A seguir à implantação da República a 5 de Outubro de 1910, foram criados os “Recreios Desportivos da Amadora” e inaugurados a 14 de Abril de 1912. José Santos Matos e António Correia, sócios e donos da “Fábrica Espartilhos a Vapor Santos Mattos & Cª.”, que se situava também na Amadora, mandam construir um novo edifício para esta instituição de recreio e desporto, e que é inaugurado a 17 de Agosto de 1914. Estava instituição estava equipada com um campo de ténis, um ringue de patinagem com piso de cimento, e um campo de futebol. Mais tarde foi inaugurado um salão de festas e alteradas algumas das suas estruturas.
“Recreios Desportivos da Amadora”
Salão de espectáculos Ringue de patinagem
Foi no dia 7 de Junho de 1912 que foi promovido, pela direcção dos «Recreios Desportivos da Amadora», a primeira exibição na localidade de um “Concurso de Papagaios”. Este acontecimento ocorreu nos terrenos do Casal Borel e foi legitimado pela participação do “Aero Club de Portugal” e contado com a participação de destacadas figuras da sociedade de então. «E para atestar a seriedade da iniciativa, note-se que faziam parte do júri dois membros do Aero-Clube de Portugal, que avaliaram provas de altitude, estabilidade, levantamento de pesos, ângulo e tracção».
Campo de aviação e hangares
Abastecimento de combustível Piloto aviador e um grupo de espectadores
A aventura aeronáutica em Portugal já tinha dado o seu «primeiro vôo» em 27 de Outubro de 1909 no Hipódromo de Belém, como poderá ser lido no post intitulado Primeiros Aeroplanos em Portugal .
Foi em 26 de Janeiro de 1913 que um avião sobrevoou pela primeira vez a Amadora. Numa iniciativa da “Liga de Melhoramentos da Amadora”, o francês Alexandre Théophile Sallés parte do Hipódromo de Belém , no seu «Bleriot XI» e aterra nos terrenos do Casal do Borel, partindo parte considerável do aeroplano, bem como o hélice, na aterragem, perante a multidão que assistia ao feito.
«Bleriot XI»
Nada que fizesse desmobilizar o entusiasmo da população. Com o apoio da “Fábrica de Espartilhos a Vapor Santos Mattos & Cª.”, ao fim de oito dias o aeroplano estava reconstruído e pronto a ser utilizado de novo.
Sallés sobrevoando a Amadora, e a “Fábrica de Espartilhos a Vapor Santos Mattos & Cª.”, na Amadora
A 18 de Março de 1917, a “Liga dos Melhoramentos da Amadora”, organiza um Festival Aéreo, nos terrenos onde está actualmente a Academia Militar e desta vez aterram na Amadora o tenente António Caseiro e Sacadura Cabral. A este festival assistiriam cerca de 50 mil pessoas, o que equivalia a doze vezes a população desta povoação na época.
Dia do Festival Aéreo da Amadora
Em 1919 o “Grupo de Esquadrilhas de Aviação República” (GEAR) instala-se nos terrenos junto ao campo de futebol dos “Recreios Desportivos da Amadora”, os mesmos onde actualmente funciona a Academia Militar. Esta foi a primeira unidade de aviação em Portugal.
Entrada para as instalações do GEAR
«Breguet Br.14-A2» número «2» da Esquadrilha de Bombardeamento e Observação do G.E.A.R., Amadora
fotos in: Centenário da República, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, Ex-Ogma
Durante cerca de um quarto de século, é da Amadora que partem algumas das mais importantes viagens da aviação nacional. A referir:
- Tentativa de ligação à Ilha da Madeira, por Sarmento Beires e Brito Pais, em 1920
- Raid Lisboa-Macau no «Pátria», com Brito Pais, Sarmento Beires e Manuel Gouveia, em 1924
- Voo do «Santa Filomena» à Guiné,com Pinheiro Correia, Sérgio da Silva e Manuel António em 1925
- Voo a Goa, com Moreira Cardoso e Sarmento Pimentel, em 1930
- Voo de Carlos Bleck e Humberto da Cruz à Guiné e Angola em 1931
- Viagem de ida e volta do «Dili», a Timor, com Humberto da Cruz e António Lobato, em 1934.
Durante vinte e cinco anos a Amadora foi parte integrante da época de ouro da aviação Portuguesa. De referir ainda o Festival aéreo de homenagem ao aviador Plácido de Abreu realizado a 4 de Novembro de 1934, bem como raide aéreo às colónias que teve início na Amadora a 14 de Dezembro de 1935 e que contou com a presença de Gago Coutinho. Nestes últimos anos, a pista da Amadora serviu igualmente de aeroporto civil.
Em 1938 a aventura da aviação termina na Amadora com o fim do campo de aviação. Razões de aeronáutica militar, pouco espaço e deficiências da pista de terra batida, foram os motivos que levaram à extinção do campo de aviação e sua transferência para Tancos. De qualquer modo esta cidade continua na «rota» da aeronáutica portuguesa albergando em Alfragide o Estado Maior da Força Aérea.
1 comentário:
O voo da 1ª Travessia aérea entre Portugal e a então Índia portuguesa, em 1930, é um "raid" quase esquecido porque, à época, derivado ao principal autor e piloto, Francisco Sarmento Pimentel, ser politicamente contra o regime, o governo do Estado Novo fez tudo para o riscar da história... O que, infelizmente, mesmo depois da mudança política acontecida mais tarde, parece ter resultado, visto que continua esquecido e menosprezado, como era na cabeça de Salazar...
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