Restos de Colecção: Automóvel "Mercedes-Benz" em 1933

24 de julho de 2019

Automóvel "Mercedes-Benz" em 1933

Este artigo tem por base a reprodução duma raríssima série de quatro fotos dum automóvel "Mercedes-Benz" Stuttgart 200 W21 de 1933, que ainda existe restaurado, e que foi importado para Portugal pela firma "Sociedade Comercial Mattos Tavares, Limitada." com sede na Rua dos Sapateiros, em Lisboa.

"Mercedes-Benz" Stuttgart 200 W21, de 1933



A série "Stuttgart" 200, foi uma versão do modelo 8/38 hp, revisto e desenvolvido pelo Dr. Hans Nibel, exibido pela primeira vez na Exposição Internacional de Automóveis e Motos, em Berlim, em 1928. A partir de Janeiro de 1929, já era possível ser encomendado com um motor de 2,6 litros e a partir de Agosto de 1930, todos os modelos do "Stuttgartt" 200 passavam a estar disponíveis com overdrive opcional, com um custo extra.




A "Sociedade Comercial Matos Tavares, Limitada.", fundada em Novembro de 1920, representava e comercializava produtos tão diversos como papel para impressão de jornais, aparelhos de raios X, películas para fotografia "Ilford", desodorizantes "Bac-Stick" (anos 50), etc. A sua última actividade, já como Sociedade Anónima, foi o fabrico de motores, geradores e transformadores eléctricos, com sede na Rua Gregório Lopes, em Lisboa.

Anúncio em Novembro de 1934



O texto da página do catálogo do concurso de restauro e elegância realizado na Quinta da Marinha, em Outubro de 1987, e que publico a seguir, descreve técnica e historicamente esta viatura:

«Benz - Primeiro construtor de automóveis do mundo. Apresentou o seu primeiro modelo em 1886. O Stuttgart é o primeiro modelo Mercedes-Benz que se apresenta com o radiador liso, pois que todos os modelos anteriores eram fabricados em quilha. Equipado com um motor de seis cilindros, com 1.990 cc., foi o 100º a ser construído.
Importado pela firma Soc. Com. Mattos Tavares com sede e estabelecimento em Lisboa, que o registou em seu nome a 21 de Agosto de 1930 e que posteriormente o vendeu à família A. M. Almeida.
Em 1978 a família A. M. Almeida, por sua vez, vendeu-o ao seu actual proprietário Fernando dos Santos Martins. Recuperado pelo chefe mecânico Vítor Serras, este modelo encontra-se totalmente original.»

                       Publicação do Concurso de Restauro e Elegância, na Quinta da Marinha em Outubro de 1987


A referir que este automóvel já tinha participado no "II Raid D.Ravioli" em 30/31 de Março de 1985, e inscrito por Carlos Oliveira, de Belas.

Lembro aqui com fotos (gentilmente cedidas por Pedro Ferreira), a participação deste "Mercedes-Benz" Stuttgart 200 W21 de 1933, numa exposição na Base Aérea nº 1, em Sintra, em Setembro de 2010.




Seria à "Sociedade Comercial Mattos Tavares, Limitada" que a "Polícia de Vigilância e Defesa do Estado" (PVDE) encomendaria, a 27 de Outubro de 1937, dois "Mercedes-Benz" Stuttgard Type 770 Grosser com carroçaria blindada Pullmansteel, após o inconsequente atentado à bomba levado a cabo no Domingo 4 de Julho de 1937, quando o Professor Dr. Oliveira Salazar se encaminhava para assistir à missa da manhã na Avenida Barbosa du Bocage.

Os dois carros foram expedidos para Lisboa em 12 de Abril de 1938. Ambos foram matriculados em Junho de 1938 em nome da "Polícia de Vigilância e Defesa do Estado", e foram postos a disposição dos Presidentes da República e do Conselho, General Óscar Fragoso de Carmona (AL-10-71, chassis nº: 182 067) e Prof. Dr. Oliveira Salazar (DA-10-72, chassis nº: 182 066), respectivamente.


O Prof. Dr. Oliveira Salazar, que não tinha sido consultado sobre a aquisição destes automóveis, logo manifestou o seu descontentamento, recusando-se a utilizar o "Mercedes-Benz" que lhe fora atribuído. Este automóvel viria a ser utilizado oficialmente apenas uma vez, por ocasião da visita do Generalíssimo Franco, em 1949. Este automóvel encontra-se, actualmente, no "Museu do Caramulo", depois de ter sido adquirido por João de Lacerda, em hasta pública, a 16 de Junho de 1956.

Nota: Este artigo teve a preciosa colaboração de Pedro Ferreira, a quem, mais uma vez, e publicamente, agradeço a sua habitual colaboração e disponibilidade.

fotos in: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital de Lisboa

5 comentários:

Bic 🍊 disse...

História curiosa, se bem que me não surpreenda, a do automóvel blindado do Dr. Salazar.
E de tão avesso a despesa (pese embora o justificado empenho da polícia na sua protecção) resultou que o automóvel perdurou e é ainda hoje património que enriquece o país.
Como são diferentes os tempos de agora!

António P. disse...

Apenas duas curtas notas que constituem exemplos da evolução da linguagem:

- Os 50 modelos de "carroseries"

e

- Os Mercedes com "motores a óleos pesados"...

Há cerca de 30 anos, eu ouvia o meu pai falar em carros com "motores a óleos" quando se referia a motores a gasóleo, mas não sabia porquê...agora já sei! (40 anos antes ele tinha trabalhado algum tempo numa oficina)

António C.

Valdemar Silva disse...

Seria interessante, agora, o SIS encomendar carros blindados para o Presidente da República e para o Primeiro Ministro sem ninguém saber.
E, depois, o Primeiro Ministro afirmar 'não sabia de nada' e 'eu até saio pouco'.
Já tive oportunidade de várias vezes ver esse 'Mercedes-Benz', no Museu do Caramulo, e o meu filho, que está ligado aos automóveis, ficar horas a olhar para todas as suas componentes.
Cumprimentos
Valdemar Silva

José Leite disse...

Caro Valdemar Silva

Se fosse agora, seriam encomendados logo uns dez ou mais ...
Se muita gente soubesse quantos carros tem a Presidência da República e o 1º Ministro e chauffeurs ...

Cumprimentos
José Leite

dOISCAVALOS disse...

Estou curioso sobre o que terá acontecido ao segundo automóvel.
Alguém sabe do rasto desse carro?