Restos de Colecção: Coliseu dos Recreios de Lisboa

1 de novembro de 2015

Coliseu dos Recreios de Lisboa

O último, “Colyseo dos Recreios” em Lisboa, localizado na, Rua de Santo Antão e propriedade da “Sociedade de Recreios Lisbonense”, foi inaugurado em 14 de Agosto de 1890, com a ópera cómica “Boccacio”. O seu primeiro empresário foi o comendador António Santos Júnior vindo do “Real Colyseu de Lisboa .

 

O primeiro empresário do “Colyseo dos Recreios”, comendador António Santos Júnior

Gravura na revista “Occidente”

Inauguração do “Colyseo dos Recreios”no “António Maria” e nos “Pontos nos ii” de Raphael Bordallo Pinheiro

 

A "Sociedade dos Recreios Lisbonense" - constituída pelo solicitador José Frederico Ciríaco, o professor de filosofia Pedro António Monteiro, o dono de armazéns António Caetano Macieira, José dos Santos Beirão dono da “Casa Memória” e o comerciante de carnes João Baptista G. de Ahneida - teve a sua origem na extinta "Empreza Exploradora de Recreios Whittoyne", extinta em Setembro de 1877 e cujo teatro-circo, montado nos jardins do "Palácio Castello Melhor", tinha sido expropriado e demolido para a construção da "Estação do Rossio". Para tal esta sociedade adquiriu os terrenos que existiam no lado oriental da Rua das Portas de Santo Antão, terrenos vastíssimos e em rampa, que tratou de os adaptar para a construção do Colyseo.

Tendo o contributo de artistas estrangeiros, o “Coliseu dos Recreios” foi inovador na introdução da arquitectura do ferro, ainda insipiente em Portugal, através da espectacular cúpula em ferro, com 25 metros de raio, vinda da Alemanha, e encomendada à firma “Hein Lehmann e C.ª”. O telhado, também em ferro foi instalado em 1889, da responsabilidade do engenheiro Lacombe. O traço da obra deveu-se aos engenheiros Goulard, pai e filho e ao português Manuel Garcia Júnior; a construção metálica coube a Castanheira das Neves e a decoração ao pintor António Machado. Do arquitecto Cesare Lanz é o projecto da fachada do edifício, última parte concluída, de três pisos, com motivos decorativos em reboco e algumas carrancas, que lhe conferem e aumentam a grandiosidade.

 

 

O interior do edifício tem a configuração de um octógono ou polígono de nove lados, e a sua grande cúpula de ferro assenta sobre as paredes exteriores do edifício, pelo que todo o interior é desafogado de colunas, existindo apenas as que sustentam as duas ordens de camarotes e a grande varanda do Promenoir.

31 de Dezembro de 1896


1897

Sala de espectáculos e hall de entrada em 1937

 

1898

Quanto à descrição mais pormenorizada, atente-se a esta passagem dum texto retirado da revista “Occidente”:

«O recinto do circo armado em plateia, comporta 1:200 logares de cadeira; a geral, que corre em roda da plateia, e é em amphitheatro, está lotada para 2:500 espectadores.
Tem 110 camarotes divididos por duas ordens, havendo na segunda ordem uma galeria para 300 pessoas.
O camarote real occupa as duas ordens e está situado fronteiro ao palco. É luxuosamente decorado, no mesmo estylo que o resto da sala.
Sobre a segunda ordem de camarotes é o Pormenoir, uma innovação para Lisboa, importada dos grandes circos estrangeiros e que em Paris é frequentado pela ‘jeunesse que s'amuse’.
O Promenoir é uma vasta galeria que côrre em volta de todo o circo e em que 1:200 espectadores podem gosar o espectaculo, de pé ou sentados, conversando e libando-se á vontade, sem quasi serem vistos dos espectadores da sala.
Sommando estes logares todos e calculando que nos camarotes estejam 500 pessoas dá 5:700 espectadores, que o novo Colyseo pode acommodar sem esforço, o que não obstou a que nas primeiras noites de espectaculo chegasse a acommodar 8:000 pessoas, segundo se diz.
A decoração da sala é deslumbrante, e raro o estylo etrusco, em que é feita, terá sido tão bem applicado. O proscenio sobre tudo é de muito bom gosto, e honra sobre modo o scenographo portuguez sr. Machado, que delineou e sob a direcção do qual foi executada.
O palco tem 30 metros de fundo por 20 de largo e 28 de altura. As varandas do ordimento assentam sobre vigamentos de ferro.
Duas grandes chaminés e onze lucarras fazem a ventilação. No exterior ha uma escada de ferro para serviço de incendios.
A cavallariça é toda de ferro fechada em abobadilha á prova de fogo, e tem logar para cincoenta cavallos, tendo tambem uma enfermaria.»

Mas nem tudo foram “rosas” lendo esta notícia do jornal “Diario Illustrado” de 14 de Agosto de 1890

Tabela de preços, em 1892

1914

Pano de Boca em 1928


Bilhetes de 23 de Março de 1963 e de 1 de Março de 1981


Bilhetes gentilmente cedidos por Carlos Caria

A “Sociedade de Geografia de Lisboa”, fundada em 1875  instalar-se-ia no edifício anexo ao “Coliseu dos Recreios” dois anos depois, em 1892. Das várias missões e iniciativas efectuadas ao longo de um século a Sociedade possui um museu colonial e etnográfico nas suas salas, onde se destacam também as Salas de Portugal, obra em ferro da autoria de José Luís Monteiro, e a Sala de Lisboa, reservada à magnífica biblioteca da instituição.

Interior da “Sociedade de Geografia de Lisboa”. A “Sala de Portugal”

 

O “Coliseu dos Recreios” assumiu-se sempre como uma sala de espectáculos popular, estabelecendo preços baixos e apresentando espectáculos de diversos tipos, entre os quais a ópera - poucos anos antes, em 1887, tinha aberto ao público oReal Colyseu de Lisboa”, na Rua da Palma, no qual também funcionaram companhias de ópera mas que teve uma vida muito mais efémera. O Coliseu evidenciou-se especialmente no campo da ópera durante a Primeira República, constituindo então uma alternativa ao Teatro Nacional de S. Carlos: em Dezembro de 1916 estreou-se uma companhia, organizada por Ercole Casali, da qual faziam parte Elvira de Hidalgo e Tito Schipa, e a partir daí cantaram no Coliseu nomes como Alfredo Kraus, Antonietta Stella, Carlo Bergonzi, Elena Suliotis, Fiorenza Cossotto, Joan Sutherland, Piero Cappuccilli, Tito Gobbi ou Tomás Alcaide. Entre 1959 e 1981 os espectáculos líricos passaram a ser organizados em colaboração com o S. Carlos, oferecendo a possibilidade de ouvir algumas das grandes vozes que vinham a Lisboa por preços acessíveis.

“Terceto excentrico sob a regencia de Mr. Baralhau”

                Opereta “Corte de Napoleão”, em 1912                                          Ópera “La Bohème”, em 1913

 

Concerto promovido pela CML em 1945

 

 

Desde 1897, em conjunto com o “Real Colyseu de Lisboa” da Rua da Palma, e com os seus 2447 lugares, foi o principal dinamizador do cinema em Portugal nos primeiros tempos. Estreia a 4 de Fevereiro de 1899 “Chegada dum Combóio de Cascais”. Em 22 de Abril na inauguração do “Animatographo Excelsior”, do “Coliseu dos Recreios”, estreia “A Procissão da Senhora da Saúde” pelo fotógrafo Coutinho e o electricista Mathevon; manivelado no dia 18, regista «todo o préstito, desde o piquete de artilharia, abrindo o caminho, até o cabido patriarcal e dião da Sé, com os seus acólitos». Em 1918, a companhia “Lusitânia Filme” tomou conta desta sala fazendo do cinema a sua principal actividade, até ao encerramento da mesma.


Gentilmente cedido por Carlos Caria

Em 1923, aparece o grande empresário Ricardo Covões que dinamizou grandemente esta sala passando a funcionar como sala “multiusos”, pois aqui tiveram lugar espectáculos de Revista, Patinagem, Lutas de Boxe, Bailado, Circo, etc.

                                             1923                                                                                        1924

  

                        

    
Programas de 1920 e da época 1952-1953 gentilmente cedidos por Carlos Caria

Entre 4 e 13 de Julho de 1925, acolheria o I Salão Automóvel de Lisboa”, o primeiro a ser considerado oficial, e quarto de Portugal, organizado peloAutomóvel Club de Portugal

 


12 de Setembro de 1946

Entre 1959 e 1981 os espectáculos líricos passaram a ser organizados em colaboração com o S. Carlos. Célebres as companhias de circo de Natal, que enchiam o “Coliseu dos Recreios”, e às quais eu assisti anos seguidos na minha infância durante a década de  60 do século XX.

Em 1960 instalar-se-ia o cinema “Arco-Íris” no mesmo edifício e na porta ao lado da entrada do Coliseu. Era um cinema de sessões contínuas. Encerraria no início dos anos 80 do século XX. daria lugar ao “Bar 25 Pipodrom”…

O “Coliseu dos Recreios” vinha, desde há muito, necessitando de obras de remodelação, algumas das quais com, carácter de urgência. Solicitado o auxílio económico da Câmara Municipal de Lisboa, acabou esta por chamar a si a iniciativa das mesmas e por suportar todos os encargos inerentes. Essas obras trouxeram ao Coliseu várias modificações. A mais importante das quais diz respeito à segurança e consistiu na substituição de toda a instalação eléctrica , incluindo um sistema de alarme contra incêndios. Mais visíveis foram as modificações do aspecto de várias zonas do edifício.

  

Nos anos 90 foi alvo de profundas obras de remodelação, e melhoramentos, da responsabilidade do arquitecto Maurício de Vasconcelos, incluindo de limpeza, segurança, acessos, estéticos e acústicos. Passou a haver no tecto da sala um grande globo central, rodeado por outros ao longo de duas circunferências concêntricas. A sala passou a ser dominada pelo cinzento, "avivado aqui e ali com cor azul" (antes era predominante um vermelho acastanhado). As obras terminaram em 1994 e o novo Coliseu foi apresentado à cidade em 26 de Fevereiro desse ano, integrando o programa da “Lisboa 94”.

Actual.7

fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Coliseu dos Recreios

2 comentários:

Anónimo disse...

A última remodelação pertence ao arquitecto Maurício de Vasconcelos.
Cumprimentos

José Leite disse...

Grato pela sua informação adicional.

Cumprimentos
José Leite