Restos de Colecção: outubro 2019

30 de outubro de 2019

Taverna Imperial

O bar e restaurante "Taverna "Imperial" foi inaugurada na Praça dos Restauradores, em Lisboa, em 31 de Dezembro de 1931, pela mão do barman Ângelo Pereira. Este estabelecimento com r/c e cave estava instalado no edifício contíguo ao Cine-Teatro "Éden".

"Taverna Imperial" no canto inferior esquerdo da foto, entre 1934 e 1935, com o novo "Eden" Teatro em construção


"Taverna Imperial" à esquerda na foto (dentro da elipse desenhada) em finais dos anos 40


"Taverna Imperial" à esquerda neste primeiro projecto do arquitecto Cassiano Branco para o "Eden-Teatro", em 1931


De referir que, a "Taverna Imperial" aproveitou a decoração exterior deixada pelo anterior inquilino , o "Palace Stand" da firma "Mantero & Mendonça, Lda", importadora para a região de Lisboa dos automóveis americanos "Chevrolet", e que ali esteve instalada entre 1920 e 1928, ano em que passaria para a Rua Eugénio dos Santos. Por sua vez esta firma tinha construído este stand ocupando o antigo espaço de duas lojas: a bilheteira da "Praça de Touros do Campo Pequeno" e uma loja de calista, pedicure, manicure, etc.



"Palace Stand" à direita na foto (dentro da elipse desenhada)


No dia seguinte à sua inauguração o jornal "Diario de Lisbôa" noticiava:
«Foi agora Lisboa dotada com um novo melhoramento, de cujo valor facilmente se aperceberá quem visitar, á entrada da Praça dos Restauradores, do lado esquerdo quando se vai do Rossio, a magnifica instalação do elegante Bar "Taverna Imperial".
No Bar, no rez-do-chaõ, onde os apreciadores poderão encontrar, por preços inferiores aos dos outros estabelecimentos, as mais variadas bebidas, servidas agora por um magnífico "barman" português, que tem provado admiravelmente e, dentro de alguns dias, por um esplendido "barman" francês que não pôde chegar a tempo para a inauguração.
Apresenta a "Taverna", entre outras, a interessante novidade dum potente aparelho para a circulação do ar, que o renova constantemente.
A cave - onde, como é natural, os preços são mais elevados - é a realização dum sonho. Julga a gente que está completamente afastado do mundo - num mundo muito melhor - sentado em bons "maples", numa atmosfera e com uma luz agradabilíssimas, podendo não só tomar toda a qualidade de bebidas, mas almoçar, jantar ou cear, par o que a "Taverna" possui uma bela e higienica cosinha e todos os elementos necessarios.
A inauguração de "Taverna Imperial" constituiu, por isso, não só um sucesso mundano, mas um verdadeiro acontecimento citadino.»

Primeiro anúncio publicitário à "Taverna Imperial" no jornal "Diario de Lisbôa", em 3 de Janeiro de 1931


Dois anúncios publicitários de 1933







Ângelo Pereira, proprietário deste estabelecimento e barman de profissão, abriria em 14 de Novembro de 1929 o "York Bar", na Rua Serpa Pinto, ao Chiado, e em 5 de Março de 1937, abriria o luxuoso restaurante, bar e dancing "Negresco", na Rua Jardim do Regedor.

25 de Dezembro de 1935


16 de Abril de 1943


Nota: Acerca do "Negresco", consulte a sua história ilustrada neste blog no seguinte link: Restaurante "Negresco"

Por ocasião da abertura da "Feira Popular de Lisboa", na Palhavã, em 10 de Junho de 1943, a "Taverna Imperial" constrói um pequeno bar a que chamou de "Taverna Imparcial" sendo a sua decoração exterior inspirada na original dos Restauradores.



O "Taverna Imperial" uns anos mais tarde transformar-se-ia, também, em bar de alterne mantendo-se assim por muitos anos, até à sua transformação em restaurante com esplanada, exclusivamente. Consegui saber muito pouco, para não dizer nada, do seu percurso nas últimas décadas. A última firma proprietária foi a "Genesis Flavour - Actividades Hoteleiras, Lda."

1943


1948


1977


Antes do seu encerramento definitivo em 2017






Em 2017, a "Taverna Imperial" fechou definitivamente, conjuntamente com o famoso bar "Pirata", o café "Young Liberty", a loja de lãs "Imperial" e a "Residencial dos Restauradores", para dar lugar a um prédio de apartamentos para turistas chamado "The Boulevard".

E em Agosto de 2018 ...


fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital de Lisboa

27 de outubro de 2019

Electro Reclamo, Limitada

A firma "Electro Reclamo, Limitada", foi fundada pelo engenheiro José Carlos Santos (1899-1962) em 1926, com sede na Rua da Mãe d'Água, 30-32, em Lisboa. Esta firma foi pioneira da publicidade luminosa, o que  permitiu a Carlos Santos ser o projectista e montador de todas as instalações de iluminação da  "Exposição do Mundo Português", em 1940, e da "Fonte Monumental" da Praça do Império, entre outras realizações que veremos mais adiante.


Edifício da "ERL - Electro Reclamo, Lda", na Rua da Mãe d'Água


Anúncio publicitário no nº 1 da revista "Arquitectos" em Fevereiro de 1938

José Carlos Santos, nasceu em Lisboa a 13 de Janeiro de 1899 tendo falecido em Genève a 16 de Outubro de 1962. Filho de um actor de renome, também Carlos Santos (1872- ?) de seu nome, foi diplomado engenheiro electrotécnico em 1921 pelo "Institut Electrotechnique de Bruxelles".

Iniciou a sua carreira como engenheiro responsável pelas instalações eléctricas de iluminação e de força motriz do Pavilhão Português na "Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil", no Rio de Janeiro, em 1922/1923. A este respeito anota-se que o Pavilhão, propriedade do Estado português, foi desmontado e trazido para Portugal, e depois instalado a «título provisório» no Parque Eduardo VII, em Lisboa, subsistindo como propriedade municipal - actual "Pavilhão Carlos Lopes".

Em 1924, monta uma modesta oficina, numa pequena dependência do antigo parque do Conde de Fontalva, tendo, como associado, Alfredo Anjos, filho daquele titular, cuja posição passou para o mestre electricita António Lobo, e por morte deste para seu filho de quem, amigávelmente, José Carlos Santos se desligou, para tomar apenas sobre si a direcção técnica e comercial da sua empresa.

Salas de Demonstrações



Paulatinamente, José Carlos dos Santos vai impondo, gradualmente, ao gosto do público modesta propaganda publicitária, por meio de pequenos anúncios em caracteres eléctricos, começando por trazer do estrangeiro a complicada e numerosa aparelhagem indispensável a todos os sectores da sua indústria, tais como: projectores prismáticos, fontes luminosas, elementos de iluminação racional e decorativa, relais, combinadores, aparelhos de sinalização para aeródromos e estradas, variados tipos de materiais e acessórios para o ambiente espectacular dos teatros, como sejam: jogos de orgão, projectores de efeitos, etc ...

A este sistema publicitário, feito durante algum tempo, por meio de lâmpadas de incandescência, outro lhe sucedeu, de tubos luminescentes de gases raros, de múltiplas e variadas côres, que veio renovar a expressão animada dos anúncios e até a sua modalidade artística nas realizações decorativas de montras.

Com operários trazidos expressamente da Alemanha treinou os nossos na moldagem especial do vidro e na aplicação dos gases, criando assim um novo complemento da sua aplicação.


Oficinas de Néon



Laboratório


Gabinete

Com idênticas funções, Carlos Santos participa em 1932 na "Exposição Industrial Portuguesa", levada a efeito também no Parque Eduardo VII, afinal a exposição antecessora da actual "FIL - Feira Internacional de Lisboa".

Presença na "Exposição da Luz e da Electricidade Aplicada ao Lar" realizada por sua iniciativa em Novembro de 1930, na "Sociedade Nacional de Belas Artes"






Dezembro de 1932

Em 1932, Carlos Santos envolve-se activamente na "Companhia Filmes Sonoros Tobis-Klangfílm", conduzida pelo engenheiro A. P. Richard, francês, director dos Estúdios Epinay. France, e da revista técnica, a "Cinégraphie Française", muito conhecida na Europa.


Material da "ERL" cedido à "Tobis". Na foto o actor Vasco Santana


Tomada de cena no filme "A Canção de Lisboa" realizado por Cottinelli Telmo em 1933


Em 1935, uma artigo no "Diario de Lisbôa", de 27 de Fevereiro de 1935, referia-se ao engº José Carlos Santos e à sua "Electro Reclamo, Lda." nos seguintes termos:

«A publicidade luminosa, colaboradora já agora indispensavel a todo o comerciante e industrial que precise gritar e impôr ao publico os seus produtos, deve á Electro Reclamo, Limitada, por iniciativa ousada do seu director tecnico o engenheiro José Carlos Santos, a sua introdução no nosso país. (...)
Animado do sentido prático, num momento em que a vida actual impõe decisões rapidas e definitivas para acompanhar a marcha acelerada de tudo que é progressivo, Carlos Santos pôs-se logo de abalada para os grandes centros, Berlim e Paris, onde em contacto directo com engenheiros especializados no fabrico dos tubos luminescentese com as fabricas mais afamadas neste sector da electricidade, adquiriu os elementos indispensáveis para ser em Portugal o mais perfeito realizador desta nova modalidade de réclamos e de propaganda publicitaria» .


Stand na "Exposição da Rádio e Electricidade" de 1935


1942


1969


Painel publicitário na Parede, junto à Avenida Marginal

A firma "Electro Reclamo, Lda." foi, a construtora de numerosos painéis luminosos da cidade, os populares «reclamos a neon», tendo sido dos maiores o da "General Motors", na Praça D. João da Câmara, em 1953.


Em 1961 junta-se com os engenheiros Pereira da Costa (CRGE), Morbey Afonso. (HEAA), Pereira Marques (CML), Delfim Mendes (G. E.), Fernando Meleiro de Sousa e Santos Ferreira (Philips), e fundam a "Comissão Nacional Portuguesa de Iluminação", como delegação da francesa "Commission Internationale de l'Éclairage", órgão da maior projecção no sector, com sede em Paris, para promover o seu maior conhecimento e desenvolvimento, com delegados nacionais para as diferentes especialidades.










E foi por essa altura que teve lugar a reconstrução da Fonte Luminosa da Praça do Império. Em 1961 existia, da Fonte original, a bacia e respectiva infra-estrutura. A "Electro Reclamo, Lda." foi encarregada da sua reconstrução em 1962, aproveitando grande parte do material que uma firma de Barcelona, dirigida pelo engenheiro Buigas, havia utilizado em 1940. Porém, sob estudo conjunto com o engenheiro Pereira Marques (CML) e a assistência do engenheiro José de Oliveira Santos, filho de Carlos Santos, a Fonte foi ampliada para maior número de efeitos hidráulicos (jogos de água) constituindo um programa de 63 composições diferentes, em aproximadamente 45 minutos.


Não quero terminar este artigo sem referir outras duas grandes empresas nesta área da publicidade luminosa: a "Reclamos Luminosos Neolux, Lda.", fundada em Lisboa em 1940 (e que ainda está em actividade) e com uma importante delegação no Porto, e a "Ferma - Reclamos Luminosos, Lda." fundada no Porto nos anos 50 do século XX, e também ainda em actividade.

A "Elecrtro Reclamo, Lda." seria dissolvida e liquidada em Outubro de 2014.