Restos de Colecção: Tofa - Cafés

15 de maio de 2012

Tofa - Cafés

A “Tofa” foi criada por proprietários de fazendas de café, a partir de uma ideia que surgiu no final dos anos cinquenta: comercializar em Portugal parte do café que era plantado nas suas fazendas em Angola. Foi Queirós Pereira, na altura presidente da Companhia de Agricultura de Angola, que fundou a “Tofa”.

Em meados de 1960, iniciou-se a construção da fábrica e escritórios da "Tofa’", em Linda-a-Velha junto à auto-estrada, então, Lisboa-Estádio Nacional. No dia 1 de Dezembro de 1962, no exacto local onde hoje está a sede da “Nestlé Portugal”, foi inaugurada a então chamada “Torrefacção de Cafés de Portugal, S.A.R.L.”

                                  

 

Para participar no mercado da restauração, a “Tofa’" desenvolveu uma agressiva e eficaz estrutura de vendas. Foi buscar os armazenistas e os vendedores mais experientes, dividiu o país em rotas e implementou, em primeira-mão no mercado, a pioneira «Auto-Venda Tofa». Pela manhã, o vendedor abastecia a sua carrinha, no depósito da “Tofa” ou na sua própria garagem, partindo em seguida para os seus clientes. A qualidade foi sempre um dos trunfos da “Tofa”. Os lotes Tofa 404 e Tofa 202, então desenvolvidos para o canal hotelaria, eram produzidos com os melhores robustas de Angola e Arábicas da Costa do Marfim.

 

Em 1965, a ‘Tofa’ entrou no segmento empresas e hotelaria através de uma inovadora prestação de serviço ao cliente: o «Serviço Cafés Tofa» Decorria ainda o tempo das máquinas de café de saco, que eram então colocadas nos clientes. Naquela época, os cafés “Tofa” já eram comercializados em grão e em dois tipos de moagem: para saco e expresso. Enquanto a maioria dos concorrentes ainda utilizava o celofane, os cafés “Tofa’" inovaram a sua apresentação com a introdução da embalagem de polietileno. Ficaram conhecidos desde aí os lotes de moagem saco Tofa 404 e Tofa 202, nas suas embalagens plásticas castanhas.

A inovação sempre fez parte da "Tofa". No final de 1968, os cafés ‘Tofa’ foram apresentados ao retalho, nas pioneiras embalagens com enchimento em vácuo. Os Lotes Tofa 505, Tofa 303 e Tofa Descafeinado, representavam a gama "Tofa" para o consumo em casa.

 

           

                                 

A “Tofa” associou-se então à empresa alemã “Interfrank”, especializada em solúveis, e lançou logo no início de 1969, com enorme sucesso, o «Café Tofa» solúvel em embalagem de vidro de 50g para o consumo no lar e o «Tocafé Descafeinado» de 2g para o canal Horeca. Seguiu-se um outro lançamento de sucesso, «Tofina», uma mistura de cevada, chicória e café.

       

Após o 25 de Abril, a diversificação passou de estratégia a uma necessidade da empresa. Devido às contingências da importação de cafés de Angola em 1975, a “Tofa” foi obrigada a gerir os stocks dos 8-9 meses que lhe restavam e voltou-se então para as matérias-primas nacionais e para a produção de misturas solúveis. Neste sentido, foram lançados produtos à base de misturas com bastante sucesso, como foi o caso do produto «Brasa». 

  

Em 1985, quando a “Nestlé” adquire a “Tofa”, e aposta fortemente no canal hotelaria, concentrando todo o potencial e valores da marca “Tofa’”exclusivamente na “Cafetaria Profissional”. A gama foi então desenvolvida e lançados os lotes dos cafés “Tofa’” hoje bem conhecidos: Clássico, Tradição, Expresso e Descafeinado.

 

                                

Os cafés “Tofa’” têm uma posição de prestígio no mercado português graças à constante inovação e à qualidade na selecção dos lotes, no fabrico e na excelência do serviço oferecido aos seus clientes.

                                               1964                                                                                1969

                  

                                          

          

De referir que a “Nestlé” a seguir a ter adquirido a “Tofa”, adquiriu em 1987 os cafés “Sical” e “Christina”

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital

16 comentários:

Luis Miguel Inês disse...

Mais um belíssimo trabalho aqui apresentado através desta reportagem fotográfica e escrita sobre parte da história que se vai construindo através dos tempos e que temos o privilégio de ver.
Pessoalmente gosto muito de ver coisas antigas, coisas que na altura por uma razão ou outra não ligamos e que vistas à distancia tem um grande significado, porque nos fazem recordar.
Obrigado pela partilha.
Um abraço

José Leite disse...

Caro Luís Miguel Inês

Grato pelas suas simpáticas palavras.

Muito mais recordações serão postadas. Algumas dezenas já estão prontas ...

Um abraço

José Leite

APS disse...

Caro José Leite

Como sempre, boas e "velhas" histórias.
Lembro-me perfeitamente da «TOFA» em "LINDA-A-VELHA". Quando vinha de manhã na boleia do meu vizinho para LISBOA (na época um belíssimo "VOLKSWAGEM"), passava por esse local (auto-estrada) era um "saboroso" cheirinho a café.
Acho (não tenho a certeza) que a "TOFA" também abriu na «RUA DO OURO»(muito próximo da "RUA DE SANTA JUSTA) um espaço para se beber café, que só serviam ao balcão e era muito mais barato. (Isto nos anos 60 do século passado)
Um abraço
APS

José Leite disse...

Caro Agostinho

Tem toda a razão.

Esse estabelecimento da "Tofa" ficava, se não estou em erro, ao lado da "Papelaria Fernandes".

Um abraço

J. Leite

Manuel Tomaz disse...

Resido desde 1971 em Linda-a-Velha e trabalhei, até há qutro anos, na Rua do Ouro. Tambem por isso, a sua postagem me encantou. Parabens!
Confirmo as localizações. O Café Tofa era e é, (agora com o nome de Cafouro) um pouco acima da Pap. Fernandes. Bem me lembro de, nos anos 80, demanhã, antes de abrir, existia uma fila no passeio de cerca de 20 pessoas, à espera para tomar o cafézinho... Mas isso pertence ao passado, hoje a Baixa dee Lisboa, infelizmente, é uma reecordação.
O meu abraço
M.Tomaz

José Leite disse...

Caro M. Thomaz

Grato pelo seu comentário.

Um abraço

J. Leite

Letra disse...

Caro José Leite

Para além do que nos conta tambem a qualidade do design da Tofa contribuiu
decisivamente para o sucesso da marca.

O logotipo, as embalagens as primeiras campanhas e a decoração das
lojas Tofa ( r. do Ouro e lembro-me de outra junto ao Coliseu) foram da autoria do designer Manuel Rodrigues
(1924-1965)e do seu Estúdio MR que assina um dos anuncios.

Faleceu aos 41 anos num acidente de automóvel.É mais um dos pouco divulgados e estudados designers portugueses.

Carlos Rocha

José Leite disse...

Caro Carlos Rocha

Mais uma vez muito grato pelas suas preciosas informações.

Tenho um post elaborado acerca da "ETP - Estúdio Técnico de Publicidade" em que baseado nas minhas pesquisas escrevo:

«Carlos Rocha, com 29 anos de idade, sobrinho de José Rocha, funda em 1972 a "Letra - Estúdio Técnico de Comunicação Visual". Em 1982 José Rocha e Carlos Rocha fundem os ateliers "ETP" e "Letra" passando a designar-se a nova empresa por "Letra - ETP". Carlos Rocha faleceria no mesmo ano de 1982.»

Julgo estar correcto, mas se não estiver desde já agradecia alguma correcção

Os meus cumprimentos

José Leite

Letra disse...

Caro José Leite

Esse Carlos Rocha que menciona sou eu, nascido em 1943 e que fundei a Letra e que depois juntei ao ETP fundado pelo meu tio José Rocha (1907-1982). Quem faleceu em 1982 foi José Rocha.

A confusão é porque o meu pai Carlos Rocha
(1912-1980) tambem designer trabalhou com o irmão no ETP de 36 a 43 e que depois funda o Estudio de Arte STOP. Carlos Rocha

Letra disse...

Caro José Leite

Verifico que para complicar mais , no comentário anterior me enganei na data de falecimento do meu pai Carlos
Rocha -escrevi 1980 quando o ano correcto é 1990.

Carlos Rocha

José Leite disse...

Caro Carlos Rocha

Muito agradecido pelas informações que me prestou, que decerto tornarão o artigo em questão históricamente mais fidedigno.

Alem disto quero mais uma vez agradecer a sua disponibilidade em me prestar as informações acerca da identificação dos designers de muitos dos posters publicitários por mim publicados que só enriquece a informação.

Os meus cumprimentos

José leite

ié-ié disse...

Boa tarde, já agora, havia (há) algum significado para Tofa?

Parabéns pelo blogue!

LPA

José Leite disse...

Caro Luís Almeida

Quando elaborei este artigo tambem me interroguei, mas não consegui obter resposta por muito que procurasse.

Grato pelo seu comentário

Cumprimentos

José Leite

Unknown disse...

alguém me sabe dizer quem geria a TOFA antes de ser comprada pela NESTLE.
Pergunto se era um homem do norte com nome Reis da Silva....
se alguém me puder ajudar agradecia, pois gostava muito de encontrar esse homem encantador do qual só me lembro muito pequenino.

Manuel disse...

Boa tarde,

Trabalhei muitos anos na Tofa , conheci muito bem essas instalações, bem como as máquinas das fotos, note-se que os edifícios da foto são referente à parte administrativa (escritório) edifício mais baixo, o edifício mais alto era a fábrica 1

Em meados dos anos 70 foram construídos no outro lado da Rua Alexandre Herculano, a fábrica 2, armazéns, etc.

Nos anos 1992/93 toda a parte onde se situava a fab.1/escritórios foi demolida e construída a nova sede da Nestlé. No final dos anos 90 sucedeu o mesmo à zona onde se situava a fab. 2, numa parte do terreno foi construído um empreendimento e na outra, o Central Parque.

Para esclarecer o senhor Manuel Sacramento informo que o Presidente do Conselho de Administração da Tofa era o Sr. Ruy Soares Franco, já falecido (pai de um ex-presidente do Sporting) os accionistas eram familiares do Sr. RSF, se bem me lembro a Nestlé também detinha uma participação social na Tofa.

Esclareço ainda que a Tofa e os Cafés Tofa não eram a mesma empresa, A Tofa era uma Sociedade Anónima em Linda-a-Velha, que se dedicava ao fabrico de café e sucedâneos, para além de fabricar os Sugus, Suchard Express etc., e distribuir os chocolates Milka.

Os Cafés Tofa eram uma Lda. com sede na Rua do Ouro cujo capital social pertencia à Tofa, mas dedicavam-se apenas à restauração.

Espero ter ajudado nalgumas dúvidas.
Manuel

José Leite disse...

Caro Manuel

Muito grato pelos seus esclarecimentos e informações adicionais

Os meus cumprimentos

José Leite