A “Rotunda” no topo norte da Avenida da Liberdade nasceu do prolongamento da mesma, - o antigo “Passeio Público” pombalino - no lugar conhecido por “Vale do Pereiro”. O projecto foi elaborado pelo engenheiro Francisco Ressano Garcia, (1847-1911) que chefiaria a Repartição Técnica da Câmara Municipal de Lisboa até ao final da primeira década do século XX.
“Vale do Pereiro” durante a Exposição Pecuária Nacional em 1888, nos terrenos da futura Praça Marquês de Pombal
Em 1882 e por iniciativa pública, deu-se início a uma subscrição para a construção de um monumento que perpetuasse a memória de Sebastião José de Carvalho e Mello (1699-1782), mais conhecido por “Marquês de Pombal”, e a ser instalada na “Rotunda”. Em 1914, ficou concluído o projecto assinado pelos arquitectos Arnaldo Redondo, Adães Bermudes e António do Couto.
Gravura provavelmente efectuada no ano do 1º Centenário da morte do Marquês de Pombal
“Rotunda” nos festejos do I Aniversário da implantação da República, em 5 de Outubro de 1911
No entanto a agitação política da época impediu a continuação do projecto. Este é retomado em 1913 com a abertura de um concurso público.
Concurso público do Monumento ao Marquês de Pombal
Primeira cerimónia da “Primeira Pedra” em 12 de Agosto de 1917, com a presença do Presidente da República, Doutor Bernardino Machado
Revista “Illustração Portugueza”
As fundações foram iniciadas em 1917. Depois de uma primeira pedra ter sido assente em 15 de Agosto de 1917, uma segunda foi assente no dia 13 de Maio de 1926, com a presença, de novo, do Presidente da República o Doutor Bernardino Machado, do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa Augusto de Magalhães Peixoto, e presidindo à Comissão Executiva da construção do monumento, Dr. Sebastião de Magalhães Lima.
«E por volta das 3 e meia, apeou-se o Chefe de Estado que foi recebido com vivas á Republica e ao Marquez de Pombal.
Á roda da pedra simbolica, viam-se o chefe do governo, os ministros da Instrução, das Colonias e dos Estrangeiros, representantes da Camara Municipal, a Comissão do Monumento, presidida por Magalhães Lima, membros do corpo diplomático, etc.
Procedeu-se á cerimonia do lançamento, sendo colocado debaixo da pedra o cofre fechado em 1881, com moedas da época.» in: “Diario de Lisbôa”
Segunda cerimónia da “Primeira Pedra” em 13 de Maio de 1926
A construção do Monumento a Sebastião José de Carvalho e Melo, “Marquês de Pombal”, teria início de imediato e estaria concluída, 8 anos depois, em 1934.
Fases da sua construção
Fundações
Construção do pedestal e base do Monumento
O trabalho de corte e escultura na pedra foi realizado na antiga e extinta fábrica da firma "Pardal Monteiro Mármores", em Pêro Pinheiro, Sintra, e os blocos trabalhados eram transportados em "zorras" - grandes plataformas com rodas - puxadas por 4 a 6 juntas de bois desde a fábrica até ao local num percurso que chegava a demorar 5 dias.
Montagem da estátua no pedestal
Montagem da estatuária no fuste e construção da área envolvente
A estatuária foi esculpida por Francisco dos Santos e, após a sua morte, continuada por José Simões de Almeida (sobrinho) e Leopoldo Neves de Almeida. A figura do Marquês de Pombal está esculpida em bronze, com uma das mãos pousada sobre um leão (animal que simboliza a força, a determinação e a própria realeza) e virado para a baixa, dita pombalina, a qual foi mandada reconstruir depois do terramoto de 1755.
A 10 de Maio de 1933, realizou-se uma romagem ao túmulo do Marquês de Pombal, promovida pela Comissão Executiva do Monumento, estando presentes, além dos membros da comissão - Oliveira Simões, Estêvão da Silva, Custódio José Vieira e José Pedro Moreira - um grupo de cidadãos, entre os quais se regista a presença de Simões Raposo, Adães Bermudes e Daniel Rodrigues
Panorâmica envolvendo a Avenida Liberdade, Rotunda e futuro Parque Eduardo VII
A configuração da Praça, de forma estrelada, data desse ano, mas a estátua só é erguida a 2 de Dezembro de 1933 e depois inaugurada a 13 de Maio de 1934, dia do nascimento de Sebastião José de Carvalho e Melo (13 de Maio de 1699) , sem a presença do Presidente do Conselho Doutor Oliveira Salazar e do Presidente da República, General Óscar Carmona. Estariam presentes nesta cerimónia, o Ministro das Obras Públicas engenheiro Duarte Pacheco, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa tenente-coronel H. Linhares de Lima, Presidente da comissão executiva do monumento General Ernesto Viera da Rocha, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça Dr. Sousa Monteiro, e muitas outras individualidades.
Inauguração do Monumento ao Marquês de Pombal em 13 de Maio de 1934
«Á distancia de 235 anos do nascimento de Sebastião José de Carvalho e Melo, de 184 anos da sua subida á governação, de 152 anos das su amorte, de 79 anos da primeira ideia de se lhe eregir um monumento, de 52 anos do lançamento da primeira pedra, por D. Luiz, de 20 anos da aprovação do projecto, de 8 anos do lançamaento da segunda «primeira pedra» (1926) - paga-se enfim a dívida de gratidão do país e de Lisboa reedificada á memoria do insigne estadista do seculo XVIII.» in: “Diario de Lisbôa”
O Monumento é constituído por um pedestal onde assenta a estátua. Este pedestal tem cerca de 40m de altura, em pedra trabalhada, ostentando na parte superior quatro medalhões onde figuram os principais colaboradores do “Marquês de Pombal”.
Pormenores da “calçada portuguesa” em redor da base do Monumento, em Janeiro de 1940
A base do monumento é rica em alegorias alusivas à acção do “Marquês de Pombal”:
A “LISBOA REEDIFICADA” é-nos representada por uma figura feminina olhando a Avenida da Liberdade
A “PROA DA NAU” simboliza a renovação da Marinha Mercante.
A estátua de “MINERVA” representa a Reforma do Ensino com uma frontaria no fundo (a Universidade).
A “AGRICULTURA” é representada por um grupo escultórico que inclui uma junta de bois, um homem com arado e uma mulher carregando um cesto de uvas.
As “REDES” evocam as Pescas.
A “INDUSTRIA” é representada por um operário soprando o vidro
O “FUSTE” apresenta, nas quatro faces, inscrições sobre a obra do Marquês. Na parte superior deste, quatro medalhões com as figuras de: Machado de Castro, D. Luís da Cunha, Eugénio dos Santos e Manuel da Maia.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Enrique Fernandez (Flickr)
28 comentários:
Caro José Leite,
Por estranho que pareça (ou não), até aqui, aparece a rivalidade Benfica/Sporting. É o caso de dois responsáveis pela estatuária, Francisco Santos e António Couto, que além de escultores foram futebolistas do então formado Sporting Club de Portugal, oriundos do Sport Lisboa, que viria a tornar-se “e Benfica”.
E se isso não bastasse, o leão, além do 1º prémio, aparece noutros dois projectos. A águia, além duma figura alada no 3º prémio, aparece numa talvez “menção honrosa”.
Para os apaniguados destas coisas, isto já dá “pano para mangas”!
Nos dois parágrafos antes da foto “Inauguração do Monumento ao Marquês de Pombal em 13 de Maio de 1934”, há uma contradição. No 2º parágrafo diz-se “com a presença do Presidente da República ........ “ o que de facto não aconteceu!
E logo na foto seguinte, nas páginas da revista, há o facto curioso, pelo menos para mim, de Duarte Pacheco ser tratado por sr. Dr. (sempre pensei que seria eng.!).
Cumprimentos,
João Celorico
Caro João Celorico
Grato pela chamada de atenção.
Quanto às presenças na inauguração, "meti os pés pelas mãos", mas já está corrigido.
Quanto ás páginas da revista tem toda a razão, mas aí não foi "gato" meu ...
Já agora, e como não publiquei neste espaço e apenas no Facebook, se quiser aceder a uma entrevista que dei à Antena 1, no programa "José Candeias", em 10 deste mês acerca deste blog aqui fica o link:
http://rsspod.rtp.pt/podcasts/at1/1411/3271685_168774-1411121355.mp3
Cumprimentos
José Leite
Obrigado por mais uma preciodidade.
Boa Noite,
Passo por aqui sempre que posso e confesso penalizar-me por não ser mais assídua nos comentários.
Mas hoje era impossível não lhe deixar aqui uma palavra de apreço por todo este seu trabalho a que se tem dedicado nos últimos 5 anos.
Queria também dizer-lhe que consegui ouvir a entrevista que deu à Antena 1 e dar-lhe mais uma vez os parabéns pelo seu blogue pois através dele presta um verdadeiro serviço público.
"Afrodite"
Bom dia,
Muito grato pelas suas visitas e pelo seu simpático e amável comentário a este blog.
Cumprimentos
José Leite
Sempre tive curiosidade em saber que método foi utilizado para colocar o Marquês lá no alto do pedestal. Continuo sem saber (LOL...), mas, graças ao seu meritório trabalho de divulgação do nosso passado histórico e monumental, fiquei a saber outras coisas igualmente importantes sobre um monumento que é uma imensa obra de arte a que nem sempre damos a atenção que merece. Alguns comentadores já foram dizendo antes, e eu subscrevo inteiramente, o que tem de lhe ser dito: muito obrigado pelo verdadeiro serviço público que nos proporciona!
Caro N. Cruz
Quanto ao método de colocação da estátua no topo do pedestal, também gostava de saber, mas devia estar ao abrigo do "segredo profissional".
Quanto às suas amáveis palavras, em relação ao trabalho que venho desenvolvendo neste blog, só tenho a agradecer a sua amabilidade.
Os meus cumprimentos
José Leite
Muito bom , obrigado pelo seu blog
Caro João Vinagre
Grato pelo seu amável comentário
Os meus cumprimentos
José Leite
Muitos obrigado por este trabalho de cidadania. O Marquês de Pombal foi uma das figuras da nossa história, que mais me marcou desde miúdo. Um abraço. Vítor Marceneiro
Caro Vítor Marceneiro
Muito grato pelo seu amável comentário
Cumprimentos
José Leite
Caro sr. José Leite.
O meu sogro era oficial do exército e morreu já há bastantes anos com a idade de 92 anos e sempre que se falava da estátua do Marquês de Pombal e á sua colocação, ele dizia, que tinha sido necessário recorrer à engenharia militar, pois só esta dispunha dos meios necessários para a poderem colocar onde está, por causa do peso que tinha.
Acho que está desvendado o mistério da colocação dela no lugar que lhe estava destinado.
Maria Helena
.
D. Maria Helena
Grato pela sua informação adicional
Os meus cumprimentos
José Leite
Ex.mos Senhores,
No lançamento da 1ª pedra, era Presidente da CML, o meu avô, Dr. Carlos Alberto da Costa Gomes que, se vê na foto, a acompanhar e a falar com O Presidente da República quando, após a cerimónia abandonavam o local.
António Luís da Costa Gomes Lopes
Caro António Lopes
Muito agradeço a sua informação adicional
Os meus cumprimentos
José Leite
Estupendo! Magnífico! Soberbo!
Muitos parabéns e um bom Natal!
Caro José David
Muito grato pelas suas amáveis palavras em relação artigo.
Um Santo e Feliz Natal, para si e sua família
Os meus cumprimentos
José Leite
A minha admiração pela acção do Marquês vem desde criança mesmo quando ainda não sabia da sua extraordinária intervenção nas reformas que fez em Portugal,contrariando os interesses de numerosas forças que não vou aqui mencionar.
Bem haja pelo seu trabalho neste blog
cumprimentos
josé borges
Caro José Borges
Grato pelo seu comentário, e pelas suas amáveis palavras em relação a este blog
Os meus cumprimentos
José Leite
Só posso enaltecer o mérito deste trabalho. Obrigado ao autor. Porém duas coisas me ficaram ainda em dúvida: Afinal o Presidente da República esteve lá ou nâo esteve. Afinal o Sr António Luís da Costa Gomes refere que o avô dele estava a falar com o Presidente?
Quanto ao processo de colocação da estátua no pedestal, é dito que se socorreram da engenharia militar, mas não refere o modo como a operação se desenvolveu?
Faz-me lembrar a polémica do transporte dos blocos das pirâmides do Egipto. Obrigado e um abraço.
Caro José Costa
O Presidente da República à data da inauguração da estátua, o General Óscar Carmona não esteve presente no acto inaugural, assim como não esteve o Presidente do Conselho Doutor Oliveira Salazar.
O Presidente da República a quem se refere o leitor Costa Gomes Lopes, era o Dr. Bernardino Machado a quando do lançamento da 1ª pedra.
Com os meus agradecimentos, os meus cumprimentos
José Leite
Para completar os diversos comentários gostaria de acrescentar que o trabalho de corte e escultura na pedra foi realizado na antiga e extinta fábrica da "Pardal Monteiro Mármores" em Pero Pinheiro e os blocos trabalhados eram transportados em "zorras" -grandes plataformas com rodas - puxadas por 4 a 6 juntas de bois desde a fábrica até ao local num percurso que chegava a demorar 5 dias.
Vi pessoalmente algumas fotos desse transporte que suponho estarem na posse dos ultimos proprietarios da fabrica, extinta já neste século para dar origem a um grande projecto imobiliário.
Caro Manuel Pinto
Muito grato pela informação adicional.
Os meus cumprimentos
José Leite
Muito obrigado por este excelente documentário.
Entre outras coisas que aprendi nele permitiu-me corrigir um erro de informação.
Eu nasci em 5 de Outubro de 1933, em Lisboa.
Mas os meus pais, imigrantes recentes da Europa Central, não viviam na cidade, mas sim nos arredores.
Quando se estava a aproximar a data do parto, que havia de ter lugar no Hospital Israelita, que então havia, a minha mãe ficou em casa de uma família amiga, na Rua de S.Bento. E ela contava-me que no dia 3 de Outubro, as senhoras em casa de quem estava hospedade, a levaram a passear até à Rotunda, para ver o monumento ao Marquês de Pombal. Pelos vistos foram ver apenas o sítio onde ele seria inaugurado no ano seguinte.
Esclarecimento ao colaborador INACIO
Na realidade a Senhora sua Mãe foi visitar um monumento embora não totalmente completo e provavelmente sem os arranjos exteriores circundantes, mas já existia uma quase total construção iniciada uns bons anos antes, com a pedra talhada a vir em carros de bois desde a Fabrica da Pardal Monteiro Marmores em Pero Pinheiro
Muito obrigado pelo amável esclarecimento e por completar a informação.
Alguém sabe qual o tipo de pedra que constitui o pedestal?
Muito obrigada.
Isilda
Sou Brasileiro e cheguei em Lisboa a 10 meses e um dos pontos turísticos que me senti mais atraído foi exatamente a praça Marques de Pombal. O qual conheci como bônus na intenção de ir ao parque Eduardo VII. Após vários meses trabalhando pela margem sul e hoje em dia por Lisboa sempre que passo em frente a esse monumento sinto a sua importância o qual não conhecia. E agradecer a todos os Portugueses que sempre foram extremamente cordiais comigo.
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