionamento subterrâneo para automóveis, apontando-se como elementos a preservar o seu tecto de madeira e o frontão de palco, ainda que em local a considerar; tornando assim irreversível a não reutilização do Odéon enquanto cinema ou teatro.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Cidadania LX, Citizen Grave, Arquivo fotográfico da CML, Portimagem
10 comentários:
As suas postagens são sempre de muito interesse histórico. A de hoje, Odeon, é daquelas que me transporta para a minha juventude, quando, nos anos 50, me deliciava com as artes do inesquecível Cantiflas, entre outros. Muito obrigado Amigo Leite e os meus cumprimentos.
Manuel Tomaz
Caro Manuel Tomaz
Não tem que agradecer.
Eu é que tenho que agradecer as suas amáveis palavras
Cumprimentos
J.Leite
Adoro esse blogue.
Continuacao de bom trabalho.
Caro
José Leite
Trabalho Fantástico e de grande qualidade o seu blog.
Obrigado
Luis Cláudio Mota
Caro Luis Mota
Muito grato pelas suas simpáticas palavras em relação ao meu trabalho
Os meus cumprimentos
José Leite
Algumas das fitas passadas no Odeon foram-no tambem no Palacio (depois Aviz, no Arco do Cego). Passava sobretudo fitas em espanhol (Paquita Rico, Pedro infante, Joselito...)que estavam longo tempo em cartaz. Recordo "Deus lhe pague" e uns anos depois o indiano "Prestígio Real"que foi um exito enorme. Muito apreciado pela juventude devido aos seus camarotes de frente que permitiam algumas actividades pouco cinéfilas, ainda que tórridas.
Os camarotes do Eden mais modernos tinham fecho e certamente terão sido construídos a pensar na privacidade dos ocupantes.
Não me recordo que o Cantinflas tenha passado pelo Odeon. Passou sim pelo Condes; debaixo do qual - do Condes - existiu o curioso Clube dos Makavenkos que reunia grandes gastrónomos e glutões.
Velhos tempos, velhos cinemas, belas fitas, outras nem tanto...
No Odeon. Pois! Varias fitas espanholas, argentinas, mexicanas - "DEUS LHE PAGUE", p. ex.. - fitas c/ PAQUITA RICO, PEDRO INFANTE; lembram-se por acaso,do indiano "PRESTIGIO REAL"? E, já agora dos camarotes de frente (não sei se havia outros), com portas com trincos que davam para o corredor e do que por ali acontecia.
Eu tenho a ideia de que o Cantinflas passava no Condes
JJ
Caro José Valarinho
Grato pelo seu comentário
Os filmes do Cantinflas passavam basicamente no Éden.
Ainda me lembro de ver os cartazes.
Os meus cumprimentos
José Leite
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