Restos de Colecção: Viagem Presidencial em 1939

12 de outubro de 2014

Viagem Presidencial em 1939

Em 17 de Junho de 1939, teve lugar a cerimónia da partida do Presidente da República, general Óscar Carmona para uma viagem presidencial às colónias portuguesas de Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola, incluindo uma visita à União Sul-Africana. Esta que seria a 2ª viagem às colónias do Chefe de Estado - a primeira tinha sido ocorrido entre 11 de Julho Julho e 30 de Agosto de  1938 a S. Tomé e Príncipe e Angola - só se concluiria em 12 de Setembro do mesmo ano.

Na foto anterior: o paquete “Colonial” (1929-1950), - propriedade da “CCN - Companhia Colonial de Navegação”  - na tarde de 17 de Junho de 1939, no qual o Presidente da República General Óscar Carmona embarcaria pelas 18 horas depois de transportado a partir do “Cais das Colunas” pela “vedeta presidencial”. Na fotografia podem observar-se, em primeiro plano, diversos rebocadores, vapores de transporte fluvial de passageiros, vulgo “cacilheiros”. Em segundo plano, os paquetes “Mouzinho” e “Guiné”, que acompanharam o cortejo fluvial da saída do paquete “Colonial”, com centenas de convidados a bordo, e diversas unidades da Armada, entre as quais dois contratorpedeiros da classe “Douro”, a fragata “Dom Fernando Segundo e Glória” e os Avisos “Bartolomeu Dias” e “Afonso de Albuquerque” que escoltariam o paquete “Colonial” na sua viagem.

Nesta viagem, o general Óscar Carmona seria acompanhado pelo Ministro das Colónias, Dr. Francisco José Vieira Machado.

Ministro das Colónias acompanhado pela filha e esposa, já a bordo do “Colonial”

Seria publicado um álbum fotográfico desta viagem editado pela “Agência Geral das Colónias”

Na introdução histórica deste álbum pode-se ler:

«Pela intensa vibração patriotica que produziu e pelo entusiasmo que produziu e pelo entusiasmo que despertou entre as populações constituiu grandiosa e inesquecível apoteose ao Império português, e ao Estado Novo a segunda jornada de Sua Excelência o Senhor Presidente da República por terras de África, em visita ás colónias de Cabo Verde, S. Tomé, Moçambique e Angola, realizada de Julho a Setembro de 1939. Vago e inexpressivo documentário do esplendor da jornada triunfal, fica apenas como simples recordação êste album de fugazes imagens.»

De seguida 4 fotografias retiradas desse álbum com as legendas originais.

«Lisboa, capital do Império, despede-se entusiásticamente do Presidente da República»

«Na Praça do Comércio, o chefe de Estado ouve, em continência, o Hino Nacional, pouco antes de embarcar para a sua viagem às terras do Império, em África»

«Em nome do Govêrno e da Nação, o Senhor Doutor Oliveira Salazar apresenta ao Senhor General Carmona cumprimentos de boa viagem»

«Já na vedeta presidencial, o Presidente da República corresponde ás vibrantes saüdações que a multidão lhe dirige»

Mensagem do General Óscar Carmona a propósito desta viagem:

«As minhas viagens ao Ultramar resultam de tradicional política que informa a acção colonial Portuguesa. Vou às colónias com o mesmo espírito que levo a qualquer província de Portugal Europeu que visito, e que nós, Portugueses, consideramos territórios do império igualmente integrados na unidade nacional.
Sua Majestade o Rei Jorge teve a gentileza de me convidar nesta ocasião a visitar a União Sul-Africana, convite que me foi muito grato aceitar. Tenho muita pena de me ter sido absolutamente impossível aceder também ao convite que me foi feito para ir às Rodésias e á Niassalândia, mas estou ansioso por conhecer pessoalmente os governadores dêstes territórios que a meu pedido se encontrarão comigo na Beira. Sou profundamente sensível a estas gentilezas que tomo como prova de apreço pelos esforços Portugueses na tarefa que as nossas nações estão realizando em África em comum e em prol da paz e do progresso e testemunho das excelentes relações de amizade e vizinhança que mantemos no Continente Africano.»

Artigo na revista “Ilustração”

Ilustração

Fotos do “Estúdio Mário Novais” alusivas a este evento

 

Fotógrafo Ferreira Cunha a bordo do “Colonial”

 

 

General Carmona a bordo do “Colonial” acompanhado pelo armador Bernardino Correia (à esq.) e pelo Ministro do Interior

No “Boletim Geral das Colónias”, de Julho de 1939,  foi publicado o artigo intitulado “Aspectos da Viagem Presidencial” da autoria do Dr. Vasco Borges donde retirei os parágrafos iniciais:

«O egrégio Chefe de Estado partiu, a caminho de Moçambique, para prestar á Nação um serviço altíssimo. Conscientes e ufanos da magnitude do acontecimento a que esta viagem dá figura, todos os portugueses o acompanham em espírito. E os seus corações aquecidos pela fé na promessa segura dum Portugal maior, não deixarão de dedicar-lhe, em todos os momentos, os seus mais fervorosos votos de felicidade.
Prestar ao país mais êste valioso serviço, impõe um sacrifício ao Sr. Presidente da República.
Bem o sabe o Sr. General Carmona, ainda mal refeito da fadiga a que se sujeitou a sua visita apoteótica à África Ocidental. Sabe, mas submete-se patrióticamente.
O Chefe de Estado, precisa também, como toda a simples gente, dum descanso reparador. E nesta altura do ano, quando todos pensam em recobrar fôrças, não devem concorrer pouco para o Sr. General Carmona sentir, a sua admirável resistência depauperada, as solenidades e comemorações que, mercê do seu encanto pessoal e prestígio invulgares solicitam constantemente a sua presença.
Pois em vez das férias necessárias, o Sr. Presidente da República, com o fim de servir os interêsses da Nação inicia nova viagem ao Império, seguramente não menos fatigante do que a primeira. Não haverá, por isso mesmo, Áquém e Além-Mar, homenagens e saüdações ao egrégio Chefe de Estado, as mais emotivas e vibrantes, que a sua exemplar abnegação e o seu acendrado patriotismo não mereçam inteiramente.»

“Europa Primeiro”, que transportava elementos da “Mocidade Portuguesa Feminina”, acompanhou a partida do “Colonial”

 

 

 

«O “Colonial”, em que viajam o Chefe de Estado e a sua comitiva, começa a descer o Tejo, entre dezenas de barcos embandeirados, donde parte, entusiásticas, as últimas manifestações de despedida»

De forma a assinalar para a posteridade o acto histórico, foi decidido gravar na pedra das duas colunatas do “Cais das Colunas” de Lisboa uma mensagem do Presidente da República e outra do Presidente do Conselho:

«AQUI EMBARCOU O CHEFE DO ESTADO PARA A PRIMEIRA VIAGEM ÀS TERRAS ULTRAMARINAS DO IMPÉRIO: SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE E ANGOLA.

XI DE JULHO - XXX DE AGOSTO DE MCMXXXVIII

COM A CERTEZA DE QUE FALA PELA MINHA VOZ PORTUGAL INTEIRO, PROCLAMO A UNIDADE INDESTRUTÍVEL E ETERNA DE PORTUGAL DE AQUÉM E ALÉM MAR - GENERAL CARMONA»

«A SEGUNDA VIAGEM DO CHEFE DO ESTADO ÀS TERRAS ULTRAMARINAS DO IMPÉRIO: CABO VERDE, MOÇAMBIQUE E ANGOLA.

XVII DE JUNHO - XII DE SETEMBRO DE MCMXXXIX

A VIAGEM DO CHEFE DO ESTADO ÀS TERRAS DO IMPÉRIO EM ÁFRICA ESTÁ NA MESMA DIRECTRIZ DAS NOSSAS PREOCUPAÇÕES E FINALIDADE, É MANIFESTAÇÃO DO MESMO ESPÍRITO QUE PÔS DE PÉ O ACTO COLONIAL - SALAZAR.»

Entretanto a revista Ilustração no seu número de 1 de Setembro de 1939 noticiava

O regresso do general Óscar Carmona, em 12 de Setembro de 1939, seria obscurecido pelos ventos que já sopravam da Europa: começara a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mas, para Portugal, as memórias dessas duas viagem seriam guardadas para sempre naquela entrada simbólica de Lisboa.

«Caracterizou o desembarque do Sr. Presidente da República uma simplicidade que, nem por isso, deixou de ter a sua beleza.
Não se via, no Terreiro do Paço, a mancha purpurina dos pavilhões do costume, armados ali para as recepções solenes. E nem a guarnição formada nas ruas, nem o Corpo Diplomático, com as suas fardas chamarradas de ouro e faiscantes de condecorações, aguardavam festivamente a chegada do Sr. General Carmona.
Em tudo houve a discrição e ausência de galas ostentosas aconselhada pela gravidade dos acontecimentos que amarguram a Europa.
Umas dezenas de milhares de pessoas aglomeradas na vastidão do Terreiro do Paço, e postadas ao longo do trajecto até Cascais, e que não haviam sido atraídas pelo espectáculo dum luzido cortejo, manifestaram, com a sua presença, impressivamente, o aplauso sincero e agradecido dos portugueses ao ínclito Chefe de Estado.
É que no espírito de todos existe a convicção, profunda e instintiva, do que o sacrifício a que êle se submeteu, com rara noção do dever, assegurou, nesta hora incerta e inquietante, vantagens singularmente relevantes para os intereêsses de Portugal e do seu Império.» in: “Boletim Geral das Colónias”

Chegada do paquete “Colonial” frente à Praça do Comércio

Notícia na revista “Ilustração”

 

Já quando o paquete "Colonial" entrava na barra do Tejo, em frente a S. José de Ribamar, o Presidente do Conselho de Administração da "Companhia Colonial de Navegação" inaugurou uma placa comemorativa evocativa desta viagem, na qual foi inscrita a seguinte mensagem:

«A esta unidade da Companhia Colonial de Navegação foi dada a honra de transportar às Colónias de África Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, Senhor General António Óscar de Fragoso Carmona, sendo Presidente do Conselho de Ministros o Excelentíssimo Senhor Doutor António de Oliveira Salazar e Ministro das Colónias o Excelentíssimo Senhor Dr. Francisco José Vieira Machado, que acompanhou o Venerando Chefe de Estado. - 17/6/939 a 12/9/939»

General Óscar Carmona recebido pelo Presidente do Conselho Dr. Oliveira Salazar, no “Cais das Colunas”

 

 

 

Acerca da reportagem fotográfica completa desta viagem presidencial às colónias portugueses, consultar o seguinte link: Memorias d’Africa e d’Oriente”.

fotos in:  Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Memorias d’Africa e d’Oriente, Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital

4 comentários:

João Celorico disse...

Caro José Leite,
E perante o fervor pátrio destas fotos da partida, ninguém imagina o cenário da tragédia, ocorrida apenas 6 meses antes, mais precisamente no dia 19 de Dezembro de 1938, neste mesmo local. Refiro-me ao naufrágio do “Tonecas”, depois de ser abalroado por uma draga, “Finalmarina”.
Nestas mesmas fotos lá estão, entre outros, a “D.Fernando e Glória”, contratorpedeiro “Douro” e rebocador da Polícia Marítima “Atro”, que presenciando o acontecimento, ajudaram no salvamento dos infelizes náufragos.

Cumprimentos,
João Celorico

José Leite disse...

Caro João Celorico

Grato pela sua informação e lembrança adicionais.

Já tinha passado por fotos dessa tragédia, mas não apercebi do ano da sua ocorrência.

Os meus cumprimentos

José Leite

Luis Eme disse...

excelente documento histórico.

José Leite disse...

Caro Luís Eme

Muito agradecido pelo seu amável comentário.

Cumprimentos

José Leite