A "Farmácia Almeida", que esteve localizada na Rua da Madalena, 134-136, em Lisboa, teve origem na "Botica do Padre Ignacio" que iniciou a sua actividade no Largo dos Caldas, nº 90 - muito perto dos nos 134-136 da Rua da Magdalena - no início do século XIX.
"Pharmacia Almeida" na Rua da Magdalena, 134 e 136
A "Botica do Padre Ignacio" foi criada pelo Padre Inácio da Conceição Martins, um boticário e clérigo português do século XIX, conhecido principalmente por sua atuação na área da farmácia. Começou a sua actividade no Largo dos Caldas, nº 90, como já referido, e cerca de 1860, já estava instalado na Calçada dos Caldas (mais tarde Rua da Magdalena) 134-136.
Este padre destacou-se pela criação de remédios à base de plantas medicinais e outras substâncias naturais. Ele combinava seu conhecimento religioso com práticas farmacêuticas, e criou uma série de fórmulas caseiras que ganharam popularidade pela eficácia e pelos benefícios que ofereciam à saúde. A mais famosa dessas fórmulas foi a dos "Caldos Peitorais do Padre Ignacio", um remédio utilizado para tratar problemas respiratórios, especialmente a tosse e a bronquite.
A botica, ou pharmacia, que ele fundou tornou-se um local de referência em Lisboa, atraindo uma grande clientela que buscava seus tratamentos naturais. A reputação de Padre Ignacio como boticário e seus remédios espalhou-se por toda a cidade e além, tornando-se um marco na medicina popular portuguesa da época. Além de seu trabalho na farmácia, o Padre Ignacio da Conceição Martins era um sacerdote católico que combinava sua vocação religiosa com o interesse por práticas de cura natural. Embora não existam muitos detalhes biográficos específicos disponíveis sobre ele, sua contribuição para a medicina natural em Portugal e a popularidade de seus remédios garantiram seu lugar na história da farmácia tradicional portuguesa.
Voltando aos "Caldos Peitorais do Padre Ignacio" que eram amplamente utilizados para tratar problemas respiratórios, como tosse e bronquite. Esta "farinha peitoral" era uma mistura de substâncias conhecidas por suas propriedades terapêuticas, incluindo ingredientes como alteia, alcaçuz e funcho. Essa fórmula se tornou muito popular devido à sua eficácia e ao boca-a-boca entre os clientes, que associavam os produtos da botica à sabedoria e à experiência do padre em tratar doenças com remédios naturais. Além da farinha peitoral, a botica do Padre Ignacio oferecia uma variedade de outros remédios, muitos dos quais eram preparados seguindo receitas tradicionais e conhecimentos da medicina natural. A botica era frequentada por pessoas de diversas classes sociais, atraídas pela reputação do padre e pela qualidade dos produtos que ele oferecia.
Por morte do Padre Ignacio, sucedeu-lhe na botica, em 1855 Domingos Caetano de Figueiredo, a que se lhe seguiu, em 1880, Amaro Joaquim Figueiredo. A este se seguiu Antonio Simões Terceiro em 1883, e em 1885 já era Francisco Manuel Pereira d'Almeida, proprietário da, já, "Pharmacia Almeida". Por morte deste último, sucedeu-lhe, em 1907, seu filho Raul Pereira d'Almeida em 1907, também farmacêutico e que a manteve na família até 1926.
1888
Do livro "Praça de Lisboa", organizado por Carlos Bastos em 1945, retirei o seguinte texto (com alguns erros cronológicos no mesmo ...) :A exemplo de outros estabelecimentos similares é natural que fôsse fundada por qualquer ordem eclesiástica, explorando directamente ou sob a responsabilidade de um membro da congregação. Como presuntivo fundador ou um dos seus primeiros proprietários, chegou até nós o nome de certo Padre Inácio, que lhe deu fama e a tornou conhecida e popular em tôda a Lisboa, pela designação de «Botica do Padre Inácio», perdurando título durante longos anos graças a haver aquêle eclesiástico inventado uma farinha peitoral de extraordinário resultado medicinal, ainda hoje vendida com pleno êxito não só em Lisboa como nas mais distantes terras da província.
Oriundo de Dardovaz, concelho de Tondela e distrito de Viseu, foi da sua terra natal para S. João do Campo empregar-se como marçano num estabelecimento da especialidade, aí permanecendo três anos aproximadamente. Passou depois a praticante de uma outra farmácia, em Coimbra, tendo então ocasião de revelar os excelentes predicados de que era dotado. Tal aproveitamento consentiu-lhe transferir-se para Lisboa em condições vantajosas, ingressando então na casa de que é agora proprietário.
Sob a sua orientação a Farmácia Almeida desenvolveu-se com progressivo incremento, continuando brilhantemente as honrosas tradições multiseculares que a elevaram no conceito e preferência de vasta clientela disseminada em todo o continente. Para isso muito contribuíu a lúcida propaganda dos seus artigos e reputados preparados e a criação de novos e não menos úteis produtos.
A par da preciosa «Farinha Peitoral do Padre Inácio » cuja fórmula do inventor subsiste, no arquivo da casa como bem de inestimável valor que debalde os falsificadores tentam imitar, a Farmácia Almeida lançou o acreditado «Pó de Varizes a que, através de imensos casos dificeis, tem demonstrado excepcional efeito.
As perfumarias preparadas nesta farmácia ganharam igualmente uma posição privilegiada no nosso mercado. A «Tintura Almeida» para tingir cabelo, barba ou bigode, é superior a quantas se tem inventado até hoje.
O «Pó de Arroz Glicerina » bem como o «Creme de Arroz Glicerina», são também dois excelentes produtos para a toillete das senhoras, na higiene e beleza do rosto.»
Via "Google Maps" em Maio de 2023
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital
2 comentários:
Mais um postal, muito interessante.
Nos anúncios aparece Calçada ou Largo " dos Caldas" e " do Caldas".
Julgo que "dos Caldas" seria por causa serem dois irmãos os donos do Palácio, mas depois ficou " do Caldas" até mudar anos atrás para " Amaro da Costa".
O local mudou de nome ao longo dos tempos conforme quem habitava este Palácio ou outro antes do terramoto 1755.
Agora, poderá haver, qualquer dia, ser outra gente a habitar o Palácio e lá se vai mudar outra vez o nome ao Largo.
O mais provável é ficar para sempre "Largo do Caldas", como acontece com o Areeiro e o Rossio.
Cumprts. e Bom Ano 2025
Grato por mais um, já habitual, interessante comentário que sempre adiciona informação.
Um Bom Ano de 2025 para si e todos os seus.
Cumprimentos
Enviar um comentário