A "Tobis Portuguesa", completou 75 anos em 3 de Junho de 2007. Tobis sendo o acrónimo de Ton-Bild Syndikat (Sindicato do Som e Imagem), foi uma das primeiras empresas produtoras de cinema em Portugal, ligada à produção de um significativo número de filmes, detém, em todos os aspectos, um papel incontornável na história do Cinema Português e da indústria cinematográfica nacional.
A sua história começa em Agosto de 1930 quando o Inspector dos Espectáculos convoca profissionais do Cinema e jornalistas para elegerem os seus representantes para formarem uma comissão encarregada de estudar as condições da criação de uma indústria cinematográfica em Portugal. Em sequência em 25 de Outubro do mesmo ano, tem lugar uma reunião na sede da Inspecção dos Espectáculos da referida comissão. Esta comissão era composta pelo Dr. Ricardo Jorge e Arquitecto Raul Lino, representantes respectivamente do Teatro São Luís e da empresa do Tivoli, do sector da exibição; Dr. João Botto de Carvalho, como sócio-gerente da Sociedade Geral de Filmes, e J. Castello Lopes, que representavam os distribuidores; José Leitão de Barros director da produção da Sociedade Universal de Superfilmes e Aníbal Contreiras, sócio do laboratório Lisboa Filme, em delegação dos produtores; e os jornalistas Eduardo Chianca de Garcia e António Lopes Ribeiro, como representantes da imprensa cinematográfica.
Esta comissão em 1931 sugere entre outras coisas, a construção de um estúdio para a realização de filmes portugueses com artistas portugueses. Em Maio de 1932 são concluídas as negociações com a Tobis Klangfilm, e em 3 de Junho do mesmo ano é constituída a Companhia Portuguesa de Filmes Sonoros Tobis Klangfilm (com um capital inicial de 1.000.000$00, inteiramente subscrito, dividido em 20.000 acções de 50$00 cada uma), com sede na Av. da Liberdade, n.º 141, 1.º andar, em Lisboa.
Em Julho de 1932 é comprada a Quinta das Conchas, no Lumiar, com todas as dependências e edificações e todo o material eléctrico e cinematográfico nela existente. Este será o local onde se edificará o Estúdio. Os ante-projectos da primeira série de construções da Tobis são da autoria do arquitecto Cottinelli Telmo e do técnico francês A. Richard. Em 19 de Dezembro do mesmo ano o construtor Diamantino Tojal inicia os trabalhos de construção do Estúdio da Tobis, da autoria do arquitecto Jorge Segurado.
Edifício dos Estúdios da Tobis Máquina de Filmar
O edifício do Estúdio, estruturado num grande vão de 34 x 19 m, compreendia o fosso cénico, as salas de adereço cenográfico, os camarins de actores e dependências dos serviços de apoio, bem como uma imponente teia suspensa em asnas metálicas a perfazer uma galeria de luz. Construído em paredes de alvenaria hidráulica, este edifício apresentava uma cobertura metálica e a fachada principal contracurvada lembrando algum expressionismo dos anos 30.
Interior dos Estúdios Construção do Pátio das Cantigas, na “Tobis”
Artur Duarte, rodando em estúdio Rodagem do filme “Belarmino” (1964)
O edifício do Laboratório, projectado pelo arquitecto Jacinto Bettencourt, foi concebido numa linha formal horizontal, estruturando-se em dois pisos, e recebendo os serviços administrativos e laboratoriais. A par de uma concepção funcional das diversas áreas envolvidas na particularidade deste projecto - salas de som, laboratórios de fotografia, laboratórios de revelação e salas de mistura - o arquitecto procurou como solução construtiva a utilização de materiais incombustíveis, tendo em linha de conta o tipo de indústria operada neste espaço. O conjunto da Tobis materializa um dos exemplos mais qualificados da produção arquitectónica dos anos 30 em Lisboa, respondendo a um programa inédito.
Edifícios dos Laboratórios e Estúdios
Instrumentos e material utilizados nos laboratórios
Em Março de 1933 chega a aparelhagem de tomada de som para filmes sonoros a Portugal, depois de em Janeiro a Tobis ter celebrado um contrato com as suas congéneres alemã – Klangfilm – e holandesa – Internationale Tobis Maatschappij – de aluguer da aparelhagem para a tomada de som e de vistas. A 1 de Agosto a "Companhia Portuguesa de Filmes Sonoros Tobis Klangfilm" altera a sua designação para "Tobis Portuguesa".
Notícia no Diário Popular Fotograma do genérico do filme “ A Canção de Lisboa” (1933)
Em 18 de Junho de 1931, estreia-se “A Severa”, o primeiro filme sonoro (fonofilme) português realizado por João de Barros. No dia 7 de Novembro de 1933 estreia de “A Canção de Lisboa”, primeira longa-metragem produzida pela Tobis, «o primeiro filme português feito por portugueses», como anunciava o cartaz, no “Teatro São Luiz”.
Na foto, Vasco Santana e Manoel de Oliveira Crítica, na revista “Ilustração” de 1933, ao filme
E a 1 de Fevereiro de 1939 a Lisboa Filme, Lda. comunica ao SPN que transferiu o escritório, o estúdio e o laboratório para a sua nova sede na Quinta dos Ulmeiros, no Lumiar. Empresa que se viria a fundir em 1955 com a ‘Tobis Portuguesa’, passando o catálogo dos filmes desta produtora para a propriedade da Tobis.
Grandes filmes da época de ouro do cinema português foram rodados nos estúdios da “Tobis Portuguesa” como por exemplo:
“A Canção de Lisboa” (1933); “As Pupilas do Senhor Reitor” (1935); “O Pai TIrano” (1941); “O Pátio das Cantigas” (1942); “O Costa do Castelo” (1943); “O Grande Elias” (1943); “A Menina da Rádio” (1944); “O Leão da Estrela” (1947); ….
Actores e técnicos de "O Leão da Estrela" (1947)
“O Pai Tirano” de 1941
Acerca deste filme visitar o artigo no seguinte link: O Pai Tirano
O último filme feito pela Tobis foi “A Crónica dos Bons Malandros” realizado em 1984, por Fernando Lopes, produzido por este e pela ‘Tobis Portuguesa’.
A partir de 2004, a “Tobis” apostou numa nova área de serviços, tendo investido na aquisição de equipamento vocacionado para a transcrição para vídeo digital, utilizando ferramentas de restauro. Em Janeiro de 2004 a Tobis após ter vencido um concurso lançado pela “RTP - Radiotelevisão Portuguesa” para recuperação do seu Arquivo, celebra um contrato de 3 anos de transferência de conteúdos de suporte filme para suporte vídeo-digital - Telecinema DSX, único em Portugal, com o complemento do corrector de cor Da Vinci 2 K.
Em 2005, a Tobis adquiriu o capital social da ‘Concept Films’ e, beneficiando dos seus equipamentos e técnicos e efectuando um forte investimento num conjunto de tecnologia inovadora, passou a poder realizar todo o tipo de operações de pós-produção de imagem e som.
Tobis Portuguesa, actualmente
Actualmente a Tobis disponibiliza uma diversidade de serviços, que se traduz em quatro grandes áreas:
- FILMLAB: área de serviços de laboratório, que se mantém em actividade desde a criação da Tobis Portuguesa e que dispõe de profissionais e equipamentos que permitem efectuar trabalhos de revelação, montagem de negativo, execução de efeitos e genéricos em película, de matrizes de segurança e exploração (interpositivos e internegativos), blow up ópticos, etalonagem, e tiragem de cópias
- DIGITAL: sector da empresa que se dedica à prestação de serviços na área da pós-produção de imagem e som e que realiza operações a partir de diferentes suportes e formatos, trabalhando-os de forma a obter o produto final no modelo pretendido pelo cliente
- ARQUIVOS: ramo relativo à transcrição de matrizes de arquivo para vídeo digital, utilizando ferramentas de restauro
- ESTÚDIO: aluguer de estúdio para produções de cinema, televisão e publicidade, com um conjunto de valências associadas
fotos in: Fundacion Docomomo Ibérico, Hemeroteca Digital, Teoria do Tudo e do Nada
3 comentários:
Olá,Tenho uma bobina (película)antiga da TOBIS, sabe onde a poderei avaliar e tentar saber do que se trata.
Obrigado
Caro Anónimo
Talvez consultando a Cinemateca Portuguesa.
Os meus cumprimentos
José Leite
Neste local foi feito o programa da Rua Sésamo para a RTP, que tanto alegrava as crianças na altura. Bjs Especial para uma actriz Alexandra Lencastre, que tive o prazer de trabalhar.
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