A história do já desaparecido “Lis Hotel”, localizado na Avenida da Liberdade, junto ao “Cinema-Teatro Tivoli”, começa em Novembro de 1923, quando o construtor civil José de Sousa Braz pede à Câmara Municipal de Lisboa autorização para construir um prédio no seu terreno da Avenida da Liberdade, destinado a albergar uma pensão. O projecto original sofreu alterações, uma vez que em Abril de 1925 era feito um requerimento para «substituir a fachada principal do prédio em construção» da responsabilidade do arquitecto Manuel Joaquim Norte Junior (1878-1962).
Nele, o arquiteto fazia sentir de forma mais evidente a sua traça eclética, coroando o pano direito da fachada com um frontão circular - semelhante ao modelo que utilizou na fachada lateral do palacete da Praça Duque de Saldanha ou nos armazéns da “Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca”, na Praça David Leandro da Silva, em Lisboa - onde se esculpia uma figura feminina com uma criança nos braços.
Manuel Joaquim Norte Junior (1878-1962)
Foto mais antiga que consegui com o Hotel, podendo-se avistar a fachada original do edifício só com rés-do-chão e primeiro piso apenas, no dia 9 de Abril de 1927 dia da comemoração do 9º aniversário da “Batallha de La-Lys”
Com o edifício composto de rés-do-chão e primeiro piso apenas, é dado como concluído em 1926. Nele se instala, em regime de aluguer, em Novembro de 1926 a “Boa Pensão”, que mudaria de designação em 1927, para “Pensão Tivoli”, propriedade de Joaquim Machaz e José Francisco Cardoso.
15 de Dezembro de 1926 19 de Dezembro de 1927
Neste ano de 1927, seria atribuído a este edifício e ao seu arquitecto Manuel Norte Júnior o “Prémio Valmor de Arquitectura” de 1927.
Em Junho de 1930, Joaquim Machaz e José Francisco Cardoso, proprietários da “Pensão Tivoli” abrem o primeiro "Hotel Tivoli", no lado oposto da Avenida da Liberdade, ocupando o “Palacete Rosa Damasceno”, e cujas alterações e ampliação do mesmo ficaram a cargo, também do arquitecto Manuel Norte Júnior.
Primitivo “Hotel Tivoli” inaugurado em Junho de 1930
Nota: Acerca da história do “Hotel Tivoli”, consultar neste blog o seguinte link: “Hotel Tivoli”
Com o edifício desocupado, José de Sousa Braz volta a apresentar novo pedido de obras, desta feita para ampliar o edifício em dois andares. O Conselho de Arte e Arquitectura da Câmara Municipal de Lisboa deu veemente parecer negativo à obra, alegando que o novo projecto se sobrepunha «com menos valor artístico» ao existente «destruindo por completo o interessante remate» e afirmando que o edifício premiado com o “Prémio Valmor de Arquitectura”, «que consiste num pequeno e notável conjunto de arte, não pode ser sacrificado por um excerto que lhe duplica a altura», embora reconhecesse que a alteração era um projeto de «boa arquitectura».
Vista aérea da construção dos dois pisos no edifício da futura “Pensão Lis”
O projeto de alteração foi também assinado por Norte Júnior, que cinco anos depois da construção assumia a ruptura com o projecto original, que foi o seu último prémio Valmor e, também, o derradeiro programa de gosto eclético da primeira fase da sua carreira. A polémica apreciação do conselho camarário não alterou, no entanto, a decisão final, e o projecto foi aprovado, sob a condição de ser retirada da fachada a placa do “Prémio Valmor 1927”. No entanto, a placa nunca seria retirada e a obra foi concluída em Novembro de 1932.
A partir de então, e com um amplo edifício que ocupava toda a profundidade do terreno da Avenida, a “Pensão Tivoli” dava lugar à “Pensão Lis”, até 1937 altura em que se torna no “Lis Hotel”, tendo sido criada a firma sua proprietária a “Lis Hotel, Lda.” que que aí funcionou até ao final dos anos 70 do século XX.
“Pensão Lis” já com o “Victoria Hotel” à direita na foto e inaugurado em 1 de Julho de 1936
Nota: Acerca da história do “Victoria Hotel”, consultar neste blog o seguinte link: “Victoria Hotel”
Já com “Lis Hotel” com a inscrição na janela «Antiga Pensão Lis» na foto da esquerda
Postais publicitários. O da esquerda com gravura datada de 1938 e o da direita dos anos 60 do século XX
Etiqueta de bagagem
Calendário de 1957, publicitando o “Lis Hotel” e o “Hotel Miraparque” , ambos com a mesma gerência
Em 1 de Maio de 1965 o “Lis Hotel” é trespassado à firma “Sociedade Dias Garcia, Lda.”
Na década de 90, depois da demolição da estrutura, a fachada do antigo “Lis Hotel” foi recuperada integrada no conjunto de escritórios e espaços comerciais, integrados no “Tivoli Forum Tivoli” entretanto ali construído.
Fachada do “Lis Hotel” integrada no complexo “Tivoli Forum”, na Avenida da Liberdade
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Delcampe.net
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