Quando se comemoram os 104 anos da implantação da República em Portugal em 5 de Outubro de 1910, publico este artigo que relata, em imagens, as comemorações do primeiro aniversário da revolução, e que tiveram lugar em Lisboa a 5 de Outubro de 1911. É igualmente disponibilizada, em alta resolução, três páginas do jornal “A Vanguarda” nas quais são descritas em pormenor as festividades.
Cartazes evocativos do “1º Aniversário da Republica Portugueza”, em 5 de Outubro de 1911
Festividades na cidade de Lisboa alusivas ao I Aniversário da Implantação da República
Concentração na Rotunda Desfile na Rua da Misericórdia
Palanque na Rotunda, com a presença do Presidente da República Dr. Manuel de Arriaga
Descrição pormenorizada das comemorações no jornal “A Vanguarda”
Página de “Quinta-feira, 5 d’Outubro de 1911”
Páginas de “Sabbado, 7 d’Outubro de 1911”
Avenida da Liberdade
Coreto, no Largo do Corpo Santo
Rua da Madalena Rua da Prata
Presidente da República Dr. Manuel de Arriaga
Santa Catarina Rua dos Fanqueiros
Rua do Corpo Santo
Rua da Misericórdia Rua Augusta
Rua dos Bacalhoeiros
“Carro da Imprensa”
“Carro da Casa Pia”
Desfile na Avenida Presidente Wilson (ex- Avenida D. Carlos I)
Recordo que depois da proclamação da República, a Avenida D. Carlos I, foi renomeada até 1948 de Avenida Presidente Wilson. Em edital de 23 de Dezembro de 1948, retomaria o topónimo de Avenida D. Carlos I.
“Carro dos Correios e Telégrafos”
“Carro da Maçonaria” “Carro do Comércio”
De seguida, um artigo na revista “Illustração Portugueza” acerca da “Collocação da primeira pedra no monumento aos heroes da revolução”, inserido nas festividades, mas cujo monumento não viria a ter sequência.
Recordo que a 12 de Outubro de 1910, uma semana após a revolução republicana, o “Governo Provisório” aprovou os cinco novos feriados ofi ciais da República: Fraternidade Universal (1 de Janeiro), Precursores e Mártires da República (31 de Janeiro), Heróis da República (5 de Outubro), Autonomia da Pátria Portuguesa (1 de Dezembro) e Família (25 de Dezembro), acrescentando-se em 1 de Maio de 1912 um sexto feriado, o do Descobrimento do Brasil (3 de Maio), conforme convicção corrente de ter sido o dia da chegada da armada de Pedro Álvares Cabral, em homenagem ao Brasil republicano que tinha declarado o 5 de Outubro seu feriado oficial.
Este calendário perdurou até 29 de Julho de 1929, momento em que o Governo de Artur Ivens Ferraz, dissipando dúvidas sobre os feriados oficiais, considerou manter esses seis - o 1 de Dezembro passou a evocar a Restauração da Independência em vez da anterior Autonomia da Pátria Portuguesa - e juntou um sétimo feriado, a Festa de Portugal (10 de Junho) que, desde a lei n.º 1783, de 25 de Maio de 1925, era já oficialmente considerado um dia de festa nacional em honra de Luís de Camões, até então evocado, anualmente, a partir de 1911, como feriado municipal, pela Câmara Municipal de Lisboa (decisão camarária de 27/04/1911), numa concorrência laica com as festas de Santo António, a 13 de Junho. Este ajustamento nos feriados gerais da República fez com que o mais importante feriado nacional passasse do dia 1 de Dezembro para o dia 10 de Junho.
O primeiro feriado oficial republicano a ser comemorado foi o 1 de Dezembro (altura em que saiu o primeiro número da revista portuense “A Águia”, dirigida por Álvaro Pinto), deliberando o Governo Provisório, em 23 de Novembro de 1910, com a aprovação do projecto definitivo da bandeira nacional, que o dia 1 de Dezembro fosse também o dia da “Festa da Bandeira Nacional”, considerada na linguagem oficial do decreto «a representação objectiva da pátria e o precioso símbolo que resume as suas aspirações, sentimentos nobres e energias».
Como nem tudo foram “rosas” à volta destas comemorações … também apareceram os “espinhos” … conforme ilustro com com a publicação de algumas páginas da revista “Illustração Portugueza” de 16 de Outubro de 1911.
A propósito desta “Incursão de Paiva Couceiro”, também apelidada de invasão dos «homens das mantas», publico um texto amavelmente cedido pelo autor do blog “Bic Laranja” :
«Outro episódio para recordar aqui é o da invasão dos «homens das mantas». Em 5 de Outubro de 1911, quando se completava um ano sobre a implantação da república, em Lisboa, entraram pela raia próxima cerca de cento e cinquenta monárquicos, cada qual com a sua espingarda e uma grande manta ao ombro. À frente da coluna, a bandeira azul e branca do regime deposto. Foi a chamada «incursão de Vinhais». Os invasores entraram na vila e acreditavam sinceramente que a população das aldeias transmontanas, tradicionalmente legitimista e amante da realeza, viria para a rua aclamar os libertadores, dando início a uma incrível avalancha popular. A decepção não podia ser mais completa. Nem sequer lhes chamaram «monárquicos», ou partidários do rei, ou cousa semelhante. Apenas os «homens das mantas». Sem apoio, completamente sós, voltaram à fronteira e internaram-se de novo em Espanha.
Eram republicanos os aldeões de Vinhais em 1911? Eram monárquicos? A minha opinião é que eram gatos escaldados. Os comandantes da incursão não lançaram nas cartas do Estado-Maior um elemento que podia ser decisivo: o concelho de Vinhais é, de todos os de Trás-os-Montes, o que maior contingente deu para os autos-de-fé. Vila fundada na época dionisíaca, povoou-se de filhos de Israel e foram eles que puseram aquelas encostas de pedra nua a dar o sumo da uva, e transformaram desertas serranias em lavouras úberes. Depois de 1500 começou a perseguição. Um desabafo imprudente, um dito infeliz, podiam provocar a denúncia, e a denúncia era o início de um longo martírio que acabava no auto-de-fé.
Esta gente não tem nada de estúpida; basta meter conversa e percebe-se imediatamente que estamos perante uma população de excelentes qualidade mentais. Mas até hoje ninguém achou estranho que aos paladinos do rei exilado não tenham dado outro nome que esse epíteto, aparentemente bisonho e alvar, de homens da manta. É que nem perceberam que eram monárquicos. Nem sequer viram a bandeira azul e branca, ou notaram que de cada ombro pendia, presa pela bandoleira, uma espingarda Mauser; não ouviram rufar as caixas ou tocar clarins: tudo o que eles viram foi a pacífica manta, que, simbolicamente serve para apagar fogos. Muitos avós seus, por terem visto mais do que isso, conheceram trágicos destinos. Aqui está o que a Inquisição nos deixou: não ver nada para lá da manta. Se ao menos a manta fosse larga e quente! Não é. Cada qual puxa-a para seu lado, e todos sentem o frio.» in: “O Tempo e a Alma. Itinerário Português”, 2.º vol. de José Hermano Saraiva - Círculo de Leitores, 1987.
E para finalizar, os “Confrontos” … financeiros
Bibliografia: "República portuguesa, secularização e novos símbolos (1910-1926) de Ernesto Castro Leal - Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Hemeroteca Digital
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