Restos de Colecção: Fábrica Robinson de Cortiça

23 de maio de 2011

Fábrica Robinson de Cortiça

A “Fábrica Robinson” pertença da “Sociedade Cortiçeira Robinson Bros. Lda.”, situava-se na zona alta da cidade de Portalegre, em plena zona histórica, junto à Praça da República. Ocupou o antigo Convento de São Francisco único edifício que resta da época em que a cidade de Portalegre recebeu foral. Trata-se de obra de D. Sancho II que pretendia dotar a nova urbe com uma instituição religiosa. Da construção primitiva, datada de 1275 ainda são visíveis duas capelas laterais góticas

Em 1835, um cidadão da nação inglesa, George Robinson, rumava a estas paragens para se documentar mais profundamente sobre a matéria-prima que há longa data vinha processando em Halifax, na Inglaterra. Por volta de 1840 adquire a Thomaz Reynolds, o direito de exploração da “Fábrica da Rolha” , que estes tinham instalado no edifício em ruínas do extinto Convento de São Francisco, em 1837.

George Robinson

“Fábrica Robinson” e Quartel de Infantaria 22, no Sítio do Outeiro

Rapidamente faz progredir a sua actividade, adquirindo extensas áreas de montado, estabelecendo contratos de 50 anos para retirada de cortiça, diversificando produções. Traz consigo os novos conceitos de industrialização. Instala tecnologias até então desconhecidas do incipiente meio corticeiro. A pequena unidade rapidamente se transforma num importante centro corticeiro.

Fábrica Robinson em fotos de 1944

 

 

Mas será o seu filho, George Wheelhouse Robinson a figura mais marcante da história da fábrica de cortiça de Portalegre, entretanto empregando já 560 operários. Introduz profundas alterações tecnológicas (máquina a vapor, gerador eléctrico, novos métodos de corte e brocagem de rolhas, etc), racionaliza lay-out’s produtivos, melhora produtividades. Alarga a sua actividade industrial à Extremadura Espanhola, adquirindo diversas fábricas em San Vicente de Alcântara.

 

Na sua fábrica, George Robinson dispunha, desde 1872, de um motor com potência de 20 cavalos-vapor, que fazia mover doze tornos para fabricar rolhas, destinados a trabalhar cortiça de pior qualidade, bem como máquinas de calibrar e de contar. A produção mecânica de rolhas era residual no conjunto da actividade, sendo a ela destinada a matéria-prima de pior qualidade, na medida em que o fabrico manual era mais versátil no aproveitamento das melhores partes dos quadrados de cortiça. Ainda segundo o representante da empresa, as rolhas de fabrico manual eram melhor aceites pelos mercados de exportação.

Preocupa-se com a segurança dos seus operários. Em 1900, a “Fábrica da Rolha” como então era conhecida, concentrava mais de 2000 trabalhadores. Wheelhouse Robinson cria o primeiro sindicato operário da história da actividade corticeira, uma creche para os filhos dos operários e a cooperativa de abastecimento operária. Patrocina sistemáticas actividades anónimas de apoio aos mais necessitados. Está na origem da “Associação de Bombeiros de Portalegre”, fundada em 1899. Em 1903, funda a sua própria Corporação de Bombeiros Privativos.

Publicidade a máquina de processar rolhas

George Robinson, em 1897: «Preciso da cooperação dos operários e confio em que não me faltará; bem como em que patrão e operários andarão sempre unidos, porque da sua união há-de nascer o bem de um e outros».

 

Durante a II Guerra Mundial a “Fábrica Robinson”  viveu dias difíceis devida não só á guerra como à postura pseudo-neutral do Governo de Salazar que terão tido o seu contributo no agudizar das dificuldades. A fábrica chegará a estar encerrada por um período de cerca de 3 anos. Em 1942, os herdeiros da casa Robinson vêem-se na contingência de se desfazer da centenária fábrica. Um grupo português passa a comandar os destinos da fábrica. Respeitosamente, conservará a denominação de origem. Nos 10 anos seguintes, a centenária fábrica recupera a vitalidade produtiva e comercial.

No início dos anos 40, inicia-se na produção dos aglomerados puros expandidos, vulgo aglomerado negro. Os anos 60 do século XX correspondem a um novo período áureo para a actividade da “Fábrica Robinson” o qual se prolongará pela década de 70. A revolução de Abril de 1974, corporizada pelas profundas mutações sociais e políticas vividas no Alentejo, deixa marcas na actividade da velha corticeira.  Os sinais de envelhecimento tornam-se cada vez mais evidentes: nas máquinas, nos edifícios e na vontade dos Homens.

 

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Robinson

1955

A década de 80 clama por mudanças estruturais que acabam por não acontecer com a profundidade desejada. Apesar das dificuldades nos anos 90 do século XX, apesar da debilidade óbvia, subsiste um espaço comercial no universo dos produtos corticeiros que viabiliza o prosseguimento da actividade corticeira, sob a nova designação “Robinson Industria Aglomerados de Cortiça’”,tendo sido transferida para as antigas instalações da ex-“Johnson Controls”. Mas em 9 de Julho de 2009 é decretada a insolvência da ‘Robinson Industria Aglomerados de Cortiça’ , por dívidas ao fisco e segurança social, lançando no desemprego 150 funcionários. A “Robcork” inaugura em 2010 uma nova fábrica de cortiça, tambem em Portalegre e emprega grande parte destes trabalhadores da ‘Fábrica Robinson’.

No antigo espaço da “Fábrica Robinson” foi criado o “Núcleo Museológico da Fábrica Robinson”.

4 comentários:

Anónimo disse...

Era muito bom que os empresários de agora, deixassem de ser tão emproados e arroganres, e seguissem o exemplo humilde e tão humano de George Robinson.

Anónimo disse...

Estou completamente de acordo com o comentário que aqui está patente. george Robinson,foi um empresário bem sucedido, porque soube falar ao coração dos seus empregados, soube ser amigo e companheiro, soube respeitar o seu semelhante, e por essa sua atitude, recebeu em troca toda a dedicação e esforço destes. Hoje os empresários são realmente enfatuados e arrogantes, e por isso semeiam falencias e cáos á sua volta. Era bom que aprendessem alguma coisa com GEORGE ROBINSON.

Unknown disse...

Há muitos empresários que deixaram profundas marcas.

Exemplos:

- Champalimaud.
- alfredo da Silva
- João Casal
- Martins Pereira
- Aleluia
- Egas Salgueiro
Uma lista interminavel de pessoas que muito contribuiram para o crescimento do nosso país.

Pena é haver tantos criticos que nada fazem.

José Leite disse...

Caro Rogério Santos

Tem toda a razão.
Hoje fala-se e comenta-se muito nas televisões, noticiários, etc e faz-se pouco ...

Cumprimentos

José Leite