Restos de Colecção: Aviz Hotel

4 de julho de 2011

Aviz Hotel

Em 1904, na Av. Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, foi construído um palacete, encomendado por José Joaquim da Silva Graça, proprietário e director do jornal “O Século”, para sua habitação particular, tendo sido desenhado pelo arquitecto Miguel Ventura Terra.

Palacete Silva Graça”, e a Avenida Fontes Pereira de Melo

Acerca da história deste palacete consultar o artigo neste blog no seguinte link: Palacete Silva Graça

Em 1919, José Rugeroni, genro do proprietário, adquiriu o palacete. Em 1931, decidiu converter o palacete, com o jardim e respectivos anexos, num hotel de luxo, radicalmente transformado, segundo orientação do seu proprietário, com a colaboração do arquitecto Vasco Regaleira tendo sido inaugurado, em 24 de Outubro de 1933, com a designação de “Aviz Hotel”.

Cerimónia de inauguração

Quanto a preços, e em 10 de Dezembro de 1933 …

 

Este lendário “Aviz Hotel” granjeou a reputação de possuir a melhor cozinha e um luxuoso serviço, era um dos lugares eleitos pela nata da sociedade daqueles tempos para as festas de ocasião e reuniões de negócios. Símbolo da Lisboa romântica dos anos 40, o Aviz acolheu réis, actores de cinema, grandes escritores e espiões que não dispensavam o conforto e as mordomias de um dos mais requintados hotéis de Lisboa e arredores, dando origem a muitas histórias românticas que permanecem no imaginário colectivo. Personalidades que celebrizaram o “Aviz Hotel”  como Calouste Gulbenkian, que fez dele sua residência nos últimos anos de vida, ou ainda, Amália Rodrigues, Marcello Mastroianni, Frank Sinatra, Ava Gardner, Eva Perón e Maria Callas.

  

O hotel tinha um hall vistoso, um salão renascença, no qual se vê, à direita, um fogão, tipo lareira portuguesa, com ricas colunas de madeira lavrada, peça que adveio da Vila de Santo António, à Junqueira, que pertenceu aos Burnays; sobre ele, colocou-se um brasão da Casa de Avis. Do lado oposto, vê-se um belo armário renascença, exemplar seiscentista, que estava no Convento das Trinas; e são de realçar, ao fundo, a formosa porta monumental e a balaustrada de ferrageria portuguesa antiga, peça que pertenceu à capela do Convento de Sacavém, naturalmente, todas elas restauradas. As sobreportas ostentam as armas e as divisas dos infantes da Ínclita Geração.

 

Salão Renascença

Ascensor

Bar

A sala de leitura, com mobiliário de estilo alentejano, o bar, no qual se notam baixos-relevos históricos de Diogo de Macedo e o sentido original no mobiliário, com os terraços decorados com azulejos do tipo hispano-árabe, definem já o carácter e a fisionomia do hotel.

Hotel Aviz.8 Hotel Aviz.5

                        Hall                                                                               Sala de Leitura      


As dependências e quartos, no primeiro pavimento, designam-se por «suites», que tomaram os nomes dos reis e príncipes da Casa de Avis: D. João I, D. Filipa de Lencastre, D. Pedro Regente, Infante D. Henrique, Infante Santo e Infante D. João, sendo as guarnições interiores dos aposentos, ricas e com arte aplicada.


A Sala de Jantar situa-se no primeiro pavimento, abrindo para os jardins, destacando-se, um grande painel de azulejos de Leopoldo Batistini, que reproduz uma das tapeçarias portuguesas, de Pastraña (Espanha), além de outras decorações artísticas, de sentido histórico e etnográfico.

Salão de refeições



O mesmo salão transformada em exposição de viaturas da "General Motors Corporation"

Naquela altura, tanto o “Aviz Hotel” como o “Palace Hotel do Bussaco” constituíam os dois únicos hotéis de luxo em Portugal.

Terá sido neste hotel que, num jantar, realizado em 31 de Julho de 1940, o Duque de Windsor rejeitou a oferta alemã de o repor no trono inglês como rei fantoche. Outro conhecido agente triplo, mas na realidade a trabalhar para o MI5 britânico, Dusko Popov («Triciclo»), esteve instalado no “Aviz Hotel’” Embora constasse que era um hotel dos Aliados, Popov contou ter tomado conhecimento, através dos serviços secretos britânicos, que este hotel era controlado pelos alemães. O mais certo é que se tivessem hospedado nesse hotel espiões dos dois lados beligerantes. Foi também nesse hotel que viveu, entre 1942 e o dia da sua morte, em 1955 o magnata do petróleo arménio, Calouste Sarkis Gulbenkian, e que estiveram alojados, durante a guerra, os ex-reis Carol da Roménia, D. Juan de Bourbon de Espanha e Humberto da Itália. Outros famosos o frequentaram, como Rei Eduardo VII de Inglaterra, D. Pedro do Brasil, a Princesa Margarida de Inglaterra, Marcello Mastroianni, Frank Sinatra, Ava Gardner ou ainda Maria Callas.

 

 

Artigo na revista “Panorama”, em Abril de 1943

Postal promocional ao filme "Fátima, Terra de Fé" realizado por Jorge Brum do Canto em 1943

Como já foi dito, este hotel foi a residência permanente de Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), e sua família - que ocuparam suite "Filipa de Lencastre" entre 1942 e 1955nos seus últimos anos de vida, e que por seu testamento lavrado em 18 de Junho de 1953, foi criada a Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Tal se deveu em reconhecimento e agradecimento ao bom acolhimento que Portugal lhe deu na época da 2ª Guerra Mundial, e estando certo que a sua vontade seria respeitada. Calouste Gulbenkian, faleceu em 1955.

Hotel Aviz.13

Calouste Sarkis Gulbenkian

Antes da inauguração do Hotel Ritz , em 24 de Novembro de 1959, era no “Aviz Hotel”, que se hospedavam os altos dignitários que visitavam Lisboa. Por alturas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o "Aviz Hotel" começou a sofrer graves problemas financeiros, também devido ao crédito contraído para a sua instalação, e acabou por encerrar, em abril de 1961.

        

Foi demolido em 1962, assim como o seu jardim envolvente. No seu lugar foram construídos o “Edifício Aviz’”, onde se encontra instalada a loja da emblemática Antiga Casa José Alexandre, e o “Hotel Sheraton”.

 

“Edifício Aviz”  e  “Hotel Sheraton’”

Em 2005, ano que se comemorou o 50º aniversário da morte de Calouste Gulbenkian, foi inaugurado na Rua Duque de Palmela, junto ao Marquês de Pombal o “Hotel Aviz’”, propriedade da "Fundação Oriente" de Carlos Monjardino, que já tinha sido proprietária do "Restaurante Aviz". Uma das grandes apostas do novo hotel foi o também célebre “Restaurante Aviz” que, depois de ter passado pelo Chiado, Amoreiras e Estoril, regressou, agora, às origens, mantendo não só as suas receitas e uma garrafeira de excepção, como também, na sua decoração, peças do restaurante original.

                                                             O novo “Hotel Aviz”, na rua Duque de Palmela

 

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital

8 comentários:

Ricardo Moreira disse...

Que foi feito das peças acima indicadas e que adornavam o tal hall aquando da demolição do edifício?

Unknown disse...

Algumas das peças fazem parte do actual Hotel Aviz, concentrando-se essencialmente no restaurante

Anónimo disse...

Bons dias,
Sou proprietário de uma Casa de Repouso em Portalegre, onde reside o Sr. Manuel Vaz Ribeiro que trabalhou 11 anos no antigo Hotel Aviz.O Sr. Manuel tem muita informação fotográfica do Hotel, assim como do staff que lá trabalhava. Histórias do Hotel Aviz, essas dava para escrever um livro!
Fica a informação.

Italo disse...

Obrigado polo artigo. Escribi dende Galiza e cheguei ata i seu blog xa wue foi no Aviz donde tamén estivo Leslie Howard antes de morrer no voo nas costas galegas que ó levaba dende Lisboa a Bristol. Non serve de consuelo ver que non só en Galiza se fixeron verdadeiros destrozos do Patrimonio xa non so arquitectónico sino que tsmbén historico.
Un cordial saúdo.

Unknown disse...

Caro Proprietário da casa de repouso de Portalegre, gostaria de poder entrar em contacto consigo pois estou a produzir um documentário para a RTP 2, precisamente sobre o Hotel Aviz.

Com os melhores cumprimentos

Ricardo Pugschitz de Oliveira
marginalfilmes@marginalfilmes.pt

DOMINGOS SILVA disse...

Sou filho de uma antigo trabalhador, despenseiro do Aviz Hotel, que transitou para O Restaurante Aviz no Chiado, após o encerramento do Hotel. Por esta razão qualquer "coisa" que fale no Aviz mexe comigo. Tenho saudades desse tempo. Em relação ao fecho onde tinha os meus 11 anos, não deixo de sentir amargura pelo sucedido, quando um edifício daquela beleza é posto em cacos, está tudo dito em relação ao País e à preservação do património. Já publiquei um vídeo no you tube sobre o tema.
Obrigado.

Domingos Silva.

Anónimo disse...

Boa noite por favor é possivel perguntar ao senhor Manuel Vaz Ribeiro, se conheceu o antigo trabalhador deste hotel,o meu falecido pai, Carlos Costa Nunes que se bem me lembro era rececionista . Muito obrigado Carlos Nunes

Anónimo disse...

Bom dia, Encontrei este blog enquanto pesquisava sobre este magnífico hotel que era quase a segunda casa do meu bisavô, Frederick Sellers. Era amigo do Sr. José Rugeroni e almoçava quase diariamente no restaurante do hotel, onde conviva muitras vezes com Calouste Gulbenkian. Mais tarde, o hotel foi palco do copo d'água de sua filha, minha avó materna,Beatrice Joan Sellers.
Devem ter sido tempos maravilhosos!