Restos de Colecção: Faróis Portugueses (2)

4 de setembro de 2011

Faróis Portugueses (2)

São inaugurados os faróis da Berlenga (1841), do Cabo de São Vicente (1846), do Cabo de Santa Maria (1851) e do Cabo Mondego (1858). Entretanto em 1849 é instituída uma nova orgânica, centralizando no Ministério da Fazenda, o programa de novas construções.

Farol da Berlenga, (1841)

O farol da Berlenga foi construído em 1841 e baptizado de “Duque de Bragança”. O farol utiliza, actualmente a energia acumulada durante o dia, através de vários painéis solares, para seu abastecimento de energia.
Neste farol esteve instalada entre 1897 e 1985 uma das duas lentes hiper-radiantes de Fresnel que equiparam os faróis portugueses, estando agora em exposição no “Polo Museológico da Direcção de Faróis” em Paço de Arcos. A segunda, encontra-se ainda instalada e em funcionamento no Farol do Cabo de São Vicente, no Algarve.

 

Farol da Berlenga, actualmente, e com os seus painéis solares

Selo do farol da Berlenga, pintado por Maluda, 1987

«Ao fundo do lado meridional acendeu-se de súbito uma luz vermelha, que desaparecera logo depois, para reaparecer daí a minutos. Era o farol da Berlenga (…). Na ilha moram sete pessoas, o faroleiro e a família, e dois velhos que constituem a guarnição do forte. Ali vivem de Verão e Inverno, cortados muitas vezes de toda a comunicação com Peniche pelas cóleras do Oceano, e alumiando contudo, eles os proscritos do mundo civilizado, para os caminhos do progresso, a estrada das ondas, essa larga via da civilização»    Pinheiro Chagas in: “Fora da Terra”

Farol do Cabo de São Vicente, (1846)

Em Portugal acendeu-se o primeiro farol na torre do Convento de S.Francisco no Cabo de S.Vicente em 1520.

O farol do Cabo São Vicente ou Farol de D. Fernando, foi mandado construir por D. Maria II, tendo entrado em funcionamento em Outubro de 1846. Era iluminado a azeite e o carácter da luz era de dois clarões de dois segundos a cada dois minutos de período, sendo que o alcance luminoso rondava as seis milhas náuticas.
 
O farol foi, depois, votado ao abandono por vários anos, atingindo um estado de quase ruína. Em 1897, devido ao estado precário do farol e do pouco rendimento da sua luz, iniciaram-se os trabalhos de remodelação. Assim, a torre foi aumentada em 5,70 metros e o aparelho óptico inicial foi substituído por um novo, mais avançado. As obras duraram 11 anos e em 1908 o farol começou a trabalhar com um novo aparelho, hiper-radiante.

Selo do farol do Cabo de São Vicente, pintado por Maluda, 1987

«Vindo de Ruão para Argel, em Setembro último (1932), no vapor Ange Schiaffino, amanheceu-nos no cabo de São Vicente, e tão perto de terra firme e dobrámos que estivemos, por assim dizer, à fala com a gente do farol.» Teixeira-Gomes in: “Regressos”

Farol do Cabo de Santa Maria, (1851)

O Farol do Cabo de Santa Maria data já de 1851. Este farol foi o primeiro em Portugal a receber um aparelho lenticular de Fresnel de segunda ordem com 700 milímetros de distância focal, que permitia à luz, branca, um alcance de 15 milhas, instalado no alto de uma torre cilíndrica de 35 metros.
 
Em 1922 a torre foi aumentada 12 metros, passando a medir 47 metros, ano em que o aparelho óptico inicial foi substituído por um de terceira ordem, grande modelo, de rotação, iluminado a um candeeiro de petróleo. Três anos depois, este candeeiro viria a ser substituído pela incandescência do vapor de petróleo. Em 1929, devido à acção dos elementos, diversas oscilações começaram a ser sentidas na torre, o que levou a obras de consolidação que passaram pela implementação de pilares ao longo de toda a altura do farol, no exterior da torre, e cintas de cimento armado.
 
          

Em 1949, é electrificado com a instalação de grupos electrogéneos, substituindo-se a incandescência de vapor de petróleo por incandescência eléctrica. Foram também montados painéis adicionais ao aparelho lenticular, dando-lhe a característica de aero-marítimo e instalado um rádio-farol. Já em 1995, foi levada a cabo uma obra para a consolidação da torre de grande envergadura, que obrigou ao desmantelamento da lanterna e provisória instalação num andaime. Esta intervenção levou cerca de um ano e em 1997 o farol é automatizado.

Farol do Cabo Mondego (1858)

A construção do farol foi ordenada por Portaria de 8 de Agosto de 1835 do Tribunal do Tesouro Público, sendo a obra confiada ao engenheiro Gaudêncio Fontana, que desde esse ano até 1847 dirigiu o serviço dos Faróis. A obra só seria dada por concluída em 1858, sendo já director dos Faróis Ipácio Vielle. Quem dirigiu os trabalhos foi o capitão-de-fragata Francisco Maria Pereira da Silva, que mais tarde viria a ser inspector dos Faróis do Reino.

A torre então construída tinha 17,72 metros de altura, cujo topo suportava um óptico lenticular de Fresnel de 2ª ordem, sendo o terceiro a ser instalado no nosso país depois dos faróis de  Santa Maria e Forte do Outão . O aparelho iluminante era um candeeiro mecânico de bombas alimentícias pelo sistema de Carcel, funcionando a azeite.

Ruínas do Farol de 1865

       

Constam os relatos que o dia 1 de Agosto de 1865 iluminou os mares do cabo Mondego, e que o farol do cabo Mondego só viria a apagar-se em 1922, quando entrou em funcionamento e actual farol.
Durante a segunda metade do século XIX, o conjunto não foi substancialmente modificado, apresentando necessidades de renovação em 1902, ano em que se efectuou o ‘Plano Geral de Alumiamento e Balizagem dos Portos e Costas Marítimas do Reino e Ilhas Adjacentes’. Em 1916 elaborou-se uma proposta de reforma que mereceu parecer positivo por parte do Ministério da Marinha.

Foi a partir desse momento que se procedeu à construção do actual farol, iniciando-se em 1917 e concluindo-se em 20 de Novembro de 1922. O conjunto edificado, harmónico, inclui uma torre central (de aproximadamente nove metros de altura) ladeada por dois corpos longitudinais, destinados a alojamento dos faroleiros e armazenamento de materiais.

Selo do farol do Cabo Mondego, pintado por Maluda, 1987

«um dos melhores que possuímos, não só pela construção do edifício e elegante torre, mas também por ter montado um belo aparelho lenticular de Fresnel de 2ª ordem». Ferreira, C.A.Pinto in: “Breve dissertação sobre Pharoes a propósito de uma visita à Exposição Universal de Paris em 1867”, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868.

Em 1 de Dezembro de 1865 principiou em Lisboa o ‘Serviço Quotidiano de Previsão do Tempo’ com elaboração de um boletim que era distribuído aos jornais diários. Aos anúncios de mau tempo ou temporal correspondia o içar dos respectivos sinais nas estações semafóricas do Arsenal de Marinha, Viana do Castelo, Nossa Senhora da Luz (Foz do Douro), Cabo Carvoeiro, Oitavos, Cascais, S. Julião da Barra, Cabo Espichel e Sagres.

Apesar do território de Macau já não ser pertença de Portugal, não queria de deixar de registar que no mais alto ponto de Macau foi mandado construir em 1637 pelo capitão António Ribeiro a fortaleza da Guia destinada a defender a fronteira com a China. O elemento fundamental do forte era o farol mandado construir pelo Governador de Macau Coelho do Amaral em 1864, entrando ao serviço em 24 de Setembro de 1965. É o mais antigo da costa chinesa. Trabalhava inicialmente a parafina e está electrificado desde 1910, depois de ter sido destruído por um tufão em 1874 tendo ficado inactivo por 36 anos . Ao lado ergue-se um mastro em que são içados os sinais de aproximação de tufão.

Farol da Guia , em Macau (1865)

 

fotos antigas in: Leuchtturme Portugals auf historischen Postkarten, Prof 2000

Infografias de Carlos Esteves e Jaime Figueiredo in: Expresso

Citações in: Livro “Faróis de Portugal” de João Francisco Vilhena e Maria Regina Louro” - Gradiva - 1995

Continuação da história dos Faróis Portugueses, na próxima semana no post intitulado “Faróis Portugueses … (3)”  na etiqueta ‘Faróis’

2 comentários:

Tânia Sécio disse...

Tem aqui um trabalho de pesquisa fantástico .
Parabéns, também adoro faróis.
um dos meus objectivos é fotografar um por um os faróis em Portugal.

José Leite disse...

D. Tânia Sécio

Grato pelo seu amável comentário

os meus cumprimentos

José Leite