A “Ponte Luiz I”, mais conhecida por “Ponte D. Luís”, e que liga a cidade do Porto à cidade de Vila Nova de Gaia, sobre o rio Douro, teve o seu arco e tabuleiro superior, inaugurados a 31 de Outubro de 1886, dia do aniversário do Rei D. Luiz I, sendo o tabuleiro inferior inaugurado do final do ano seguinte.
“Ponte Luiz I”
Tabuleiro superior Entrada para o tabuleiro inferior
Notícia, na revista “Occidente” de 21 de Novembro de 1886, acerca da inauguração do tabuleiro superior
A afirmação de que devido à ausência do rei D. Luís I na inauguração, decidiu a população do Porto, em resposta ao acto desrespeitoso, retirar o "Dom" do respectivo nome parecem não corresponder à realidade, sendo assim uma lenda. A atestar tal facto, refira-se que nas notícias nos jornais durante o período da sua construção a ponte era designada por "Ponte Luiz I"; também outras importantes construções da mesma época com os nomes de membros da família real não tinham os títulos nos seus nomes, caso da ponte ferroviária Maria Pia (e não Dona Maria Pia), dedicada à rainha, e do velódromo Maria Amélia (e não Dona Amélia), dedicado à futura rainha consorte do rei D. Carlos; acrescente-se ainda que apesar de o nome oficial da ponte ser "Luiz I", conforme atestam as inscrições nas placas dos pegões-encontro sobre as entradas do tabuleiro inferior, a população do Porto sempre a chamou de "Ponte D. Luís", salvaguardando o título do rei com quem a cidade tinha grande proximidade.
“Ponte Maria Pia”
Um pouco à semelhança do que sucedeu noutros recantos europeus, a construção de pontes em Portugal acompanhou o próprio processo de abertura de novas estradas, no âmbito da política do Presidente do Conselho de Ministros, Fontes Pereira de Mello, que tinha tomado posse a 13 de Setembro de 1871 pelo Partido Regenerador, período geralmente conhecido por Regeneração. E foi neste ambiente, que a primeira ponte metálica lançada em território nacional teve lugar na cidade do Porto, sobre o rio Douro, a conhecida Ponte pênsil “D. Maria II", que ligava a cidade do Porto a Vila Nova de Gaia, certamente graças à grande actividade comercial que caracterizava a urbe e à considerável comunidade de origem britânica que aí residia desde há longa data.
Ponte pênsil “D. Maria II”
É neste contexto que, depois de a ponte ferroviária "Ponte Maria Pia", projectada por Gustave Eiffel, ter sido construída entre 1876 e 1877, para dar continuidade à linha férrea do Norte, a "Ponte Luiz I" foi apresentada a concurso em 1880, a fim de substituir a antiga Ponte pênsil “D. Maria II" (aberta ao trânsito em 1843), ela própria uma substituição da "Ponte das Barcas" (inaugurada em 1806), a localizar sobre o rio Douro, entre o morro granítico onde se ergue a "Sé Catedral" portuense e a encosta fronteira da “Serra do Pilar”, em Vila Nova de Gaia.
O anteprojecto que serviria de base ao referido concurso foi, então, entregue ao engenheiro João Joaquim de Matos, onde se definiam os moldes estruturais pelos quais se deveria reger o projecto final, tendo como principal elemento regulador a obrigatoriedade da existência de dois tabuleiros, que serviriam para ligar as partes ribeirinha e superior do Porto e de Vila Nova de Gaia. Em Novembro de 1880 são apresentados a concurso, para a construção de uma ponte metálica com dois tabuleiros, os projectos das “Compagnie de Fives-Lille, Cail & C.ie”, “Schneider & C.”, “Gustave Eiffel, Lecoq e C.ie”, “Société de Braine-le-Comte”, “Société dês Batognolles” (dois projectos), “Andrew Handyside & C.”, “Société Anonyme de construction e des ateliers de Wilelbroek”, (dois projectos), e John Dixon.
Projecto duma ponte com tabuleiro inferior levadiço apresentado por “Gustave Eiffel, Lecoq e C.ie”
Projecto original da empresa vencedora “Société Anonyme de construction e des ateliers de Wilelbroek”
Em Janeiro de 1881, é deliberado que um dos projectos propostos pela “Société Anonyme de construction e des ateliers de Wilelbroek”, no valor de 369. 000$000 réis, é o que oferece melhores condições, e em 28 de Novembro de 1881 a obra é adjudicada a esta sociedade belga, de Bruxelas, pela quantia de 402 contos de réis. Era seu administrador Theophile Seyrig, ex-discípulo e sócio de Gustave Eiffel, que assinou como único autor o projecto da nova ponte, o que poderá explicar a sua semelhança com a “Ponte Maria Pia”, já que segundo tudo leva a crer, já fora o autor da concepção e chefe da equipa de projecto desta, enquanto sócio de Gustave Eiffel.
Supervisionada pelo engenheiro belga, em representação da empresa Willebroeck, Artur Maury, e fiscalizada pelo engenheiro português José Macedo Araújo Júnior, a sua construção, efectuada ao lado da antiga “Ponte Pênsil D. Maria II” mais tarde desmontada, resultou numa ponte de consideráveis dimensões. Formada por um arco central de rótula, biarticulado, com um vão de 180 metros, comporta um tabuleiro superior de 391 metros de extensão e outro tabuleiro inferior com 174m, e ambos com cinco metros de largura. De importância capital na rede de circulação urbana, acabaram por ser o arco e o tabuleiro superior inaugurados, em primeiro lugar, em 31 de Outubro de 1886. O tabuleiro inferior seria inaugurado no ano seguinte em 1887.
No seu piso superior, o "Americano" começou a funcionar no ano seguinte (a licença / alvará de 21 de Março de 1896, para a linha férrea dos carros americanos - puxados por tracção animal é de 1895), substituído anos mais tarde pelos eléctricos amarelos, que por sua vez vieram a dar lugar aos “trolleybuses”, aos autocarros e finalmente e actualmente em exclusivo ao metro de superfície, como veremos mais adiante.
De referir que a 1ª linha de eléctrico do Porto - entre a Praça da Batalha e a Estação Ferroviária das Devezas em Vila Nova de Gaia - concessionada a Emílio Biel (empresário ligado à comercialização de material eléctrico, fotografia e publicações editoriais), entra em funcionamento por volta de 1900. No entanto, num negócio lucrativo Emílio Biel arrenda, em 1901, os direitos das concessões e das licenças respeitantes à Linha da Batalha às Devezas à "Companhia Carris de Ferro do Porto" a quem acabaria por vender esses direitos em 1910.
Em 1 de Janeiro de 1944, são extintas as portagens na ponte, já a favor da Câmara Municipal do Porto. Estas portagens a peões tinha sido introduzida a 1 de Novembro de 1886, a favor da empresa adjudicatária, sendo o preço de cinco reis para a passagem de peões. Chegou a utilizar-se, como forma de pagamento, um sistema de fichas próprias que eram também aceites como boa moeda em diversos estabelecimentos comerciais.
“Ponte Luiz I” já com circulação de Eléctricos
Primeiro posto de portagem, e último já em demolição
Em 1954, são efectuadas obras de reparação, sob o projecto do engenheiro Edgar Cardoso, em que se procedeu ao aligeiramento dos dois pavimentos e à remoção dos elétricos, passando a circular, além dos automóveis, “trolleybuses” e autocarros.
A 27 Junho de 2003, verifica-se o encerramento ao transito do tabuleiro superior, para adaptação da estrutura ao metro de superfície, tendo a respectiva linha e a passagem de peões no tabuleiro superior, sido inauguradas a 18 de Setembro de 2005. O piso inferior, é utilizado para circulação automóvel e de peões.
Em 2012, uma inspeção das “Estradas de Portugal” - antiga “Junta Autónoma das Estradas” - concluiu que a ponte precisava de obras de manutenção e reabilitação, nomeadamente ao nível do pavimento, juntas de dilatação, e pintura de vigas e guarda-corpos. Durante o mês de Agosto de 2013 foi efectuada uma «manutenção regular no tabuleiro superior»
Fotos in: Arquivo Municipal do Porto, Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian
6 comentários:
Parabéns, mais um excelente trabalho.
Manuel
Caro Manuel Ferreira
Grato pelo seu amável comentário
Os meus cumprimentos
José Leite
Olá amigo
excelente trabalho,
obrigado
jpintomendes
Caro Pinto Mendes
Grato pelo seu comentário
Cumprimentos
José Leite
De que modo posso obter autorização para usar algumas das fotografias numa exposição de homenagem a G. Eiffel?
Adília Fernandes
D. Adília Fernandes
Se a exposição de homenagem não tiver objectivo comercial e apenas didáctico,as fotografias podem ser utilizadas livremente, já que se encontram no domínio público.
Se as utilizar para algum fim comercial terá de contactar os proprietários das mesmas para a devida autorização.
Os meus cumprimentos
José Leite
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