O pequeno comboio "Transpraia" ligando a Costa da Caparica à Fonte da Telha, foi inaugurado em 29 de Junho de 1960. Era sua proprietária a firma "Transpraia - Transporte Recreativos da Praia do Sol, Lda." fundada em 8 de Março de 1960 pelos dois industriais Canas Cardim e Casimiro Pinto. Este último viria a ficar como administrador.
A história do apelidado comboio miniatura ou comboiozinho "Transpraia" remonta a um periodo em que a Costa da Caparica não era ainda um destino de eleição e conhecida um pouco por todo o mundo, pelos seus belos areais. E esse é o principal facto que origina o aparecimento deste emblemático marco turístico. Nos anos 50 surgem dois industriais da região, Canas Cardim e Casimiro Pinto que decidem apostar no turismo.
Surge assim o primeiro projecto para instalar uma linha de caminho de ferro ao longo do areal, ligando a Costa da Caparica ao Cabo Espichel, numa distância superior a 20 quilómetros e que iria colocar fim ao isolamento de toda a orla costeira, bem como dotar a região de um produto turístico ímpar e atractivo. O primeiro troço Costa da Caparica - Praia da Riviera seria inaugurado em 29 de Junho de 1960, como já foi referido.
Nesse mesmo dia o jornal "Diario de Lisbôa" noticiava:
Depois da bênção do comboio pelo padre Pedro de Monte de Caparica, os convidados tomaram lugar no comboio para um pequeno passeio.
Após o passeio a 'Transpraia' ofereceu um almoço aos seus convidados, durante o qual foram trocados calorosos brindes.»
O projeto original do "Transpraia" previa um trajeto superior a 20 km, prolongando-se para sul a partir da Fonte da Telha, passando a barra da Lagoa de Albufeira, e chegando às praias próximas do Cabo Espichel. Mas este prolongamento já fora posto de parte aquando da inauguração do segundo troço, Praia da Riviera-Fonte da Telha, em 20 de Julho de 1963. O primeiro troço do "Transpraia" tinha apenas 3,8 km, com início na Avenida Salazar, na Costa da Caparica até ao local conhecido por Foz do Rego, onde se situavam as oficinas da empresa.
Este pequeno comboio era constituído são três as máquinas a diesel "Mercedes-Benz" - adquiridas á empresa "Cristopher Schoter" - que puxam composições constituídas por quatro carruagens do tipo Imperial, de acesso aberto pelos estribos laterais a sete bancos de quatro lugares corridos. O sistema "Decauville", que este comboio usa, com 60 cm de bitola, e com carris adquiridos na empresa luxemburguesa "Columeta" torna-o uma raridade singular apreciada pelos amantes de comboios, mas não só.
Publico, de seguida, um artigo histórico acerca deste «curioso caminho de ferro recreativo», publicado pela revista "Boletim da CP" de Setembro de 1963.
As viagens deste comboio chegaram a ser animadas por artistas como Paulo de Carvalho, Helena Isabel, Herman José, Vítor de Sousa que apareciam e cantavam.
Durante mais de 40 anos, esta ligação manteve-se inalterada, correspondendo ao percurso mais extenso realizado pelo "Transpraia", representando uma distância de cerca de nove quilómetros de extensão, servindo 20 paragens, das quais quatro podem considerar-se estações pois permitem a realização de cruzamentos e manobras, uma vez que dispõe de duas vias. Operava durante a época balnear, entre Junho e Setembro, habitualmente entre as 9 e as 20 horas, com uma frequência de 30 minutos. Nos primeiros anos o horário de Verão era das 8:00 às 21:00 horas, com intervalos de meia hora.
Segundo o jornal "Almadense" ...
«O terminal norte, à Rua dos Pescadores, no centro da Costa de Caparica - “Praia do Barbas” - foi eliminado do trajecto em 2007, na sequência das obras do Programa Polis que levaram à demolição de cerca de um quilómetro de linha; a esta deslocação seguiu-se a redução do número de passageiros em 60% no Verão de 2007 e à perda dos contratos publicitários sobre reclames na libré do material circulante - levando a administração da "Transpraia" a considerar a suspensão do serviço para 2008, o que acabou por não se verificar apesar de o troço demolido não ter sido reposto. No final da época balnear de 2012, em vista de um total de menos de 30 mil passageiros (comparado com uma média de 150 mil apenas em agosto, no período anterior a 2007), a "Transpraia", na pessoa de António Pinto da Silva, administrador e filho de Casimiro Pinto, co-fundador e primeiro administrador da empresa, voltou a considerar o encerramento do serviço no Verão do ano seguinte.
(...) No ano em que assinala os 60 anos, o veículo turístico que faz a ligação entre as praias da Caparica e a Fonte da Telha, está parado. “Este ano era impossível colocar o comboio a circular. Precisa de pelo menos quatro meses de preparação e de uma manutenção que não foi feita”, admite ao ALMADENSE António Pinto da Silva, proprietário da empresa Transpraia, que opera o comboio.
Na base da paragem está, por um lado, a pandemia de Covid-19 e o confinamento a que obrigou. Mas também o impasse nas negociações entre o proprietário e a Câmara Municipal de Almada (CMA), que se “arrastam há dois anos”, explicam a paralisação. De acordo com Pinto da Silva, a autarquia mostrou-se interessada em adquirir o Transpraia numa operação feita através da WeMob, a empresa municipal de mobilidade que assegura a fiscalização do estacionamento em Almada. No entanto, as dificuldades financeiras que vive a antiga Ecalma, depois de acumular vários meses sem receitas, impossibilitaram a solução. “Se a Câmara não avançar, terei que fechar definitivamente”, admite o empresário.». E fechou....
fotos in: Delcampe.net, Transpraia.pt, Almada Virtual
4 comentários:
Que saudades tenho desses passeios ao longo da praia!
Utilizei muitas vezes o "Transpraia".
Nestas fotografias dos anos 60, notamos que as entidades oficiais são pessoas, sempre homens, com idades para cima dos 40 anos e aparecem poucos homens dentro dos 20 anos fotografados.
Cumprimentos
Valdemar Silva
Casimiro Pinto, meu primo! Grande homem com visão.
Casimiro Pinto meu primo. Grande homem com visão!
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