A "Pharmacia Ultramarina" terá aberto no início de 1856, na Rua de São Paulo, 27-E, em Lisboa. Era seu proprietário o farmacêutico Lázaro Joaquim de Sousa Pereira. Em 1865 já se tinha mudado para os nos nº 99-101 da mesma rua, e por lá ficou por cerca de 150 anos.
"Farmácia Ultramarina", na R. de S. Paulo 99 e 101
6 de Junho de 1857
Primeira "Pharmacia Ultramarina" no nº 27 E da Rua de S. Paulo (última porta à direita na foto, junto ao arco)
10 de Agosto de 1857
No jornal "Diario do Govêrno" de 18 de Fevereiro de 1856 num debate na "Câmara dos Senhores Deputados" ...
« O Sr. D. F. da Costa, que elle via que depois das opiniões dos illustres Deputados que combatiam o artigo da commissão eslava persuadido que a sua substituição não podia vingar, porque á auctoridade do S*. Ex.as era tamanha, que a sua opinião havia de prevalecer, e por tanto ia retirar a sua proposta ; que se honrava de ficar derrotado depois de ter combatido com tão valentes adversários; que apesar deste resultado estava satisfeito, porque o Ultramar tinha ganhado muito com a discussão, visto que lá fóra tinha attraído tanto sobre si as attenções que até um pharmaceutico, abrindo hoje uma loja, tinha posto no mostrador o letreiro seguinte: pharmacia ultramarina. »
Foi nesta farmácia que o célebre médico Dr. Sousa Martins (1843-1897) a 1 de Abril de 1856 iniciou oficialmente funções como praticante de botica. Esta farmácia pertencia a seu tio. Tornou-se exímio manipulador de produtos naturais e adquiriu uma experiência que depois muito valorizou como médico e professor de Medicina. Frequentou o Liceu Nacional de Lisboa e a Escola Politécnica; com aulas de manhã, trabalhava de tarde na farmácia e à noite dava explicações de forma a conseguir receitas para as despesas inerentes à sua formação académica. Ingressou nesse ano no curso de Medicina da "Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa". A prática de oito anos de Farmácia e o facto de ter completado os 21 anos de idade permitiram-lhe propor-se a exame no mesmo estabelecimneto de ensino superior e no dia 11 de Julho de 1864 foi aprovado ficando habilitado como Farmacêutico. Concluído o curso de farmácia, continuou a frequentar a "Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa", terminando o curso de medicina aos 23 anos, em 186, tendo sido sempre um aluno distinto.

Dr. Sousa Martins (1843-1897)
A partir de 1888 a frontaria da "Pharamacia Ultramarina" foi enriquecida com um inédito painel azulejar, cuidadosamente decorado com ilustrações de várias plantas medicinais e dos seus nomes científicos, destacando-se no centro da composição a representação de um anjo que segura um cálice com uma serpente, simbolizando a medicina. A especificação do nome da então responsável pela direção técnica reflete a exclusividade desta obra produzida na "Fábrica de Cerâmica Constância" e da autoria de Helder Silva e Mariete.
Quanto ao altruísmo de Lázaro Joaquim de Sousa Pereira o "Asylo dos Orphãos Desvalidos da Freguezia de Santa Catharina" numa nota de reconhecimento a vários farmacêuticos ...
«A commissão vem hoje por este meio dar um publico testemunho do seu mais sincero reconhecimento, agradecendo a continuação dos valiosos serviços prestados a este asylo pelos illmos. srs. Serzedello & C .*; Lazaro Joaquim de Sousa Pereira, proprietario da pharmacia ultramarina; Joaquim Ferreira Norberto, pharmaceutico no largo do Calhariz; Pedro Augusto Franco, pharmaceutico em Belem; pela maneira com que espontanea e genorosamente concorreram, durante o anno findo, com todos os medicamentos gratuitos que necessarios foram a este estabelecimento.»
Lázaro Joaquim de Sousa Pereira morre em 14 de Março de 1878, deixando viuva, Mary Parry Pereira e oito filhos.
27 de Março de 1868
Entretanto, outro farmacêutico-químico, diplomado e laureado pela Universidade de Coimbra, António Dias Amado exercia com notável brilho as funções de Director dos laboratórios da farmácia daquele estabelecimento de ensino e cultural, o que lhe valeu o apreço da classe médica que dispensava especial interêsse pela sua colaboração nos trabalhos de investigação.
Foi justamente em consequência desse facto que seu primo Dr. Egas Moniz Barreto de Araújo (1870-1924), do Estado da Bahia no Brasil, o convidou para com ele se dedicar ao estudo dum novo agente terapêutico destinado ao tratamento da sífilis por processo não mercurial. Acedendo ao lisonjeiro convite, António Dias Amado abandonou o lugar universitário e, durante alguns anos, foi prestar a cooperação solicitada até que, em 1895, fundou em Lisboa a "Farmácia Luso--Brasileira" para aperfeiçoar e divulgar no nosso País um produto que, além-Atlântico, havia já dado provas de extraordinário êxito, o depois celebrado e popular "Depurativo Dias Amado" que, no Brasil e em Portugal, registava dentro de limitado espaço de tempo o assombroso número de 15.000 curas comprovadas.
1907
Em 10 de Março de 1899, os irmão farmacêuticos António Dias Amado e Luiz Dias Amado, viam aprovado o registo da marca «destinada a um producto pharmaceuticos». E em Dezembro de 1905 viam aprovados os registos do "Depurativo Dias Amado" e "Depurativo Radical" respectivamente.
14 de Dezembro de 1905
14 de Dezembro de 1905
Em 4 de Fevereiro de 1906 é pedido o registo do nome "Pharmacia Luso-Brazileira", pelo seu proprietário o farmacêutico Antonio Dias Amado.
Em 29 de Fevereiro de 1908, é dissolvida a sociedade "Freitas & C.ª", tida por António Dias Amado e Luis de Freitas Lindo, tendo o passivo e activo sido assumidos por João Luis de Freitas Lindo. A "Pharmacia Luso-Brazileira" fica na posse de Antonio Dias Amado, que ao pretender registar o nome de "Pharmacia Ultramarina", viu em 6 de Agosto de 1908, o seu pedido «Recusado porque existe registada uma marca que contém o nome pedido e o respectivo registo não está feito a favor do requerente.»
Entretanto António Dias Amado dá sociedade na "Pharmacia Luso-Brazileira" a seu irmão Luiz Dias Amado, e a partir dessa altura a sua expansão acentuou-se e, tendo sido apresentados os seus depurativos em diversas competições internacionais onde foram galardoado com altas recompensas. Nas exposições de Génova (1908), Paris (1910), Roma (1911), Londres (1911), Anvers (1911), Liège (1912), etc., conquistou sempre Grandes Prémios e Medalhas de Ouro, numa carreira verdadeiramente apoteótica e nunca igualada como outro qualquer produto similar. Animado pelo êxito, Antonio Dias Amado dedicou-se, mais tarde, à elaboração de outros produtos sob a marca genérica "Ada", os quais conseguiram obter também sólida posição no mercado.
1909
Entretanto a "Pharmacia Ultramarina", que por morte do seu fundador tinha sido adquirida por Francisco Freire de Andrade em 1881, em 28 de Maio de 1895 já aparece como propriedade de Antonio Dias Amado.
Mas em 12 de Março de 1906 o sucesso do "Depurativo Dias Amado" dá origem a desavenças entre os irmãos ...
Entretanto a "Pharamacia Luso-Brazileira", funcionaria até por volta de 1921, restando só a "Pharmacia Ultramarina", na posse de Antonio Dias Amado, até à sua morte. Esta farmácia durou ainda muitos anos, creio até ao início do século XXI, altura em que deu lugar a uma loja de «comes e bebes», a que se lhe seguiu um "Restaurant & Bar" que faz parte do "Independente Hotels and Hostels" instalado no prédio.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Digitile (Biblioteca de Arte - FCG)
Sem comentários:
Enviar um comentário