O restaurante “Alvalade”, projectado pelo arquitecto Francisco Keil do Amaral (1910-1975), abriu as suas portas no primeiro trimestre de 1948, junto ao novo “Lago do Campo Grande”, em Lisboa, também por ele projectado.
Em 1944, o Ministro das Obras Públicas engenheiro Duarte Pacheco manda remodelar profundamente o “Lago do Campo Grande” e sua zona envolvente, em estilo modernista. Para tal encomendou o projecto ao arquitecto Francisco Keil do Amaral, e a obra decorreu entre 1944 e 1948. Lembro que este arquitecto já tinha sido o responsável do pavilhão de “Portugal na Exposição Internacional de Paris” em 1937, e do “Pavilhão de Chá” de Montes Claros, inaugurado em 9 de Julho de 1942, e que mais tarde viria a tornar-se no Restaurante “Montes Claros”.
A revista “Panorama” nº 35, de 1948, escrevia, a propósito:
«Agora, já dá gosto passear no «Campo Grande», tanto à luz do sol, que o arvoredo amàvelmente encobre, como de noite e ate sem lua. Mas existia nele - recordam-se? - um velho restaurante. Mesmo muito velho. E tambem muito feio, valha a verdade. E até sujo ... Aos domingos, então, era já repulsivo, com uma tropa fandanga que invadia o recinto e se espraiava pelo relvado, a merenda, como nas «hortas». Por isso a Câmara Municipal de Lisboa se resolveu a deitar a baixo o vetusto barracão, encomendando a um bom arquitecto o projecto de construção de um restaurante decente, bonito e agradável. Foi encarregado desse trabalho Francisco Keil do Amaral, que se desembrulhou da missão com a perícia, o talento e o sentido do «lugar-onde» que lhe são peculiares.
Depois, foi à praça a adjudicação, e aprovada a mais conveniente proposta, ficando concessionário o sr. Francisco Silvano, antigo proprietário do Hotel de Itália do Monte Estoril. Consciente da função turística que a empresa também poderia - e deveria - desempenhar, não se poupou a sacrifícios para acrescentar, por sua conta e risco, valiosos melhoramentos na obra camarária, principalmente no que diz respeito às decorações, a cargo da excelente artista Maria Keil. Assim nasceu e vai crescendo no bom conceito do público elegante o «Restaurante Alvalade», na gerência do qual colabora o sr. Giulio Alfieri.»
Escultura de António Duarte à entrada e janela do restaurante sobre o Lago
30 de Novembro de 1950
Interior do bar e salão do restaurante decorados por Maria Keil (1914-2012)
21 de Dezembro de 1950
31 de Dezembro de 1953
Mais tarde, e depois deste pavilhão restaurante ter sido demolido, foi inaugurado, em Novembro de 1972, um novo edifício de 2 pisos, projetado em 1971 pelo arquitecto Nuno San Payo integrando um painel de cerâmica em relevo de autoria da ceramista Maria Emília Silva Araújo, e que albergaria um restaurante e bar de luxo, além de outras salas, mantendo praticamente a mesma designação: “Alvalade restaurants”.
“Alvalade restaurants”
Em 1974 e após encerramento deste restaurante, o edifício foi remodelado e transformado no seu interior, para ser o Centro Comercial e cinema “Caleidoscópio” inaugurado em 1 de Novembro de 1974.
Centro Comercial “Caleidoscópio” aquando da sua abertura
Depois de encerrado e devoluto por uns anos, em 2011, o edifício “Caleidoscópio” foi cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, à Universidade de Lisboa para instalação de um Centro Académico.
Em Outubro de 2016, o espaço é inaugurado como uma sala de estudo, um centro de exposições, uma loja e um centro de documentação, à disposição da cidade de Lisboa. Aberto 24h por dia, todos os dias, o “Caleidoscópio”, dispõe duma sala de estudo com 175 lugares, uma área de exposições de 140m2 e um Anfiteatro com capacidade de 72 lugares, rede wi-fi bem como equipamentos de impressão.
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa
2 comentários:
De um projecto com arte , fizeram um aborto ignorante e revolucionário.
Felizmente, que a U. L. lhe devolveu a dignidade merecida.
Era bonito, no início.
A minha memória só vai até ao Caleidoscópio.
Será caso para dizer que foi sempre a piorar, já que agora virou McDonalds.
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