Restos de Colecção: Sanatório das Penhas da Saúde

3 de outubro de 2014

Sanatório das Penhas da Saúde

O “Sanatório das Penhas da Saúde”, propriedade da “CP - Caminhos de Ferro Portugueses” , foi inaugurado em 11 de Novembro de 1944, após 8 anos de construção (1928-1936) a cargo do engº Virgílio Preto e projecto de arquitectura de Cottinelli Telmo. Apesar da sua construção ter sido concluída em 1936 permaneceu fechado durante outros tantos anos, devido a circunstâncias diversas e estranhas à CP.

 

Em 1927 a “CP - Caminhos de Ferro Portugueses”, através da “Comissão Administrativa dos Sanatórios para Ferroviários Tuberculosos” presidida por Fausto de Figueiredo, toma a iniciativa de promover a construção de um sanatório de altitude na Serra da Estrela. O projecto do edifício é encomendado ao arquitecto José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948), enquanto profissional independente e em paralelo com as suas funções de funcionário da CP. O programa funcional do conjunto foi estabelecido por Carlos Lopes, médico chefe dos Serviços de Saúde da CP, que acompanhou de perto o trabalho do arquitecto. Para a definição exacta das instalações e equipamentos técnicos necessários, Carlos Lopes visitou diversos sanatórios na Suíça, França e Alemanha onde pôde estudar os mais actuais e rigorosos padrões de técnica sanitária em uso na Europa. Cottinelli, por seu lado, visitou o Sanatório de Fuenfria, em Espanha.

A 8 de Fevereiro de 1928 o anteprojecto do Sanatório da Covilhã foi apresentado à "Comissão Administrativa dos Sanatórios para Ferroviários Tuberculosos" que o aprovou, ficando este sanatório localizado em Porta dos Hermínios nas Penhas da Saúde junto à cidade da Covilhã, a 950 metros de altitude. O seu objectivo foi o tratamento de tuberculose dos seus funcionários. Estes podiam beneficiar da localização em sitio calmo e dos ares da Serra, fazendo parte da rede de 11 sanatórios, existentes no inicio do século XX. A primeira pedra seria lançada em 1930.

Artigo na revista “Gazeta dos Caminhos de Ferro” em 16 de Março de 1946

 

 

Nota: as duas páginas em falta, apenas reproduziam fotos que abaixo são publicadas com melhor qualidade e resolução.

Em 11 de Novembro de 1944, o “Sanatório das Penhas da Saúde” é inaugurado, uma vez ultrapassadas dificuldades várias quanto à viabilidade da sua exploração por parte da CP. Para tal, a capacidade de internamento foi ampliada, passando de 110 doentes, máximo previsto no projecto, para 170. O estabelecimento foi arrendado à “Sociedade Portuguesa de Sanatórios, Lda.” que o explorou sob a direcção do professor Lopo de Carvalho, ficando com a obrigação de acolher todos os funcionários da CP que necessitassem de tratamento anti-tuberculoso e colocando ainda uma parcela das suas camas à disposição dos doentes a cargo da “ANT - Assistência Nacional dos Tuberculosos”

 

 

 

 

 

Oito anos após a cedência, o edifício passou para as mãos do Estado, tomando conta dele o “Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos” (IANT), passando também a partir de 1953, a ser internados doentes pobres. O recurso à quimioterapia anti-tuberculose, levou ao encerramento dos sanatórios afastados dos centros urbanos e pouco rentáveis.

O edifício acolheu, ao longo de mais de 40 anos, muitos milhares de tuberculosos, provenientes de todo o país, que procuravam recuperar da tuberculose nos bons ares da Serra da Estrela. Apesar de acolher doentes de todas as classes sociais, os doentes menos favorecidos não tenham acesso a todas as alas, algumas destinadas apenas às classes altas, que ali encontravam todo o conforto que o dinheiro podia comprar.

Em Junho de 1969, por ordem do Ministério de Saúde e Assistência seria dada ordem de encerramento. O seu ultimo director Dr. Carlos Coelho, licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, acabou por ser o ultimo testemunho do encerramento do Sanatório.

Depois do encerramento do edifício como Sanatório, este continuou a ser preservado por um casal, dois funcionários que aí permaneceram para o manter habitável. Enquanto esses dois funcionários, o Sr. José Francisco Amorim e Sra. D. Lurdes Amorim aí se mantiveram como funcionários do Estado,  o referido espaço manteve todo o seu esplendor e todas as condições de habitabilidade até à altura em que foi utilizado para prestar acolhimento a cerca de 700 pessoas “retornadas”,  por motivo da independência das antigas colónias portuguesas.

                                                                                             1946

1946

Após a estadia temporária dessas pessoas, que entretanto procuraram refazer a vida e foram abandonado definitivamente o Sanatório que lhes serviu de abrigo temporário, notou-se muita degradação. Mesmo assim, este manteve-se funcional e  preservado até ao momento em que estes dois funcionários abandonaram definitivamente o Sanatório quando chegou a idade da sua aposentação.

 Durante a fase de abandono

 

No final dos anos 80 do século XX, quando o edifício já se encontrava praticamente abandonado e seriamente degradado passou para as "mãos" da “Turistrela”.

No ano de 1998 o Sanatório chegou a ser vendido à ENATUR (empresa das “Pousadas de Portugal”) pelo preço simbólico de 1 escudo. Em contrapartida a ENATUR comprometia-se a instalar ali uma Pousada de Portugal, cujo projecto chegou a ser elaborado pelo arquitecto Eduardo Souto Moura o qual previa um investimento na ordem dos 10 milhões de euros. Entretanto a ENATUR foi entregue ao “Grupo Pestana”, e o projecto foi abandonado, tendo em 2004 cessado o contrato. Assim a titularidade do sanatório regressou às mãos da “Turistrela”

Finalmente, e a após as obras a cargo da empresa “Soares da Costa, S.A.” terem arrancado em Março de 2012 e terem custado cerca de 19,6 milhões de euros, a “Pousada da Serra da Estrela” - do grupo “Pousadas de Portugal”  do Grupo Pestana - reabriu a 1 de Abril de 2014, após profundas obras de reconstrução, remodelação e restauro, novamente sob o projecto do arquitecto Eduardo Souto Moura. A nova Pousada oferece 92 quartos (incluindo 12 suites, uma delas "presidencial", dois quartos com "conceito spa" e dois preparados para pessoas com mobilidade reduzida), SPA, piscina interior e exterior, restaurante, bar, business center, etc.

A actual “Pousada da Serra da Estrela” inaugurada em 1 de Abril de 2014

 

 

 

Fotos in:  Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital, Pousadas de Portugal

2 comentários:

J A disse...

Virgílio Preto....cheguei a trabalhar nesta firma de construção, cuja sede era ali no Largo de Camões num segundo andar (cuja entrada ainda mantem um pequeno quiosque). Na altura gerida pela filha e filho de V. Preto. Isto lá para 1972-73....não sei se ainda existe ?

Antonio Carlos Gomes Martins disse...

Muito bom! Parabéns. Fiquei uma vez no Sanatório dos Ferroviários, em 1975, já depois do seu encerramento. Fazia parte de um grupo de montanhistas e o edifício foi-nos aberto, por alguém da Covilhã, salvo erro, pela junta de freguesia. Serviu-nos de abrigo durante uns dias de Inverno, quando a Serra da Estrela ainda tinha muita neve, enquanto desenvolvemos actividades de montanhismo, escalada e ski. lembro-me que ainda tinha as camas do antigo sanatório, que aproveitámos para estender os nossos sacos-cama e muito material médico-cirurgico. Voltei em 2014, logo a seguir à abertura da Pousada e estou agradecido ao trabalho feito pelo Grupo Pestana, sem o qual a ruina seria o inevitável destino de tão belo património. Pena que não tivessem aproveitado alguns dos azulejos originais que, calculo, devem ter sido vandalizados e roubados durante o tempo de abandono. bem haja por este texto.