Restos de Colecção: Casino e Palácio Hotel de Espinho

17 de junho de 2018

Casino e Palácio Hotel de Espinho

O “Casino de Espinho”, propriedade da “Sociedade Espinho-Praia, S.A.R.L.” começou a funcionar em 1927. Em 1915, a “Assembleia Recreativa” tinha sido dissolvida e o edifício passado a propriedade privada. Anos depois, o edifício viria a ser vendido à empresa que ganhou a concessão do jogo em Espinho, a “Sociedade Espinho-Praia, S.A.R.L.” em 1928, à frente da qual se encontrava Mário de Freitas Ribeiro, dono do Bristol Club”, em Lisboa. Com essa aquisição a empresa ampliou o “Casino Peninsular”.  O Casino funcionava, então, entre 1 de Maio e 30 de Outubro.

Nota: acerca da história do “Casino Peninsular”, consultar neste blog o seguinte link: Casino Penisular de Espinho

Entretanto a “Sociedade Espinho-Praia”, tinha em mãos um problema denominado “Hotel Bragança”. No ano de 1934, surgiu a notícia de que a empresa concessionária do Casino iria arrancar de novo com as obras do “Palácio Hotel”, com intenção de o abrir na época balnear de 1935. Contudo, as obras de remodelação do Hotel Bragança acabariam por fazer nascer um novo hotel: o “Palácio Hotel”. As obras iniciaram-se em 1930 e arrastaram-se por mais uns anos, com avanços e interrupções, mas principalmente com diversas críticas ao estado de abandono em que ficou o edifício, com as obras paradas, a partir de determinada altura. Só em 22 de Julho de 1939 seria inaugurado o novo edifício do “Palácio Hotel”, um moderno hotel que à época possuía 102 quartos, dos quais 36 com casa de banho privativa.

1942

 

 


Em 1934, o “Casino de Espinho” passou a funcionar de 1 de Junho a 30 de Novembro, período de abertura que se iria manter até 1976.

Também as obras de beneficiação do Casino foram avançando. Assim, em 1940, um ano depois da inauguração do “Palácio Hotel”, o aspecto do edifício do “Casino de Espinho” era muito semelhante à do referido “Palácio Hotel”. Seguindo o estilo Art Deco, as duas obras foram da responsabilidade do arquitecto Carlos Chambers Ramos (1897-1969). Segundo Hugo Barreira: «o Hotel Palácio era mais purista, maciço e germânico, com um ritmo bem marcado pela sucessão de vãos e pelo recorte das sacadas, (…) um sabor expressionista, conferido pelo controlo dos valores de luz e sombra e da plasticidade da superfície. O Casino era menos arrojado, com uma fachada tripartida que recordava ainda o edifício da Assembleia que veio substituir.»

Ainda com as obras a decorrerem nos andares superiores, o novo “Casino de Espinho” abriu no dia 1 de Junho de 1943, como habitualmente. No âmbito das diversas remodelações realizadas, optou a direcção por pintar a fachada, tanto do Casino como do “Palácio Hotel”, de cor verde-claro. No dia 30 de Julho de 1943, teria lugar a grande festa de inauguração do Salão Nobre, situado no piso superior.

 

                                          1934                                                                                        1935

 

1938

As festas que ocorriam durante a época estival tinham lugar no Salão Nobre, ou no Restaurante-Dancing. Cada sala tinha o seu respectivo chefe e as festas abrilhantavam as tardes e principalmente as noites do Casino, onde os frequentadores eram sempre recebidos pelas “Orquestra Odéon” e “Orquestra Almeida Cruz”, que alternavam entre os dois salões do Casino. Para seleccionar a clientela, as entradas eram pagas. Quem entrasse à tarde e ficasse para a noite, que incluía as variedades, pagaria 5$00 - o mesmo valor valor como se entrasse à noite. Para os chás dançantes, que se realizavam ao Domingo e nos quais também se podia ficar para a noite pagava-se 10$00. Havia a alternativa de pagar 80$00 para o mês de Agosto ou Setembro, sendo de 140$00 o custo da entrada para os dois meses.

                                              1935                                                                                           1942

  

                 

Em 1947, a “Sociedade Espinho-Praia”, adquiriu o velho edifício onde funcionava o “Café Chinez”, um dos mais afamados locais de jogo de Espinho de outrora. Meses depois todo o recheio do café foi vendido para se proceder à demolição do edifício com o intuito de aí construir, como continuação do Casino, um Cinema com ligação interna.

1946


Em 6 de Agosto 1951, foi inaugurado o Cine-Teatro do Casino de Espinho. Mais uma vez, o luxo e o requinte foram os principais objectivos da concessionária, desde os revestimentos em mármore no hall de entrada e corredores, até um dos melhores sistemas de som e acústica, assim como de projeção cinematográfica, da época, criando assim as condições necessárias para o conforto e o bem estar dos 534 espectadores, distribuídos por 358 na plateia e 176 no balcão.

Cine-Teatro e Casino

O dia 30 de Junho de 1958 marcaria o último dia da concessionária “Sociedade Espinho-Praia” à frente dos destinos do “Casino de Espinho”. No entanto, antes de sair esta empresa sair da exploração do Casino e do Hotel, resolveu colocar à venda todo o recheio do “Palácio Hotel”, bem como o edifício, ou entregar o aluguer deste a quem o quisesse explorar até 31 de Dezembro de 1958. Esta questão iria causar graves prejuízos à vila e ao seu turismo.

Em 1958 a concessão seria entregue à nova empresa “Sociedade Turismo de Espinho”, constituída em Junho de 1958 por José Dias Vieira de Magalhães e José Gonçalves Pinto Roma e que se manteria até 1968. Excepcionalmente, e devido à mudança da concessionária, o “Casino de Espinho” abriria só a 10 de Julho de 1958.

No início de Fevereiro de 1974 foi deliberado em Conselho de Ministros, presidido pelo Professor Marcello Caetano, que seria a “Solverde” a próxima concessionária do “Casino de Espinho” pelos 15 anos seguintes.

Como todos os contratos de concessão anteriormente feitos, também a Solverde ficou obrigada a realizar diversos investimentos na cidade e na região, donde se destaca a construção de um novo Casino, sem qualquer participação pública, apesar de se manter como património do Estado e a ocupar dois quarteirões.

Com o projeto do novo Casino, e como contrapartida a esse investimento a fundo perdido, foi acrescentada a edificação, como propriedade plena da “Solverde” nos dois quarteirões a sul, onde se demoliu o velho “Palácio Hotel”, de um Centro Comercial com um Apart-Hotel de 13 pisos, o mais alto edifício de Espinho; e no quarteirão a norte um outro centro comercial de dois pisos, com parque de estacionamento subterrâneo, revertendo este no fim da concessão para a autarquia.

           

A 25 de Fevereiro de 1976 deu-se a abertura do novo “Casino de Espinho”. As obras foram divididas em duas fases, a primeira começou em finais de 1976, nos terrenos a poente do Casino onde outrora existia a “Pensão Demétrio” (edifício que tinha sido adquirido pela “Solverde” em 1972). Nessa primeira fase de edificação do novo Casino, tudo continuava a funcionar no edifício existente. Ao fim de três anos, a 14 de Agosto de 1979 ficava pronta a primeira fase das obras, abrindo ao público o novo Casino e sendo encerrado o antigo.

  

Em Janeiro de 1980, tiveram ínicio a 2ª fase das obras com a demolição do antigo Casino, no entanto nem tudo correu bem. A empresa responsável pela demolição começou pelos interiores retirando tudo o que tinha valor comercial e desaparecendo de seguida. Por consequência, a “Solverde” assumiu diretamente a execução das obras de demolição para que os prazos estabelecidos pudessem ser cumpridos.

O novo, e já completo, “Casino de Espinho” seria inaugurado a 25 de Setembro de 1982, com a presença do ministro Dr. Ângelo Correia em representação do, então, Primeiro-Ministro, Dr. Francisco Pinto Balsemão.

 

Bibliografia:  Dissertação do Mestrado em História Contemporânea de Filipe Matos do Nascimento: "O Casino de Espinho. Jogo e Lazer (1905-2005)" - 2016 - Faculdade de Letras da Universidade do Porto

fotos in: Delcampe.net, Hemeroteca Municipal de Lisboa

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