Restos de Colecção: Cinema "Nimas"

18 de julho de 2021

Cinema "Nimas"

O Cinema "Nimas", foi inaugurado em 10 de Outubro de 1975 na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Com lotação para 240 espectadores, abriu no mesmo ano em que se inauguraram também as salas "Quarteto" (21 de Novembro) e o "Cinebolso" (8 de Março), seguidos pouco depois pelo "Star" (1977) na Avenida Guerra Junqueiro. 



O "Nimas", inaugurou com o filme "Que Viva a Revolução", de Paolo e Vittorio Taviani, mostraria muito cinema de autor americano, italiano, francês, alemão e jugoslavo. Passou durante 8 meses o filme, estreado em 29 de Junho de 1976, "Chove em Santiago" (Il pleut sur Santiago), de Helvio Soto, uma co-produção franco-búlgara sobre o golpe militar que derrubou, o presidente chileno Salvador Allende em 1973.

Estreado em 29 de Junho de 1976

Como afirma o realizador e crítico de cinema Lauro António ... «“nimas” era a designação popular para se referir o cinema, enquanto sala. Ninguém (ou quase ninguém) dizia que ia ao nimas, quando se dirigia ao Monumental ou ao Tivoli. Eram salas de “gente fina”, de burguesia. Mas quem ia ao Olympia ou ao Salão Lisboa ia ao nimas. O nimas era o piolho, com os seus filmes de acção, cowboiadas, policiais, aventuras, um ou outro melodrama xaroposo, comédias descabeladas, tudo isto antes de 25 de Abril de 1974, porque depois o prato forte passaram a ser os pornográficos.» in: Mensagem.pt

Ficou célebre a estreia do filme "As Horas de Maria", de António Macedo, em 4 de Abril de 1979. Foi o cenário, de um triste incidente provocados por católicos conservadores que, tentaram impedir a projecção do mesmo. A estreia teve lugar sob forte protecção policial (ameaças anónimas prometiam incendiar o cinema), mas nem isso livrou vários espectadores, incluindo o crítico Tito Lívio e a actriz Eugénia Bettencourt, de serem violentamente agredidos por manifestantes à saída do filme. Dali por poucos anos, em 1984, seria a vez de "Eu Vos Saúdo Maria" ("Je Vous Salue Marie") gerar uma pequena batalha campal à porta da "Cinemateca Portuguesa" entre a polícia e vários manifestantes conservadores, liderados pelo então presidente do município, Engº Nuno Krus Abecasis, depois de várias tentativas, todas elas frustradas, de boicotar a sessão, de agredir espectadores e de invadir a sala da Rua Barata Salgueiro.


1979

Um dos sócios do Nimas foi o Capitão Baptista Rosa, conhecido jornalista, realizador e produtor, durante anos ligado aos Serviços Cartográficos do Exército e à "RTP - Radiotelevisão Portuguesa". Após a sua morte, em 1982, a sua viúva, Laura Baptista Rosa, assume a exploração do cinema, tornando-se na primeira mulher a desempenhar tal papel em Portugal. Conseguiu manter o "Nimas" à tona durante o resto da década, marcada pela concorrência dos multiplexes e pela desertificação da cidade, complementando a exibição cinematográfica com outras formas de ocupação da sala, por exemplo, como palco das transmissões em directo do programa de rádio "A Febre de Sábado de Manhã",  de Júlio Isidro, em 1983.





No início do ano 1993, a "Medeia Filmes" de Paulo Branco assumiu a exploração do "Nimas", procurando nichos de programação como o cinema francês (2000), filmes clássicos (2005), ou até o cinema de animação 3D (entre 2008 e 2009). Paulo Branco Em 2009, abandona a sala, que fica à responsabilidade do filho, José Maria Branco, como "Espaço Nimas" com sala de espectáculos, que organiza concertos e outros eventos na área da música. Entretanto, o Nimas ganha novamente visibilidade e Paulo Branco aproveita a saída do filho para Londres para voltar a gerir o espaço. 






Actualmente o "Cinema Medeia Nimas" com uma capacidade para 240 espectadores com uma programação imaginativa e atenta possui uma projecção da mais alta qualidade, estando equipado com projecção 4K e som 7.1.

A proprietária do actual "Cinema Medeia Nimas" afirma:

«Tendo desde o início dado especial enfoque à exibição do cinema produzido em Portugal, os Cinemas Medeia têm revelado ao público os novos e mais conceituados realizadores de todo o mundo, bem como dado continuidade à projecção das suas obras, num processo de constante reconhecimento do valor da 7ª Arte. Para além das estreias de cinema comercial, as salas de cinema da Medeia Filmes são também um palco regular para a exibição de ciclos especiais dedicados à obra de cineastas marcantes ou a filmes clássicos, fomentando uma cultura cinéfila.»


Programação próxima, a partir de 6 de Setembro deste ano ...

Cartaz da autoria de Catarina Sampaio


Nota: para a elaboração deste texto foi, também, consultada a crónica "Retrato de projecção #4: o Espaço Nimas", de Tiago Baptista no site "À Pala de Walsh", donde foram retiradas algumas passagens.

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, À Pala de Walsh

1 comentário:

Luis Mota disse...

Boa Tarde,

Grande espaço de cinema com toda a qualidade que não se encontra atualmente numa sala de cinema Multiplex Triplex Quadriplex e sei lá o quê mais.
Lamento que da Medeia Filmes apenas exista esta em Lisboa. Mas se me permitem se eu pudesse quem distribui filmes nunca na vida poderia ter salas de cinema.
Caro Sr. José Leite muitos muitos parabéns pelo seu trabalho neste blog.

Grande Abraço