Restos de Colecção: Café-Restaurante Santa Cruz em Coimbra

7 de julho de 2021

Café-Restaurante Santa Cruz em Coimbra

O “Café-Restaurante Santa Cruz”, localizado na Praça 8 de Maio, em Coimbra, e junto à igreja de Santa Cruz - do antigo Mosteiro de Santa Cruz, fundado em 1131 pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho -  foi inaugurado em 8 de Maio de 1923, e por iniciativa dos empresários Adriano Ferreira da Cunha, Adriano Viegas da Cunha Lucas e Mário Pais. Com uma nova fachada em estilo neo-manuelino, o projeto foi assinado pelo arquitecto Jaime Inácio dos Santos.

1933


Na "Gazeta de Coimbra" de 8 de Maio de 1923

Foto nos anos 50 do século XX

O edifício do "Café-Restaurante Santa Cruz" veio substituir um outro pequeno edifício de três andares que desde 1834, com a extinção das ordens religiosas em 1834, e com a igreja S. João Baptista de Santa Cruz a assumir, de novo, a função de igreja paroquial, estava ao cuidado da Junta de Freguesia de Santa Cruz, que o tinha arrendado como fonte de receita.


Desde 1866 que o edifício se encontrava inscrito nos arquivos da direcção de Finanças «sob o numero de ordem quarenta e seis, (…) uma morada de casas que consta de três andares e lojas, um andar e loja». Numa outra descrição refere-se a sua divisão em «quatro compartimentos». Em 1892, por exemplo, foi registado um arrendamento a favor de Jorge da Silveira Morais, (cuja loja se pode ver na foto seguinte) o qual se atrasou no pagamento das rendas…



1869

Em breve os jornais recordaram as diversas funções a que esteve sujeita a igreja, após a sua dessacralização: «um armazém de ferragens, uma esquadra de polícia, armazém de canalizações, casa funerária, uma estação de bombeiros, uma relojoaria, e não sabemos se mais alguma coisa», segundo a “Gazeta de Coimbra”, ou noutra versão: «A tasca do Jurianta, a esquadra da polícia, uma estação de bombeiros com o seu teatro, um estabeleci­mento de canalizações, uma agência funerária».

 

Em breve os jornais recordariam as diversas funções a que esteve sujeita a igreja, após a sua dessacralização: «um armazém de ferragens, uma esquadra de polícia, armazém de canalizações, casa funerária, uma estação de bombeiros, uma relojoaria, e não sabemos se mais alguma coisa», segundo a “Gazeta de Coimbra”, ou noutra versão: «A tasca do Jurianta, a esquadra da polícia, uma estação de bombeiros com o seu teatro, um estabeleci­mento de canalizações, uma agência funerária». 

Entretanto, em 2 de Março de 1921 o jornal conimbricense "A Notícia" noticiava: «Deu ontem entrada na repartição de obras da Câmara Municipal o projecto da fachada do novo café a instalar na casa da Junta de Santa Cruz, à Praça 8 de Maio. O projecto, em estilo manuelino, é mais um magnífico trabalho do distinto arquitecto, Sr. Jaime Inacio dos Santos»


Primeiro projecto para a fachada


Segundo projecto para a fachada

Este projecto não esteve livre de gerar grande polémica, iniciada pelo jornal monárquico "Restauração" ao criticar o projecto nos seguintes termos: «se de facto a câmara consentir nesse atentado - propomos que, sem perda de tempo, se construa em frente do café chic – um mictório renascença.». Tudo seria resolvido com a alteração do projecto da fachada. A contento de todas as partes, esta é despida dos to­ques decorativos «manuelinos», adoptando um tom de revivalismo entre a renascença e mesmo um certo romanicismo. E lá se inaugurou o “Café-Restaurante Santa Cruz” em 8 de Maio de 1923.



6 de Março de 1928

A respeito da sua abertura, o jornal “A Notícia” de 24 de Maio de 1923 escrevia:

«Continua a marcar no nosso meio a valiosa iniciativa de Mario Pais, Adriano Ferreira da Cunha e Adriano Lucas, da construção do café-restaurante junto da egreja de Santa Cruz. (...)
Parecendo que não, a abertura desse café-restaurante, que em nada veio prejudicar a arte do monumento de Santa Cruz nem desrespeitar os sentimentos religiosos de cada um, deu um novo e superior aspecto ao nosso meio.
Pressente-se na sua frequência, um aspecto da vida da capital.
Vão ali as mais distintas senhoras desta terra, fazer o seu almoço ou jantar, notando-se ali tambem uma superior distinção.
A instalação, é na verdade, digna de apreço. Augusto Monteiro e seu filho José, emprestaram-lhe todo o seu inteligente saber de construtores; os irmãos Almeidas da Cerâmica, e Afonso Pessoa, realizaram aquela linda obra dos vitrais que tanto distinguem, artisticamente a frontaria. Ainda a empreza proprietaria adquiriu um serviço de mesa e café bastante interessante.
A coroar tudo isto, o proprio interior com as suas abobadas postas carinhosamente a descoberto.
A's quintas-feiras e domingos, parece que vão ali inaugurar-se jantares concertos com um quinteto dirigido pelo maestro Magliano.»

       

                                                1935                                                                                   1936



 1939

Entre 1974 e 1985, Alexandre Marques explora sozinho o “Café-Restaurante Santa Cruz”, sendo a sua clientela variada, com predomínio para estudantes.


Em 17 de Maio de 2000, é aprovado, condicionalmente, e por despacho superior, o projecto de reabilitação do “Café-Restaurante Santa Cruz”. Em 2002,  com Vítor Marques, Nuno Miranda, Paulo Gonçalves e José Cruz como sócios, teve lugar uma renovação do espaço, com projeto dos arquitetos Luísa Marques e Miguel Pedreiro. A intervenção potenciou a utilização do espaço, de qualidades arquitectónicas invulgares, como pólo cultural privilegiado da cidade de Coimbra, pelo que se tornou num local muito procurado para iniciativas culturais: lançamento de livros, espectáculos variados - passagem de modelos, concertos musicais, ballet, teatro, etc.






22 de Novembro de 2017



fotos in: Delcampe.net, A´Cerca de Coimbra

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