O “Hotel do Mar”, em Sesimbra, foi mandado construir por João Alcobia em sociedade com os irmãos José e Manuel Gonçalves, donos do “Diário de Notícias”. João Jorge de Mascarenhas e Menezes Alcobia era proprietário da prestigiada empresa de mobiliário "Jalco - Móveis e Decorações, SARL" que ocupava um edifício de 5 andares na Rua Ivens, em Lisboa.
“Hotel do Mar” em 1966
Espaço que viria a ser ocupado pelo “Hotel do Mar”
O projecto ficou a cargo do arquitecto Francisco da Conceição e Silva (1922-1982), especializado em vivendas de luxo e concepção de móveis, que já tinha efectuado, em 1953, uma exposição na Jalco. Apesar do projecto datar de 1956, o pedido de construção só foi apresentado em 1962.
A construção foi feita por fases, sendo a primeira que se resumia ao "baluarte" dominado pela construção em madeira, da zona de bar e refeições, e a 4 pisos de quartos que acompanhavam a inclinação do terreno, em "escada".Nesta primeira fase ainda não contava com a piscina que só seria integrada na segunda fase.
«A solução adoptada para o Hotel do Mar pode muito bem ter sido influenciada pela ideia original, de uma moradia familiar extendida. Ocupando a encosta poente do vale de Telheiros, os 62 quartos, que em vez de varandas tinham pequenos logradouros ajardinados, orientavam-se para sudeste, com uma esplêndida vista sobre a baía e a vila.» in: o Sesimbrense
Construção da 1ª fase
A construção do "Hotel do Mar" ficou a cargo da empresa "Sociedade de Construções ERG, Lda." fundada em 12 de Janeiro de 1920, e que já tinha obra feita em Sesimbra, o Bairro Infante D. Henrique e o Cine-Teatro João Mota. O engenheiro responsável desta obra foi o engenheiro José Lampreia.
A inauguração desta primeira fase, com 70 quartos, foi em 1963. O mobiliário e a decoração do Hotel ficou a cargo de João Alcobia e o arquitecto Conceição e Silva.
Primeira foto oficial do “Hotel do Mar”
“Hotel do Mar” após a sua inauguração em 1963
Primeiro folheto promocional impresso em Novembro de 1963
O “Hotel do Mar” ,vai ter sucessivas ampliações, numa primeira fase dotando-o de duas piscinas circulares, em contraponto às linhas ortogonais do edifício, e de um novo restaurante que ocupa a cobertura do corpo dos quartos, inscrevendo-se como um leve pavilhão de madeira recuado. Em 1965, a Jalco adquire o terreno que liga o Hotel à Avenida do Atlântico, ampliando a capacidade hoteleira.
Antes da construção da 2ª fase
Construção da piscina e 2ª fase
Em 6 de Agosto de 1966 foi inaugurada a 2ª fase do “Hotel do Mar”. Neste mesmo dia seria inaugurada a "Ponte Salazar", tendo o Presidente da República, Almirante Américo Tomás, pernoitado nesta unidade hoteleira de 5 para 6 de Agosto e depois de ter presidido à cerimónia de inauguração seguiu directamente para a inauguração da Ponte, onde chegou às 10h 30m.
João Alcobia e o Presidente da República Almirante Américo Tomaz na inauguração da 2ª fase do “Hotel do Mar”
Uma curiosidade: Com a finalidade de publicitar o “Hotel do Mar”, João Alcobia lembrou-se de mandar fazer um filme publicitário. A encomenda acabou por calhar a um jovem realizador sem muita experiência, e que tinha acabado de "estagiar", como assistente, com o famoso Michelangelo Antonioni no filme “O Eclipse”. Tratava-se de José Fonseca e Costa
João Alcobia queria um filme publicitário, e o jovem cineasta queria fazer obra de arte, pelo que o que resultou foi "E Era o Vento... e Era o Mar..." um filme/documentário de 11 minutos, e que seria o primeiro filme deste conhecido realizador de cinema português.
O filme era uma abordagem inovadora num filme sobre um hotel de praia, com ênfase na sua arquitectura e design de interiores, em contraste com o rico patrimônio natural e construído da vila de Sesimbra, lado a lado com atividade tradicionais pescadores.
Diz-se que João Alcobia ficou furioso com a "obra de arte". O filme teve uma projecção no cinema de Sesimbra, em Novembro de 1966. Recentemente, a propósito duma visita organizada pela Associação dos Arquitectos à obra de Francisco Conceição Silva, voltou a ser aqui projectado, e houve uma edição em DVD.
E falando em cinema …
Estadia da actriz sueca Inger Nilsson que se tornou famosa na série “Pipi das Meias Altas”
Painel artístico de André Semblano
Nos anos 90 do século XX, Al Baker, um investidor árabe hoje com outros interesses na região, como é o caso da Mata Norte, na Herdade da Apostiça, viria a adquirir este hotel.
Al Baker viria a promover a sua ampliação para uma terceira fase do “Hotel do Mar”, que se prolongou para o lado poente. Esta construção já não tem o mesmo padrão orgânico, colado ao terreno, das fases iniciais mas, ainda assim, o novo edifício mantém algumas características valorizadoras, como o facto de dispor de salas para congressos no piso superior, com vista para o mar, algo pouco vulgar em unidades hoteleiras.
“Hotel do Mar” actualmente
Actualmente o “Hotel do Mar” tem um total de 160 quartos e 8 suites, executivas, júnior e uma delas presidencial.
Bibliografia: Jornal “O Sesimbrense” e “Jornal Arquitectos” nº 227
Nota: Muito agradeço a colaboração de João Augusto Aldeia, proprietário do blog “Sesimbra”, e de Nuno Oliveira, proprietário do blog “Reverentia” ,na cedência de fotos e desenhos para a elaboração deste artigo.
Outras fotos: Delcampe.net, André Semblano
10 comentários:
Um post muito interessante. Para quem, como eu, que só conhece o hotel por fora, foi um gosto saber a sua história, desde os tempos em que ainda havia investidores nacionais.
Cumprimentos,
Manuel Tomaz
Fabuloso, José, parabéns e obrigado pela amável referência que me fez.
Que saudades da minha infância.
Um abraço
Caro Nuno Oliveira
Eu é que agradeço a sua preciosa colaboração, a par da do sr. João Aldeia,que me permitiram elaborar condignamente o artigo acerca deste Hotel, na vila de Sesimbra que me é tão grata.
Aproveito para agradecer o «material» adicional que me enviou, e que vou, de pronto, incluir.
Um abraço
José Leite
Fabulosa esta última introdução que revela a sua fina atenção.
parabéns, uma vez mais.
Um post interessante , gostaria de saber se alguém sabe nos anos 70 de quem são as obras serigrafias que decoravam o Hotel.
Parabéns pelo trabalho , Norberto .
Boa tarde.
Estou a gostar muito do que aqui vejo sobre este hotel, sobre a casa Jalco e é exatamente isso que me trás aqui. O meu pai Quirino Freitas, foi o desenhador permanente da Casa Jalco por 40 anos. Trabalhou em desenho de perspetiva de móveis e decoração tendo contribuindo para todo o grande glamour desta casa. Curiosamente o meu meu avô José Freitas, o mestre de obras da Jalco, em trabalho na construção do Hotel do Mar, 1ª fase, aqui faleceu, na sua construção tendo caído de um andaime...
Estórias da história...
Continuo à procura de informação para juntar aos desenhos do meu pai.
Obrigada
Maria de Freitas
Boa tarde,
Obrigado pelo excelente artigo.
Não pude deixar de ler com espanto o seu comentário cara Maria de Freitas, pois estou neste momento a investigar sobre o mobiliário desenvolvido e impulsionado pela obra do Arq. Conceição Silva e como tal interessa-me muito a sua passagem pela Casa Jalco.
Gostaria de lhe fazer umas perguntas caso tivesse disponibilidade :)
Obrigado e até breve,
Alexandre
Obrigado pelo excelente artigo,
Cara Maria de Freitas, não pude deixar de reparar no seu comentário, pois interessa-me muito a passagem do Arq. Conceição Silva na Casa Jalco.
Teria disponibilidade para eu lhe fazer umas breves perguntas? :)
Obrigado,
Alexandre Cunha
Obrigado pelo excelente artigo,
Cara Maria de Freitas, não pude deixar de reparar no seu comentário, pois interessa-me muito a passagem do Arq. Conceição Silva na Casa Jalco.
Teria disponibilidade para eu lhe fazer umas breves perguntas? :)
Obrigado,
Alexandre Cunha
Excelente artigo,
Hotel do Mar mantém hoje muito do charme inicial, incluindo mobiliário.
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