Em 1855, era construído na Rua da Fábrica na cidade do Porto, um edifício apalaçado, por Manuel Fernandes da Costa Guimarães, negociante do Porto, que em 1877 albergaria o “Grand Hotel de Paris”. A “Sociedade Filarmónica Portuense” foi o seu primeiro inquilino, seguindo-se-lhe, em 1846, a “Hospedaria Francesa” de João Baptista Arismendi, antecessora do “Grand Hotel de Paris”.
Em 17 de Dezembro de 1877, com a finalidade de instalar o “Grand Hotel de Paris” neste edifício de Rua da Fábrica é constituída a sociedade, em comandita, “Dupuy & Cª”, com um capital social de 50:000$000 réis, constituída pelos seguintes sócios: Leopold Gabriel Dupuy, comanditado, pelo que era também director e gerente do Hotel, e os comanditos Manuel da Costa Guimarães, João Baptista de Castro, Ernesto Chardron, H, Lugan, António Rebello e Francisco Moreira. Lembro que Ernesto Chardron, depois de ter fundado, em 1866, a “Livraria Internacional”, viria anos mais tarde a fundar a “Livraria Chardron” que, a partir de 1919, passa a designar-se “Livraria Lello & Irmão”.
O “Grand Hotel de Paris”, o hotel mais antigo do Porto, foi inaugurado em 27 de Novembro de 1877. Os primeiros preços praticados neste Hotel para os seus 42 alojamentos eram 1$200, 1$300, e 1$400 réis. Em 20 de Novembro de 1878, seria inaugurado o seu “Café-Restaurante”.
1877
Como diz o anúncio anterior, o “Grand Hotel de Paris” era sucursal do “Hotel de Paris” em Lisboa, anúncio de 1913
1958
Pelo anúncio da inauguração, publicado na imprensa em Novembro de 1877, além do conforto da cama, do requinte da cozinha e «da maior limpeza», fica-se a saber: «Os quartos, as salas e demais dependencias estão ligadas por communicações electricas, para os criados acudirem prontos ao chamamento» dos hóspedes. «Os viajantes» que pernoitem no Paris encontram «banhos a todas as horas» e, na Sala de Leitura, jornais portugueses «de Lisboa, Porto e das províncias, jornaes ingleses, francezes e hespanhoes» estarão à disposição dos seus hóspedes.
1878 1895
1913
1935
Um ano após a abertura, o hotel é referência na cidade e continua a surpreender. Abre a sala “Café-Restaurante”, com serviço à lista, e «três salões de jogos ricamente adornados, abertos até depois da hora do teatro». Há saraus musicais no jardim «iluminado à veneziana». Em 1881, surge «novo melhoramento para recreio das famílias que nele habitam», refere a imprensa da altura. Eram os "jantares concerto". Os comensais, porém, «tiravam toda a sentimentalidade ao trecho do mavioso Bellini e serviam-se com uma bizarria notável das iguarias».
Anos 70 do século XX 1956
Este Hotel teve vários proprietários. Depois de no início do século XX, e até 1919, pertenceu a Manuel Gonçalves da Gama, seguido de outro francês, Gustave Cèrez, entre 1908 e 1919. Depois deste, e entre 1919 e 1955, pertenceu ao português A. Teixeira de Carvalho, que foi seguido em 1956 pelos novos proprietários galegos, José Martinez Lago, Constante Gonzalez Lorenzo, Manuel Vila Barciela e Carmen Vila Barciela, sócios da “Sociedade do Grande Hotel de Paris”. Nesta altura o restaurante tinha a fama de servir os melhores acepipes da cidade do Porto, e ficou conhecido como “Casa Transmontana”, por ser frequentado por muitos viajantes de Trás-os-Montes.
A. Teixeira de Carvalho, ao centro José Martinez Lago
Equipe do “Grande Hotel de Paris” nos anos 30 do século XX
Personalidades maiores da cultura portuguesa do final do século XIX, como Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro ou Rafael Bordalo Pinheiro, hospedaram-se no “Grand Hotel de Paris”.
Eça de Queirós foi hóspede entre Novembro de 1885 e 10 de Fevereiro de 1886, data do seu casamento com Emília de Castro. Deste hotel, o escritor enviou durante esses dois meses, por mão de mensageiro, catorze curtos bilhetes ao Palácio de Santo Ovídio, residência da noiva.
Jardim interior
Camilo Castelo Branco, que também viveria neste Hotel, durante um período particularmente depressivo da sua vida, do qual recuperou graças às artes mágicas de D. Gertrudes, a cozinheira. O que nos leva a outra história: no famoso naufrágio no Douro em que o Barão de Forrester perdeu a vida, tendo-se salvo Camilo Castelo Branco e D. Antónia Ferreira, a “Ferreirinha”, faleceu igualmente a cozinheira D. Gertrudes. Camilo levara-a para proporcionar um piquenique de luxo aos seus companheiros de viagem, e veio mais tarde a afirmar ter sido essa a perda mais lamentável no trágico acidente.
Desde 1999, altura em David Ferreira, director e homem de família transmontana e que estava ligado às viagens e turismo, adquiriu este Hotel, que é o mais antigo da cidade do Porto, aos antigos proprietários galegos, tem-se procedido e mantido um trabalho de restauro, de preservação da identidade do hotel e sua personalidade histórica. Além da reestruturação dos serviços hoteleiros fundamentais, que passou a hotel residencial (sem serviço de almoços e jantares) de 2 estrelas, dezenas de peças de época têm sido recuperadas, despontando, nas suas alas, um simpático “hotel museu”, evocando memórias de episódios fortuitos e hóspedes famosos. Actualmente está classificado com três estrelas.
Logótipos anterior e actual
O interior do “Grande Hotel de Paris”, actualmente sábia e impecávelmente preservado
Nota: grande parte do texto foi compilado a partir da história disponibilizada no site do Grande Hotel de Paris.
fotos in: Grande Hotel de Paris, Hemeroteca Digital
4 comentários:
Do livro "Grande Hotel de Paris - Uma História no Porto", Edições Afrontamento.
Caro Octávio Félix
Pelo que deduzo que, a história disponibilizada no site do Grande Hotel de Paris está contida no livro que indica, ou vice-versa.
Aqui fica a sua indicação.
Os meus cumprimentos
José Leite
Viva. Sim , a história disponibilizada no site do Grande Hotel de Paris tem como base o livro indicado.
Obrigado pela sua atenção.
Cumprimentos.
Octávio Félix
Espaço interessante, que manteve a traça original.
Ainda recentemente, lanchei com uma amiga, no jardim do Hotel sito nas traseiras. Éramos os únicos a saborear aquele silêncio, num entardecer lento, ameno e soalheiro.
Recomendo visita.
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