Apesar de existirem poucos registos históricos e publicitários da actividade hoteleira da vila de Cascais no século XIX, ainda assim é possível descrever a pouca, mas existente, nessa época em que os hotéis não passavam de hospedarias de classe superior.
Lembro, primeiro, que a estrada que ligava Cascais a Oeiras foi reconstruída em 1864, concluindo-se, quatro anos depois, os trabalhos da estrada até Sintra. Estas infraestruturas permitiriam reduzir o secular isolamento da vila, que com a inauguração do caminho-de-ferro, inaugurado em 1889, quebrou de vez, reduzindo significativamente o tempo de viagem desde Lisboa. Até então a deslocação em vapores entre Lisboa e Cascais era corrente.
28 de Agosto de 1880
Em 9 de Agosto de 1871 já existiam o "Hotel União", propriedade de Bernardo Soutelo, e o "Grand Hotel Lisbonense" (1868), na Rua Visconde da Luz e propriedade de Nicolau Anastasio de Freitas tendo sido destruído por um incêndio em 1892. Neste mesmo ano, aparecem referenciados três hotéis na vila de Cascaes: o "Grand Hotel Lisbonense" (1868), o "Hotel Globo" (1882), propriedade de Manoel Francisco Esteves, o "Hotel Estoril" e o "Hotel Central" (1886), propriedade de Felice Petracchi (antigo cozinheiro da Rainha D. Maria Pia) na rua da Palma, em Cascais. Entretanto Felice Petracchi venderia o Hotel a Victor Lestage, já que iria construir o "Grand Hotel d'Italie", no Monte Estoril, inaugurado em 1899.
10 de Junho de 1883
Acerca do "Hotel Central" o "Annuario Commercial" para 1893 publicitava: «Este afamado hotel que pertenceu ao sr. Felice Petracchi, e que é hoje do sr. Victor Lestage continua bem servindo os seus fregueses, sendo procurado por distinta roda, que confirma a competência do novo proprietário daquele estabelecimento.
Em 15 de Maio de 1895 é reaberto, na Rua das Flores, em Cascaes, o "Hotel Bragança" pelo seu novo proprietário Victor Lestage. Tinha sido fundado (como "Hotel Bragance") por Michel Bernard. Entre 1894 a 1900, registar-se-á apenas o aparecimento de uma nova unidade hoteleira, o "Hotel Costa", inaugurado em 1900 na Avenida Valbom, 14 a 20.
Em artigo publicado no Correio de Cascais, a 15 de Abril de 1900 pode ler-se: «Como estava annunciado, realizou-se na quinta-feira a inauguração do novo Hotel Costa, na Avenida Valbom. O estabelecimento esta muito bem montado, correspondendo o serviço á fama do seu proprietario, o antigo e conhecido Costa de Caneças.»
Contudo, entre 1900 e 1907, durante os governos de Hintze Ribeiro e João Franco, o jogo é fortemente reprimido. De acordo com Raquel Henriques da Silva, reportando-se a um artigo de 8 de Julho de 1902 no jornal "Correio de Cascais", o jogo teria sido: «(…) nos anos de 1890, a verdadeira mola do desenvolvimento não só de Cascais e do Monte Estoril como dos núcleos a nascente. De tal modo que, (…) se afirma que 'grande número de casas estão por alugar tanto aqui como nos Estoris' e 'achando-os em Agosto, os hotéis de Cascais do primeiro ao último não têm hóspede sequer’.»
Num outro artigo, publicado nesta data, no mesmo periódico, referindo-se ao "Hotel do Globo" pode-se ler: « (…) é sem dúvida o mais bem colocado de Cascais, e onde inegavelmente o hóspede é muito bem tratado, [e] tem tido uma regular concorrência, apesar de a época se apresentar fraquíssima em razão da falta dos casinos.». O "Hotel do Globo" viria a mudar de dono que por sua vez mudaria a sua designação para "Riviera Hotel".
Em 1915 só existam, em Cascais, dois hotéis: "Bristol Hotel" e "Riviera Hotel" (ex- "Hotel Globo").
"Bristol Hotel"
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Histórico Municipal de Cascais, Garfadas on line