A "Farmácia Durão" remontará ao século XVIII, altura em que o farmacêutico do Rei D. João V (1707-1750), João Gomes da Silveira, estabeleceu uma botica na loja, provavelmente onde esta farmácia sempre esteve instalada, na então Rua das Portas de Santa Catharina, 17, em Lisboa, actual Rua Garrett 90 e 92 (denominação e numeração actuais).
Foto em Abril de 1921
«Na pharmacia Dorão & Comp.ª , aos Martyres» (junto à igreja dos Mártires) em 15 de Outubro de 1850
Consegui saber que em 1854 o farmacêutico Martinho Alvellos Durão, já era o proprietário desta botica, tendo participado na "Exposição Industrial Portuense " de 1861, na classe de "Hygiene e pharmacia", conforme atestam documentos seguintes.
No "Almanach de Portugal" de 1854
Nota: na lista anterior de 1854 são mencionados José Tedeschi (1814-1904) e seu filho Vicente Tedeschi, que forma parentes de Luiz Maia Tedeschi, que chegou a ser dono da igualmente centenária "Farmácia Barreto" (1835), que ainda funciona na Rua do Loreto à Praça Luiz de Camões. Acerca da história desta farmácia consultar neste blog o seguinte link: "Farmácia Barreto". Já agora poderá consultar também outra farmácia centenária e que ainda funcona ali bem pertinho, na Rua do Alecrim, 52, junto à Praça Luiz de Camões, a "Farmácia Andrade" (1837).
Em 14 de Agosto de 1862, Martinho Alvellos Durão foi agraciado «com um grau na ordem da torre e espada, por serviços prestados durante a pandemia de febre amarella ...». O referido decreto dizia o seguinte:
O ministro e secretario d'estado dos negocios do reino assim o tenha entendido e faça executar. Paço da Ajuda, em 14 de agosto de 1862 .- REI .- Anselmo José Braamcamp.»
Martinho Alvellos Durão viria a falecer em 18 de Dezembro de 1865. Sucedeu-lhe na posse desta botica o farmacêutico Julio Reis Pereira, a que se lhe seguiu Jose Pereira Rodrigues.
18 de Junho de 1866
Passo a transcrever um artigo da autoria da então proprietária da "Farmácia Durão", - que não consegui saber seu nome, já que nem o artigo foi assinado - e publicado no "Boletim Informativo" nº 9, do "Grêmio Nacional das Farmácias" (1940-1975), e publicado em Outubro de 1970:
Já em 1963, em dois artigos nos nº 259 e 261 na Revista Mensal "Eco Farmacêutico" o nosso prezado colega Capitão Costa Santos, fez prova de que a minha farmácia é centenária.
Estou convencida que se trata talvez duna das mais antigas de Lisboa, pois já Pedro José da Silva na sua "História da Farmácia Portuguesa" dizia "Foi provavelmente nesta casa que esteve estabelecido o Farmacêutico de D. Joao V, João Gomes da Silveira". Ora D. João V reinou de 1707 a 1750.
Também no III volume do livro de Gustavo de Matos Sequeira "0 Carmo e a Trindade - Subsídios para a história de Lisboa" se faz referência a diversas farmácias que houve no Chiado de 1792 em diante. Torna-se porém difícil confirmar a sua localização uma vez que a numeração do prédio sofreu como é natural modificações. Sei no entanto que o nome de Rua do Chiado mudou para Rua Garrett em 1919 (5ª Conservatória do Registo Predial de Lisboa) e que a actual numeração do prédio nº 88 a 98 (números pares) era nº 15 a 18 (números seguidos) antes de 1855, pois segundo o mesmo autor Gustavo de Matos Sequeira - já neste ano se encontrava o farmacêutico Rodrigo Augusto de Carvalho no nº 90 da R. do Chiado.
Diz também Matos Sequeira no mesmo trabalho, que existiu a farmácia de Francisco da Costa Soares no nº 16 que em 1849 foi leiloada por execução (Diário do Governo de 10 de Janeiro de 1849).
É esta a referência mais antiga de que possuo prova.
Também se me afigura que no local onde actualmente se encontra a "Farmácia Durão" exerceram durante muitos anos a sua profissão mais de um farmacêutico pois Martinho Alvellos Durão já alf devia estar antes de 1855 pois num rótulo de medicamento especializado que tenho em meu poder se diz "Preparado na Pharmacia Durao e Cª. Aos Martyres nº 17 Lisboa. Ora como atrás digo, no referido ano de 1855 aparece o farmacêutico Rodrigo Augusto de Carvalho no nº 90 da R. do Chiado (numeração nova) que deveria corresponder ao antigo nº 16.
Em 1865 encontra-se no "Almanak Industrial Comercial e Profissional de Lisboa "(Imprensa Nacional) un anúncio da farmácia de Martinho Alvellos Durão na R. do Chiado nº 90 e 92 e na "Lista das Collectas lançadas pelo Grémio dos Pharmacêuticos com estabelecimento em Lisboa no anno de 1866" (Torre do Tombo), de que possuo fotocópia aparecem dois farmacêuticos colectados: José Maria da Silva Branco - no nº 90, e Martinho Alvellos Durão - no nº 92.
Estes os elementos de que disponho presentemente e que provam que esta farmácia é centenária.
De 1866 até ao presente sei dos seguintes colegas que foram seus proprietários:
José Pereira Rodrigues (1871 - 1885)
Augusto José Gois (1889 - 1893)
António Ferreira (1893 - 1918)
Júlio de Matos (1918 - 1921)
João Norberto Gonçalves Guerra (1921-1937) que ma trespassou.
A actual apresentação da Farmácia é do século passado interiormente, tendo só sido alterada a frontaria.»
Acerca do negócio das pharmacias, Maria Rattazzi no seu livro "Portugal de Relançe", publicado em 1882, dissertava ...
«Se os armazéns de modas se encontram a cada passo em Lisboa, as pharmacias pullulam : deparam-se-nos em todas as ruas, á direita, á esquerda, na frente, na rectaguarda. Terá este paiz mais doentes do que outro qualquer? Não. E uma necessidade do território. Se eu fosse portugueza e os meus instinctos me chamassem á vida industrial, preferiria sem hesitar a arte de Diafoirus: n'este paiz pode-se ter a certeza de enriquecer envenenando o próximo. Imaginem que rendoso commercio ! Um sujeito compra por 2$400 réis um barril de 50 kilos de magnesia purgativa, que vende, a rasào de 10 réis cada gramma, n'uma elegante caixinha de cartão pintado. De uma parte 4$800 réis de despeza, metade na magnesia, metade nas caixas; da outra 50,000 grammas a 10 réis; receita: 500$000 réis. Não ha nada melhor!»
A "Farmácia Durão" viria a abrir, em meados do século XX, uma secção de perfumaria e mantém, atualmente, a ambiência tradicional, com vários elementos do mobiliário da época da sua fundação. Entre as suas especialidades destacavam-se “Pó de Viscondessa”, "Pastilhas Genesicas", “Remédios para a solitária”, “Xarope Peitoral”, “Creme Virginal”, “Emplastro contra a dor ciática” e “Laranjada purgante”, além de produtos do "Dr. Scholl". Algumas personalidades da política e das artes faziam ali ponto de encontro, discussão e conspiração, na passagem do séc. XIX para o séc. XX. Em Novembro de 2012, foi integrada na cadeia de farmácias "Sacoor", tendo adoptado a nova designação de "Farmácia Sacoor" do Chiado.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)
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