O fotógrafo e pintor Augusto Bobone (1852-1910), nasceu no Porto, na freguesia de Santo Ildefonso, estudou pintura na Academia de Belas Artes de Lisboa, curso que concluiu com louvor, e casou com Elisa da Glória Cabral de Albuquerque de Sacadura do Amaral, igualmente de Santo Ildefonso. Tiveram três filhos, Coríntia, Crisália e Octávio que viria a suceder ao pai na direção da casa fotográfica após a sua morte infeliz por congestão diabética ocorrida a 11 de Maio de 1910.
Augusto Bobone, sucedeu a outro grande fotógrafo, Alfred Fillon (1825-1881), proprietário do estúdio fotográfico da rua Serpa Pinto, número 87, e veio a receber o alvará de fotógrafo da Casa Real de Portugal, que acumulou com o título de fotógrafo da Casa Real de Espanha. A qualidade do seu trabalho fotográfico foi amplamente recompensada com a obtenção de vários grandes prémios, diplomas e medalhas de ouro e prata em exposições nacionais e internacionais, sendo de destacar a medalha de ouro da "Exposição Universal de Paris", em 1900. A sua obra foi virada sobretudo para o retrato mas não deixou de fotografar vistas, tendo também colaborado na preparação da representação portuguesa à "Exposição Universal de Chicago" de 1893.
A qualidade dos retratos do estúdio A. Fillon, em particular de actores e personalidades, conseguiu deixar uma marca importante na sociedade portuguesa do seu tempo e foi por isso, e com naturalidade, que na sequência da morte acidental de Alfred Fillon (1825-1881), em 27 de Agosto de 1881, - morte devida a picada de insecto venenoso aquando de uma excursão ao Bussaco - o seu sucessor à frente do atelier, Augusto Bobone, herdou a preferência dos actores e dos artistas, na ocasião de se fazerem retratar, situação de privilégio comercial a que Bobone deu continuidade e se prolongou durante a derradeira década do século XIX e primeiros anos da seguinte.
Alfred Fillon (1825-1881)
O estúdio Bobone foi criado por Augusto Bobone (1852–1910), na sequência da compra do antigo estúdio de Alfred Fillon em 1889, que também realizava exposições. Situado na Rua Serpa Pinto, 79-87, Lisboa, foi ainda, no século XIX, um local de referência cultural da cidade de Lisboa como galeria de arte e com ligações a alguns artistas. No século XX, o seu filho, Octávio Bobone manteve o estúdio e a tradição da galeria de exposições, bem como o prestígio do mesmo.
«Regressa hoje de Paris, onde foi visitar a exposição, o sr. Bobone, o distincto photographo que tão zelosamente tem sabido conservar os antigos creditos da casa Fillon, em cuja propriedade sucedeu.» in. "Diario Illustrado", de 13 de Outubro de 1889.
1900
Num artigo publicado no "Almanak Palhares" para 1900, era assim descrito o atelier de A. Bobone:
E’ no atelier da rua Serpa Pinto que se photographa a familia real portugueza; é ali que, geralmente, se photographam as notabilidades extranjeiras que visitam Lisboa.
Em resumo aquella casa é sem hesitação alguma a primeira da nossa capital e está a par das primeiras que existem nas primeiras capitaes do mundo. Quem visitar o atelier do sr. Bobone e examinar as photographias expostas notará que em tudo quanto ali se vê se revela o espirito culto e refinadamente delicado d’um artista de raça. Na simples disposição dos quadros e em mais miudos pormenores se colhe esta boa impressão. Cada photographia é um depoimento indiscutível do talento e alto valor do sr. Bobone.
E ha ainda mais: o sr. Augusto Bobone é um investigador que tem estudos muito sérios mesmo no campo da sciencia. São muito notáveis os seus trabalhos de radiographia a que se dedicou logo que o celebre doutor Rontgen deu a publico as suas interessantes descobertas da photographia attravez dos corpos opacos.
O sr. Bobone, de collaboração com algumas das nossas notabilidades medicas, fez uns brilhantes ensaios que são uma grande gloria do laureado artista. Publicou um folheto sobre os Raios X, onde dava conta dos seus estudos até ao anno de 1897, data da apparição d’este livro curiosissimo e digno de lêr-se.»
Foi no "Salão Bobone" que os os primeiros contornos do movimento modernista, iniciado com as acções artísticas decorridas entre 1915 e 1917 em torno da revista "Orpheu" que pretendia romper com o passado, tornou-se bastante significativo no quadro sociocultural do país. Estes fizeram-se sentir a partir da "Exposição Livre", em 1911, realizada no "Salão Bobone", em Lisboa, organizada por Manuel Bentes (1885-1961) e sob o lema: «Queremos ser livres! Fugimos aos dogmas do ensino, às imposições dos mestres (…)». Conforme afirma José Augusto França “«Exposição Livre», em 1911 (…), no salão de exposições artísticas do famoso fotógrafo Bobone, na Rua Serpa Pinto.
Exposição de Maria Adelaide Lima Cruz (1908-1985) na foto com sua mãe e Mestre Carlos Reis (1863-1940), em 1928
Exposição de Expo Júlio de Sousa (1907-1966), com José Tagarro (1902-1931) e Lázaro Velloso (1897-1993), em Abril de 1929
Mas ... por outro lado, em 20 de Janeiro de 1924, José Rodrigues Miguéis escrevia na revista "Seara Nova", a propósito da exposição "Ar Livre" levada a cabo no "Salão Bobone" :
Ainda desta vez as nossas impressões se confirmaram: meia duzia de artistas que, mal enchendo uma sala pequeníssima, não chegam a produzir um total de seis quadros que mereçam um aplauso sincero e vivo. Que desalento enorme, olhando aquelas telas quasi sempre inexpressivas, cheias de velhos motivos, de processos velhos, com molduras imitando o velho - e na sala caduca e senil!»
Bibliografia: "Imagens da saudade: a fotografia de Fillon de "O Contemporâneo" à carte de visite" de Paulo Ribeiro Baptista