O "Teatro Sousa Bastos" foi inaugurado em 15 de Junho de 1914, na Rua Joaquim António de Aguiar, na Alta de Coimbra. Era seu proprietário Manuel Francisco Esteves, sobrinho do escritor, dramaturgo jornalista e empresário de teatro António de Sousa Bastos (1844-1911).
Entrada do "Teatro Sousa Bastos", à esquerda na foto
Nota: Foi muito difícil, para não dizer praticamente impossível, obter fotos exteriores e interiores deste teatro. Talvez devido à sua localização muito escondida e apertada ... Restam a primeira foto (da entrada), e os projectos que já dão uma ideia dos exteriores e interiores.
Este Teatro teve origem no "Theatro D. Luiz I", ex- "Theatro de S. Cristovão", que tinha sido inaugurado em 22 de Dezembro de 1861, com a peça "O Dia da Redempção" e edificado no mesmo terreno. Era um teatro «com más condições defeituoso, desprovido de elegância, e suas dependência são muito acanhadas». E Sousa Bastos, no seu "Diccionario do Theatro Portuguez" acrescentava: «era um bom teatro bastante bem frequentado (...). Nunca foi restaurado e por isso foi mandado fechar como perigoso á segurança pública. Alli representaram os nossos melhores artistas e todas as grandes celebridades que nos visitaram na epocha em que o theatro funcionava»
"Gazeta de Coimbra" em 15 de Janeiro de1913, título do artigo: Teatro D. Luis
«Chamemos-lhe assim, visto não sabermos ainda se ele ficará sendo ou não Teátro Sousa Bastos. As obras vão adiantadas, esperando-se que a inauguração se faça ainda nesta época. O pano de bôca foi pintado por um pintor de Lisboa,
sendo o sr. Antonio Elisêu encarregado da pintura da sala, que terá só duas cores: branco e dourado.
Dizem-nos ter sido comprada pela emprêsa do teatro a casa contigua, que pertenceu ao sr. Monteiro de Figueiredo, para café e salão.
Este teatro ficará com uma lotação superior a 1:200 pessoas e com logares para todos os preços.
Teatro confortável, o publico espera ancioso pela sua inauguração.»
Fachada inicial com que foi inaugurado o "Teatro Sousa Bastos"
"Gazeta de Coimbra" em 26 de Janeiro de 1913, título do artigo: Teatro D. Luis
«Temos de chamar-lhe assim emquanto não tiver nome oficial.
Vizitamos ha dias esta nova casa de espectáculos, que provavelmente não poderá ser inaugurado antes de Outubro.
Estão já sendo rebocadas as paredes do palco e dados os primeiros traços de pintura no tecto.
Deve ficar um teatro muito bonito e muito comodo e com lotação talvez para 1:200 pessoas.
Não se trata de uma obra de fancaria, porque os trabalhos de carpinteiro são bons, a principiar pelo tecto do átrio da entrada principal, com enquadramentos de madeira.
As grades dos camarotes são de ferro forjado e muito elegantes.
Haverá logares para todos os preços, ficando a gerai junto ao tecto e aos lados dela alguns camarotes para preços mais inferiores. Haverá também uns logares de varandas para preços mais baratos.
Na plateia três ou quatro ordens de logares; retretes e saídas em todas as ordens; magníficos camarins, etc.
O teatro bem iluminado, pintado a branco e dourado e com um bonito pano de bôca deve ficar lindíssimo.»
"Gazeta de Coimbra" em 19 de Março de 1913: Teatro Sousa Bastos
0 sr. António Èlisêu está pintando já o tecto do Teatro Sousa Bastos, que deve ser inaugurado em meados de Outubro.
Tivemos ocasião de ver o projecto dessa pintura, bem como do arco do proscénio e podemos garantir que ficará um trabalho de incontestável merecimento e de muito gosto.
O pano de bôca, pintado em Lisboa, e uma vista de jardim, já se encontram em Coimbra. Brevemente chega a esta cidade um maquinista do Teatro da Républica, da capital, para a montagem do palco.»
Aquando da inauguração do "Teatro Sousa Bastos", a "Gazeta de Coimbra" em 17 de Junho de 1917 escrevia:
«O Teatro Sousa Bastos, é uma explendida casa de espectáculos que faz honra ao seu proprietário o nosso amigo sr. Manuel Francisco Esteves, que não se poupou a sacrificios para dotar a nossa terra com um teatro belo, confortável e elegante, satisfazendo a todas as condições de segurança.
São tão raros os homens de iniciativa que, quando aparece um, como Manuel Francisco Esteves, arrojado e empreendedor, são poucos os elogios que possam fazer-lhes. Conhecedor dos segredos do teatro, extremamente delicado e atencioso, o sr. Esteves não se importou de demorar por muito tempo a inauguração do seu teatro, só pelo empenho de que saisse uma obra perfeita, onde o publico se sinta bem pela vista e comodidade.
E conseguiu-o.
O teatro, profusamente iluminado a luz electrica, é dum efeito deslumbrante.
Poucos teatros da provincia o poderão igualar e até mesmo em Lisboa e Porto não ha muitos que o suplantem.
A inauguração foi feita, como devia ser, pela companhia do Teatro Avenida, de Lisboa, de que faz parte Palmira Bastos, a primeira artista portuguesa de opera cómica e viuva de Sousa Bastos, que deu o nome ao novo teatro.
Foi uma noite de festa, de brilho e de animação. O publico que enchia completamente a casa, estava radiante, sentia-se ali bem.»
Anúncios publicitários de 13 e 17 de Junho de 1914
António de Sousa Bastos (1844-1911)
Após a inauguração do
"Teatro Sousa Bastos" entra em concorrência direta com o
"Teatro Avenida", que monopolizava os espectadores. O animatógrafo, seria explorado por uma empresa constituída por Juvenal Paiva e Manuel Ferreira Carvalho, a
"Carvalho & C.ª ".
Os preços das entradas, destinados a competir com o "Teatro Avenida", não possibilitavam grandes lucros e, assim, a empresa "Carvalho & Cª " é extinta apenas quatro meses após a sua constituição. Consumada a dissolução a 16 de Fevereiro de 1915, logo a 6 de Março seguinte o "Teatro Sousa Bastos" retomava o tipo de programação que caracterizara a sua inauguração cerca de um ano antes. Era novamente o proprietário, Manuel Francisco Esteves, que geria os destinos da casa. A 24 de Março retomavam-se as sessões de cinematógrafo, com filmes distribuídos pela "Empreza Cinematographica Internacional".
Em 1 de Janeiro de 1916 José Guilherme dos Santos, sócio de Manuel Esteves fica como único proprietário do "Teatro Sousa Bastos", e reabre em 17 de Fevereiro de 1916. Pouco tempo depois a gerência fica entregue a Luís Lomas. Quarta gerência em dois anos !... E não ficou por aqui, já que em 20 de Maio de 1917 reabria , de novo, com nova gerência: a firma "G. Lemos & Santos" era a nova concessionária. E a propósito o jornal "A Gazeta de Coimbra" informava:
«Uma nova empreza sob o nome G. Lemos & Santos principia a explorar o Teatro Sousa Bastos.
Sabemos que ela está resolvida a oferecer ao publico os melhores films e os mais notaveis numeros de variedades.
Resta que auxiliem a nova empreza para que ela possa arcar com as dificuldades que vai assumir. Doutro modo o referido teatro terá de fechar as suas portas e deixará de haver a concorrencia de oficiais do mesmo oficio, que se torna precisa para que o publico não seja explorado e mal servido.»
2 de Maio de 1917
20 de Maio de 1917
Em Maio de 1920, José Guilherme dos Santos morre e a propriedade do teatro passa para a viúva Emília Augusta dos Santos, depois de adquirir as quotas aos restantes herdeiros, o que aconteceria em Fevereiro de 1921.
Em 30 de Março de 1932 o, já, "Cine-Teatro Sousa Bastos", já na posse da "Sociedade Instrutiva Ozanan", é vendido à empresa "Coimbra-Films". A 2 de Junho de 1932 é debatido na Assembleia Municipal o pedido de licença para efectuar obras no edifício para adaptação ao cinema.
28 de Abril de 1934
Janeiro de 1936
24 de Janeiro de 1946 a sociedade proprietária do "Cine-Teatro Sousa Bastos" pede licença para fazer obras de modernização naquela sala de espectáculos e, a 21 de Novembro, para fazer alterações ao projecto que havia apresentado. Esta reforma é dirigida pelo arquitecto alemão Willi Braun, e tem como objectivo modernizar o edifício, actualizar o seu formulário estético e adaptar a sua sala de cinema.
Exterior e fachada renovados
Em termos de ornamentação e elementos decorativos, pequenos pormenores sofreram alteração. Na fachada desaparecem as máscaras teatrais que se encontravam no topo das bandas laterais e o pequeno frontão com indicação da data em numeração romana. A platibanda de linhas curvas é alisada e os vãos centrais de modulação radial e curva também são substituídos por linhas rectas. No rés-do-chão, a porta para o café, à esquerda, é tapada.
Vista aérea da localização do "Teatro Sousa Bastos" (dentro das elipses desenhadas)
O interior sofreu remodelações mais amplas e estruturais ficando o teatro equipado com plateia, balcão, e alguns camarotes em vez das três ordens que anteriormente possuía. As paredes das escadas de acesso ao balcão são substituídas por grades de ferro e é dada uma nova localização às instalações sanitárias dos homens. Na plateia, é aumentada a distância entre as filas, e o tecto da cabine de projecção é elevado para colocação da máquina a nível mais alto. No bar do primeiro andar, verifica-se o «desaparecimento das escadas de serviço interno para maior largueza (...), rectificação da parede do lado da rua; desaparecimento da Tabacaria devido à sua má localização».
Após 1974 passa a exibir filmes westerns e pornográficos ... Em 7 de Março de 1982 o "Cine-Teatro Sousa Bastos" é trespassado à "A Bonifrates - Cooperativa de Produções Teatrais e Realizações Culturais, C.R.L.", que tinha sido fundada em Coimbra, em 1980.
Devido a dificuldades de vária ordem o "Cine-Teatro Sousa Bastos" encerraria, definitivamente, em 1984, já que a empresa proprietária não tinha possibilidades de fazer obras de restauro, manutenção e conservação.
Em 1992 uma sociedade composta por um promotor imobiliário de Leiria - Joaquim Pereira Órfão – e Mendes da Silva, que tinha sido Presidente da Câmara Municipal de Coimbra entre 1983 e 1986, compra o edifício com vista à construção de um empreendimento comercial e imobiliário e ainda nesse ano entra na autarquia o primeiro projecto de reformulação do edifício. Nada ficou decidido e até hoje ainda não foi tomada nenhuma decisão quanto ao fim a dar ao mesmo ...
Aspecto actual, em imagem deste ano, via Google Maps
Bibliografia: Foi, também, consultada (e de onde foram retiradas algumas passagens e os projectos) a Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura "Sousa Bastos - Recupoeração e Conversão do Antigo Teatro", da autoria de Rui Filipe Alves Ferreira - FCTUC - Coimbra 2011
1 comentário:
Muito interessante este artigo sobre o esquecido e ainda não demolido Teatro Sousa Bastos.
Tenho pena que não refira a obra de Lígia Gambini " Teatro Sousa Bastos : as primeiras as décadas de história" que tem documentação exaustiva sobre o tema.
O presente artigo, como aliás a imprensa da época, não faz jus à importância do 'outro' proprietário do teatro - José Guilherme dos Santos - esse sim verdadeira alma da sua criação e financiador do mesmo, chegando a endividar-se e a assumir a sua gerência para o manter em funcionamento.
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