A "Parreirinha de Alfama", localizada no Beco do Espírito Santo, no bairro de Alfama, em Lisboa, começou a sua actividade como casa de fados em 1950, pela mão da fadista Maria Argentina Pinto dos Santos (1926-2019) e seu companheiro Alberto Rodrigues.
Esta casa de fados, também conhecida pelo "Cantinho da Amália", teve origem numa carvoaria, tasca e casa de pasto, que, além de frequentada por pessoas do bairro e marinheiros, servia refeições aos fragateiros (homens que trabalhavam nas fragatas do Tejo).
A história desta casa de fado confunde-se com a história de Argentina Santos, que nela passou a sua vida desde os 8/9 anos de idade ... Argentina Santos começou tarde a cantar. Foi para a "Parreirinha de Alfama" trabalhar, mais tarde tornou-se cozinheira, e aí, começou a cantar o fado aos 24 anos de idade. Oficialmente, não apresentava fados, mas aconteciam tertúlias, e ali se juntavam muitos fadistas para petiscar e cantar e, a pouco e pouco, criaram o ambiente do restaurante que ainda hoje se mantém. Numa dessas vezes a participação do fadista Filipe Pinto, originou que uns jornalistas fizessem referência aos bons petiscos que ali se serviam e ao fado se cantava.
Argentina Santos (1926-2019)
Muitas das letras que cantou foram escritas pelo seu companheiro, Alberto Rodrigues, dono da Parreirinha desde 1950, e a quem a fadista haveria de suceder à frente da casa em 1963, depois da sua morte. «Quem mais escrevia para mim era o homem com quem eu vivia, ele escrevia muito bem. Lia-me a letra e eu dizia: Esta não dás a mais ninguém, é para mim.»
O jornal "Ecos de Portugal" de 1 de Maio de 1952, publicou um artigo acerca da "Parreirinha de Alfama", intitulado "O Fado renasce em Alfama ... Na "Parreirinha", sob a gerência de Alberto Rodrigues", do qual retirei as seguintes passagens:
E ninguém tem medo de Alfama! Os estrangeiros menos que ninguém ... Por ali têm passado fidalgos, toureiros, artistas, diplomatas, ministros e até ... majestades!...
Orgulha-se a "Parreirinha" de ter acolhido Amália Rodrigues, Alma Flora, Alberto Ribeiro, Joaquim Pimentel, Alzirinha Camargo, Linda Baptista, Ana Maria Gonzalez, e tantos outros grandes nomes - uma autêntica parada de vedetas internacionais!
Um recantinho da sala de jantar, presta humilde mas ternurenta homenagem a uma extraordinária fadista. É o "Cantinho da Amália" - cuja evocação se faz sempre no espírito de todos. (...)
Tudo é espontâneo e fresco nesta casinha fresca e garrida. Bem empregado o esfôrço de Alberto Rodrigues que dotou Alfama da casa que Alfama merece. E não deve dar o tempo como mal empregado quem for à "Parreirinha" porque, como aconteceu a nós, fica com desejos de voltar ...»
«A sua Parreirinha de Alfama foi cenário de muitos afectos: por lá passaram grandes poetas do fado e compositores que lhe ofereceram todo o reportório que possuía. E, consciente da importância de ter um repertório próprio, Argentina Santos fazia questão de cantar temas exclusivos, à excepção do fado "A Lágrima", de Amália Rodrigues, e do "Lisboa Casta Princesa", do repertório de Ercília Costa, mas popularizado por Lucília do Carmo.»
Por esta casa de fados passaram quase todos os grandes nomes do fado, como: Amália, Alfredo Marceneiro, Filipe Pinto, Mariana Silva, Tristão da Silva, Beatriz da Conceição, António Mourão, Lucília do Carmo, Celeste Rodrigues, Berta Cardoso, Júlio Vieitas, etc.
Argentina Santos, acompanhada por Armandinho Maia e José Maria de Carvalho, nos finais dos anos 70 do século XX
Fotos in: Museu do Fado, Lisboa no Guiness, Fadistas Como eu Sou, Fado Cravo, Arquivo Municipal de Lisboa, Parreirinha de Alfama
1 comentário:
Mais um excelente e pormenorizado poste.
E mais uma "pérola", no Anúncio '...todas as noites até de madrugada, ...ambiente castiço, reunindo-se ali as melhores famílias da capital'. Não seria bem assim, as melhores famílias da capital não se reuniam ali todas as noites até de madrugada.
A grande Argentina Santos, embora de pequena de estatura, era da Mouraria e tinha sotaque de r gutural à setubalense e lhe dava uma voz castiça a cantar o fado, que tanto o primeiro como o segundo marido não a deixavam cantar.
Cumpts.
Valdemar Silva
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