Restos de Colecção: Jardim Mythologico

20 de janeiro de 2025

Jardim Mythologico

O "Jardim Mythologico" abriu pela primeira vez em 11 de Junho de 1851, na Rua Direita do Calvario. O empresário do recinto era Jose Osti, com a sua firma "Jose Osti & Companhia", o «pyrothecnico da epocha», que tinha, alegadamente, introduzido a indústria dos fósforos em Portugal. A concessão do «fabrico de palitos phosphoricos» tinha-lhe sido concedida em 3 de Julho de 1843 com término em 3 de Julho de 1855.

«José Osti era um italiano engenhoso e cheio de iniciativa, popularíssimo na capital que festejava e aplaudia sempre as suas habilidades pirotécnicas. Foi o primeiro que introduziu em Portugal a indústria dos fósforos, montando uma fábrica desses utilíssimos cooperadores das delícias do fumar, no sítio da Cruz de Pau.
Um dia, em julho de 1842, pegou fogo na fábrica, e os fósforos, cumprindo o seu dever, arderam todos.» in: "Depois do Terramoto" Subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa,
Vol II, de Gustavo de Matos Sequeira (1917).

2 de Agosto de 1844

10 de Junho de 1851


Planta de Novembro de 1857 com o local onde funcionou o "Jardim Mythologico" (área delimitada a vermelho)


 Uma ideia aproximada do ambiente no "Jardim Mythologico". Aqui em Londres, "A ball at Vauxhall garden in London " , pintura de Isaac Robert & George Cruikshank 

Este recinto veio substituir o "Tivoli da Flor da Murta", que tinha começado a funcionar em Julho de 1835, na Rua Flor da Murta e que tinha vendido em leilão todos os seus moveis e utensílios em 1841.

25 de Julho de 1835

Em 7 de Junho de 1851 no  "A Revolução de Setembro":

«A «nova Cintra " ainda ficava longe; por isso improvisou-se outra Cintra, tão perto como é daqui a Santo Amaro, no caminho da carreira do omnibus para Belem, na quinta dos condes. de S. Lourenço. Denomina-se «Jardim Mythologico», e parece que ha já lá coisas fabulosas. Tem suas similhancas, porem muito melhoradas com o antigo «Tivoli». Ha labyrinthos, jogos, kioskes, lagos, e fogos de artificio Osti, sendo o primeiro na noite de Santo Antonio; montanha russa, para os cavalleiros treparem etc. Para complemento das recreações que naquelle bosque fabuloso se vão patentear ao publico, o Matta, o nosso Savarin, publicou hoje o seguinte cartel:
João da Matta, com casa de pasto no Caes do Sodré, tendo visto o Jardim Mythologico na rua direita do Calvario, não só lhe achou belleza, mas tambem capacidade no local, para ahi estabelecer casa de pasto, tendo bellas salas e bons gabinetes para o dito fim, e por isso annuncia aos amadores, que na quarta feira 11 do corrente mez, installará a dita casa com mesa redonda a 960 réis cada pessoa, ás quatro horas da tarde; devendo só neste dia ser por bilhetes os quaes se acharão á venda na sua casa do Caes do Sodré até á noite do dia 9. Dahi por diante haverá todos os dias de comer por lista, e quem quizer algum jantar naquelle sitio, o encommendará, nas vesperas, na sua casa do Caes do Sodré. Tambem na mesma quinta se acha um armazem de vinhos com os competentes petiscos.
A inauguração annuncia-se para domingo. Julga-se que a concorrencia será relativamente tão numerosa como a da exposiçao de Londres. Que productos de industria … não teremos de vêr neste Hyde Park da occiosidade e do janotismo?»


5 de Julho de 1851


Na revista "A Semana" de Setembro de 1851


4 de Outubro de 1851

Por outro lado, a revista "A Semana" de Agosto seguinte ...

«Pique-nique aristocratico. - O 'Jardim mythologico', continua a ser frequentado pela boa companhia, graças ao decoro e policia que os empresarios tem sabido manter, ainda nos dias e noites de maior afluencia.
O Matta, depois que regenerou a sua cosinha e copa, tem ganhado mais popularidade. O 'jardim' é um logar mui asado para ir jantar, ou, ao uso burguez. merendar. Tem por isso havido alli já muitos banquetes de nomeada.
O de quarta-feira promettia ser fallado, pelo grande numero e qualificação das pessoas. Faltaram porem muitas, e ainda assim esteve magnifico. Foi um 'lanche-dansante', que principiou ás seis horas da tarde, e acabou á meia noite. Parece que o numero das polkas, mazurkas, shottises, valsas e contradansas excedeu o dos guisados. A sala do baile (a que no diccionario do jardim mythologico se chama mansão das musas), estava vistosamente illuminada, e todo aquelle extenso vergel banhado do mais delicioso luar.
No numero dos convivas, contavam-se as sras. - duqueza da Terceira - D. M. Amalia Figueira - D. M. Ponte - Brederodes - Cantagallo - Asseca - Pinto Bastos, etc. Os srs.
- duqne da Terceira- visconde de A. Garrelt - Asseca - A. da Cunha - D. Jose Coutinho - Pinto Bastos - Lopes de Mendonça - Biester etc.»


1853


1 de Outubro de 1853


Mais uma ideia aproximada do ambiente no "Jardim Mythologico". Aqui em Paris, "Le Bal Public Élysée-Menilmontant " , pintura de Jean  Béraud 


16 de Julho de 1853

«Que seria de nós se o jardim mythologico não succedesse a S. Carlos, os banhos nas praias, aos bailes do Club, os fogos, monstros e o sol electrico ás harmonias de Donizetti, e a agua de Cintra ao caffe do Marrare? O que seria de Lisboa se esta maravilhosa invenção das exposições não viesse quebrar a furia incessante e monotona dos philarmonicos? Não se me dava de apostar que é muito menor o numero de desgraças a que a humanidade anda exposta, depois que se inventou expor methodicamente.» In: "A Semana" (Julho 1852)

Entretanto, Jose Osti inaugura em 1 de Junho de 1854, a "Floresta Egypcia" nos jardins do palácio dos Morgados de Alagoa (edificado entre 1757 e 1762), na, então, Rua Direita da Fabrica das Sedas (actual Rua da Escola Politécnica), logo a seguir ao edifício da "Real Fábrica das Sedas". Os dois recintos continuarão a funcionar em simultâneo, mas apenas até final de Setembro deste ano de 1854, altura em que encerra em definitivo o "Jardim Mythologico".

12 de Agosto de 1854

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca Nacional Digital, Art Renewal CenterDIGIGOV

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