Restos de Colecção: Escola do Magistério Primário

15 de julho de 2013

Escola do Magistério Primário

A formação de professores do ensino primário e secundário, apenas foi iniciado em 1901 em Portugal, no entanto, as primeiras tentativas para a formação de professores primários datam de 1816.

Na sequência da criação das escolas militares de primeiras letras,  no dia 1 de Março de 1816 entra em funcionamento a primeira Escola Normal para os candidatos a mestres e seus ajudantes das escolas Particulares do Exército. O método adoptado era o do ensino mútuo. O seu primeiro director foi João Crisóstomo do Couto e Mello, capitão do Real Corpo de Engenharia e Lente de Táctica e Fortificação do rela Colégio Militar da Luz. A escola ficou instalada na Calçada da Ajuda, a Belém, no Quartel da Guarda dos Corpos Até 15 de Outubro de 1818 habilitou 68 professores, entre mestres e ajudantes. Desde começos de 1817 até fins de 1818,  as 55 escolas militares de primeiras letras, terão sido frequentadas por um total de 3.843 alunos, sendo 1891 militares e 1952 cívis.

                                                                       Diploma de 15 de Julho de 1899

                                              

Em 1900 o panorama do Ensino Primário, e secundário, em Portugal revelava já um enorme atraso face à maioria dos países europeus. Para uma população de 5.423.132 habitantes, existiiam apenas 4.495 escolas primárias oficiais, sendo 2.825 do sexo masculino e 1.345 do sexo feminino, frequentadas por 179.640 alunos. Em todo o país, como refere Joaquim Ferreira Gomes, contavam-se ainda 1.579 escolas particulares (600 do sexo masculino e 979 do sexo feminino), frequentadas por 51.599 alunos. O total de professores primários, incluindo os seus ajudantes, não ultrapassava os 5.984. A taxa de alfabetização, para os indivíduos com idades superiores a 7 anos, não ultrapassava os 26%. Apenas na Europa Oriental, mais exactamente na Sérvia se encontravam taxas de alfabetização simílares.

Em 1901 seria criado o primeiro sistema de formação de professores para o ensino secundário (liceus e escolas industriais e comerciais). Os estudos de pedagogia e psicopedagogia ultrapassaram também, entre nós, por esta altura, a sua fase embrionária. Um nova etapa começara na formação de professores.

A Escola Normal Primária de Lisboa (1862-1930) foi o estabelecimento de referência em Portugal para a formação de professores do então denominado ensino primário durante a última metade do século XIX e o primeiro quartel do século XX. Fundada por decreto do rei D. Luís I de Portugal no ano de 1862, manteve-se em funcionamento até ser extinta em 1930 no decurso da reforma educativa conduzida pelo governo do Estado Novo.

       Antigo Palácio dos Marqueses de Abrantes onde esteve instalada a Escola Normal Primária de Lisboa até 1919

 

Inicialmente destinada apenas a professores do sexo masculino, a Escola Normal Primária de Lisboa, instalada no Palácio dos Marqueses de Abrantes, em Marvila, foi complementada, em 1866, por uma Escola Normal Feminina, localizada no Calvário. As duas escolas fundiram-se em 1919 e passaram a funcionar em regime de co-educação, em edifício próprio, construído na Quinta de Marrocos.

                 Cerimónia da primeira pedra com o Presidente Bernardino Machado, em 18 de Dezembro de 1916

                                       

O edifício da Escola Normal Primária de Lisboa, localizado na Quinta de Marrocos, no bairro de Benfica em Lisboa, foi construído entre 1916 e 1918, propositadamente para albergar a instituição, segundo projecto do arquitecto Adães Bermudes. Foi um dos mais marcantes investimentos do regime da I República (1910-1926) em infra-estruturas escolares, tendo sido inaugurado pelo Presidente da República Bernardino Machado.

                                                                        Escola do Magistério Primário

                                 

                                 

 

                                 

 

                                       

A Escola Normal Primária de Lisboa permaneceu naquele edifício até 1930, ano em que as escolas normais portuguesas foram extintas e substituídas pelas Escolas do Magistério Primário. A Escola do Magistério Primário de Lisboa, entidade que a substituiu, funcionou no edifício desde 1930 até à sua extinção em 1979, transformando-se na actual Escola Superior de Educação de Lisboa, que absorveu as suas instalações e pessoal.

 

A Escola Superior de Educação de Lisboa, está inserida no actual no Campus do Instituto Politécnico de Lisboa, em Benfica.

Acerca do ensino primário em Portugal, sugiro a consulta do artigo neste blog, no seguinte link: Ensino Primário

fotos in: Do Alto do Sombreiro, Marcas das Ciências e das Técnicas, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Instituto Politécnico de Lisboa

5 comentários:

J A disse...

As minhas memórias desta escola entre 1963-1967....é a lama, os abusos físicos (reguada até chorar), e a pobreza profunda que fazia parte do dia a dia de alguns dos meus colegas (alguns nem sapatos tinham). A pior das memórias ficou das sras. da Santa Casa da Misericórdia, que por volta do Natal, vinham doar roupa aos mais carenciados. Vestiam-nos em frente de toda a classe, num vexame absoluto. O que mais aprendi nesta escola foi consciência social (mas creio que não era essa a intenção).

Anónimo disse...

Tenho vivas a saudosas recordações do meu tempo de escola primária, com bons e conscienciosos professores. Aprendi muito,pois havia ambiente disciplinar e também algumas reguadas. Hoje, vejo muita indisciplina nas escolas, uma certa ignorância e falta de profissionalismo de professores e incapacidade de criarem ambiente onde os alunos possam aprender. Há muita violência e droga, razão porque muitos alunos passam sem os correspondentes conhecimentos. Que diferença.

Anónimo disse...

Eu estou na quinta fotografia a contar de baixo do lado direito: sou o quarto aluno do lado esquerdo a contar da frente. A professora primária chamava-se Maria Luísa. A fotografia terá sido tirada em 1970-1971. Confirmo o que o Julio Amorim refere em cima. Lembro-me da sopa à hora de almoço servida na cantina que estava nas traseiras do lado esquerdo do edifício principal, do leite vigor no intervalo da manhã, da pobreza (especialmente dos colegas do Bairro da Boavista, eu morava no Calhariz de Benfica no largo Curvo Semedo do outro lado da rua onde estava - e ainda está - a casa do General Freire de Andrade), das réguadas, da cana que para além de ser usada para apontar também erá usada para bater, da lamaçal à volta de todos os edifícios, do campo de futebol e da pista de cinzas à sua volta, do reitor plantar choupos no dia da árvore em frente ao edifício principal, onde as raparigas tinham aulas - os rapazes tinham aulas nos 2 edifícios mais pequenos que o ladeavam.
Muitas das senhoras que estavam a tirar o curso iam para o Ultramar. Lembro-me de um grupo em que uma timorense ou moçambicana, nos mostrou a pele de uma cobra que me pareceu gigantesca - e até era grande, porque esticada ia desde a secretária da professora até ao fundo da sala.
As carteiras eram em madeira e ai de quem fosse apanhado a riscá-las!...
Quando terminei a 4.ª classe fui para a Delfim Santos em frente ao Jardim Zoológico. No ano em que entrei foi o primeiro ano em que as turmas passaram a ser mistas.
Meu Deus: o tempo que passou desde que a fotografia foi tirada...
José

Anónimo disse...

Anónimo,

Estive a ler o seu comentário, sobre a Escola. Contudo não refere (em tudo o que faziam de errado), falta referir que, nos colocavam de castigo à janela, com umas enormes "orelhas de Burro), não porque o fosse-mos, mas sim porque lhes dava gozo. Tal como lhes dava "GOZO", levar-mos umas belas réguadas, caso encontrasse-mos uma "noviça" no caminho, e não fosse-mos beijar o crucifixo de joelhos. Tinha apenas 6 anos, mas recordo tudo isso como se fosse hoje!
Cambada , na altura era em demasia. Para não falar das filas: "burros, bons e muito bons! Que eram avaliados, pela sua condição económica. Nada mais.
Quem recorda a ourivesaria, da Mãe da Madalena Iglésias, do outro lado da estrada? Mais defronte mesmo aos Bombeiros? Eu, recordo, pois passava lá bons momentos.

Tenho uma irmã, a mais velha, que todos os dias, ia a um talho de carne de cavalo, no lado oposto ao caminho para a Escola. E, que o Senhor do mesmo lhe dava todos os dias, um bife (ela adorava carne crua). Comia com imensa satisfação.

Voltando ao tema principal, (a escola), era de arrepiar. O que eu me esforçava para fugir a uma aula. Certa vez, andavam por lá umas vacas a pastar, e, eu fugi. Fugi tanto, mas, tanto, que fui cair num buraco que por lá andavam a fazer. Não me magoei. Mas, não consegui sair, o mesmo era fundo.
Gritei o quanto pude, mas nada..... lá deram comigo, FELIZMENTE, fora do horário escolar. Lá me retiraram dali, e fui para casa. :) safei-me, naquele dia. Tenho tanto para contar, mas, ficaria muito extenso.

Na verdade sofremos imenso, mas, não havia hipótese de abusar-mos, conforme o fazem nos dias de hoje. Foram tempos difíceis....., mas, que dão para "recordar"

E ter-mos de andar ao musgo para fazer o Presépio? Era o que mais gostava.

Mas, ficam as lembranças, boas e más... confesso que pregava algumas partidas, aos Prof...., mas pensando bem, não me arrependo!

Boa sorte!

23/10/2019, 16:52

Maria João Pinto de Sousa disse...

Hoje ,a minha mãe andava a pesquisar com a minha irmã , por fotografias das antigas escolas onde estudou e lecionou ,e eis que se descobriu numa destas fotos ( na última ) . Foi uma grata surpresa e ambas divertiram-se imenso com o inesperado . Muito obrigada pela partilha . Gostava de saber onde obteve essa foto , para tentar perceber se haverá outras a que pudessemos ter acesso . Esta foto deverá ser de 1957 , porque ela disse que teria uns 18 anos e nasceu em 1939 .