As origens dos “CTT - Correio, Telégrafos e Telefones”, remontam a 1520, ano que em que o Rei D. Manuel I fundou o primeiro serviço de correio público de Portugal criando o cargo de Correio-Mor. Os Correios passam a poder ser utilizados tanto pela Corôa como pelos particulares. Entre 1520 e 1797 coube ao Correio-Mor a responsabilidade da organização e funcionamento deste serviço de correio público.
Em 1606 Luís Gomes da Mata, um fidalgo importante, compra o ofício de Correio-Mor, que vai permanecer na família até 1797. A 18 de Janeiro de 1797 extingue esta situação com o objectivo de dar aos Correios um cariz de serviço público.
Em 17 de Setembro de 1798 foi criado o serviço de Mala-Posta (sob a administração da Superintendência Geral dos Correios), serviço de transporte de correspondência, passageiros e mercadorias entre Lisboa e Coimbra. O percurso de Lisboa até Coimbra demorava 40 horas !!!. À chegada das malas do correio era afixada, na estação dos correios, uma lista dos destinatários das cartas ou encomendas postais.
"O Serviço da Mala-Posta" entre Lisboa-Coimbra-Porto (1798-1864) numa pintura de José Pedro Roque
Este transporte encerrou em 1804 e devido às invasões francesas e posterior guerra civil, e só foi retomado muitos anos mais tarde.
Partida da Mala-Posta do Palácio do Correio-Mor em Loures, numa reconstituição histórica de 1934
Partida da Diligência em Lamego
Alguns tipos de carruagens de Mala-Posta
Carruagem de Mala-Posta Francesa utilizada na carreira Lisboa- Porto entre 1859 e 1864
Carruagem de Mala-Posta Inglesa utilizada na carreira Lisboa- Porto entre 1859 e 1864
Carruagem de Mala-Posta nº 7 utilizada na carreira Lisboa- Porto entre 1859 e 1864
Carruagem de Mala-Posta Francesa utilizada na carreira Lisboa- Porto entre 1859 e 1864
A mais antiga referência a concessionários de transportes colectivos rodoviários, para o Norte do país, data de 1851. A "Companhia de Viação Portuense", iniciativa dos abastados capitalistas José Pedro de Barros Lima, Joaquim Augusto Kopke Schewirin de Sousa (barão de Massarelos) e António Gomes dos Santos, propunha-se efectuar carreiras regulares do Porto a Braga e do Porto a Guimarães, sob o compromisso de acabar a construção das respectivas estradas. No ano seguinte, concedida a concessão, aquela companhia deu início á carreira para Braga e, em 1860 para Guimarães.
Para além da concessão para a construção das estradas, o contrato celebrado entre o Estado e a "Companhia de Viação Portuense" contemplava duas cláusulas particularmente importantes, as quais lhe conferiam «o exclusivo da exploração de diligências e de carros acelerados nas duas estradas», assim como "a condução das malas do correio nos mesmos carros, por dois terços do preço que até então se despendia com esse serviço".
Não tinham passado ainda oito meses completos desde a data da confirmação do contrato, e - após a aquisição dos necessários equipamentos e animais - já se iniciavam as carreiras de diligências entre Porto e Braga. Apesar de a estrada só ter ficado inteiramente concluída em 1855, com excepção da ponte pênsil da Trofa que teve de aguardar ainda mais três anos - as carreiras de diligências entre o Porto e Vila Nova de Famalicão iniciaram-se logo em 5 de Maio de 1852, tendo alcançado a cidade de Braga a 4 de Maio do ano seguinte.
Em meados dos anos sessenta do século XIX podia já viajar-se, diáriamente, para Braga, Famalicão, Guimarães, Barcelos, Viana do Castelo e Amarante. Ao serviço da Mala-Posta juntava-se o das diligências, que apenas acrescentava ao anterior o itinerário até à Régua.
1865 1867
Estação de muda de Mala-Posta da Ponte da Pedra
Quando Fontes Pereira de Melo assume o cargo de ministro em 1852, o país possuía apenas 218 quilómetros de estradas macadamizadas, e quando deixa o cargo em 1887, já existiam cerca de 9.000 quilómetros de estradas. Com a política fontista, é relançado em 1852 o serviço da Mala-Posta:
- Mala-Posta entre Porto, Braga e Guimarães (1852-1871), explorada pela “Companhia Viação Portuense”;
- Mala-Posta Aldeia da Galega a Badajoz (1854-1863);
- Mala-Posta de Lisboa ao Porto (1855 a 1864).
O estabelecimento do comboio no nosso país, a partir de 1856, condicionou todo o sistema de comunicações e apesar do bom serviço que as diligências prestavam na altura, a sua extinção foi irreversível, muito embora se mantivessem em atividade durante mais algum tempo.
Maqueta da Estação de Muda de Casal de Carreiros em 1856
Modelo de um pátio de uma Estação de Muda Viajantes no quarto da Estação de Muda
"Paragem na Estrada" aguarela de Mário Costa Aguarela de José Dias Sanches
fotos in: Biblioteca Nacional de Portugal, Fundação Portuguesa das Comunicações, Hemeroteca Digital
14 comentários:
Muito interessante!
Obrigada pela partilha;)
A história da família cristã-nova Gomes da Mata é muito interessante. São todos originários de Elvas, onde ainda hoje existe uma Herdade do Correio-Mor. Inclusive os fundos documentais desta família estão disponíveis no Arquivo de Elvas.
Grato pela informação adicional
Cumprimentos
José Leite
Excelente trabalho que nos possibilita ficar a conhecer coisas do passado, tão interessantes.
Caro Anónimo
Muito agardecido pelo seu comentário
Cumprimentos
Bom dia. Quem extingue em 1797 o ofício de Correio-Mor. O texto parece indicar que seria o próprio, mas penso que teria sido o rei ou o governo. Pode explicar? Obrigado.
Caro Orlando de Carvalho
Realmente tem razão.
Tenho a esclarecer que o serviço postal foi estatizado pela Coroa portuguesa, em 1797 por decreto da Rainha D. Maria I
Os meus cumprimentos
Fantástico o meio de transporte deste período na Europa.
Excelente meio o transporte deste período na história.
Adorei este artigo, vivo nas Pedreiras, Porto de Mós e tambem aqui na Estrada Real D.Maria existe ainda uma casa com um portão enorme e dizem os antigos que ali era a Mala-Posta. Eu vivo um km acima e dizem que a minha casa eram as cocheiras onde os cavalos descansavam e eram alimentados, não sei se é verdade ou não mas gostaria muito de descobrir.
Daí o meu interesse em ler este artigo e saber mais do assunto.
Boa tarde, resido nos Moleanos, aldeia no sopé da Serra e atravessada em cerca de 4km de extensão pela estrada Dona Maria Pia. Diz a tradição oral, aqui nesta aldeia de que existiam 3 estalagens, e com diversos serviços, como venda da laranja( em alguns mapas aparece este lugar, no sítio que penso que seja os Moleanos actuais), ferragens de coches, albardar burros e cavalos?, entre outros. Será que podem ajudar com os vossos registos? Muito obrigado pelo vosso trabalho e divulgação
Na Redinha, ainda hoje se chama Muda ao local em que mudavam as quadrigas .
Gostei muito. É esclarecedor e o melhor que encontrei até hoje sobre a história dos transportes em Portugal. Estou a tentar obter relatos pessoais sobre a história dos transportes na freguesia de Pedrógão Pequeno (Sertã), e o seu texto dá o enquadramento que me faltava. Nesta freguesia, e no concelho, tenho conhecimento da "Sociedade de Viação Pedroguense, Lda", entre 1922 a 1928, com a ligação de Pedrógão Pequeno a Paialvo, para ligação de comboio a Lisboa. A esta terá sucedido uma empresa formada pelos respetivos motoristas, a "J. Caetano & Rei", que terá sido adquirida pela "Companhia de Viação Sernache, Lda", fundada em 19 de março de 1927, e nacionalizada após 1974. tenho um interesse pessoal porque José da Silva Rei, o motorista da "Sociedade de Viação Pedroguense, Lda", e que acabou como motorista da "Companhia de Viação Sernache, Lda", é o avô materno da minha esposa.
Será que me pode dar algum sugestão para consultas sobre este assunto? Muito obrigado, e parabéns pelo seu trabalho.
Grato pelo seu amável comentário.
Não sei se já conhece mas aqui fica um "Facebook" muito interessante acerca de companhias e empresas de transportes de passageiros antigas:
https://www.facebook.com/groups/401029606583078
Grato pelo seu contato e os meus cumprimentos
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