Restos de Colecção: Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L.

8 de abril de 2023

Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L.

Como prometido, e na sequência do artigo "Fábricas Vulcano e Collares" publicado no passado dia 27 de Fevereiro, publico, hoje, a história da "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L." sucessora da "Alfredo Alves & Cª. (Filhos)", fundada em 1898.

A "Alfredo Alves & C.ª (Filhos)", em 1962, constitui-se como sociedade anónima de responsabilidade limitada e muda de denominação para: "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L." e entra no Grupo Champalimaud. Por esse motivo, passa a fornecer as empresas cimenteiras deste Grupo.



16 de Maio de 1933


Sede da "Alfredo Alves (Filhos), na Rua da Academia das Ciências, em Lisboa


Outubro de 1961



"Alfredo Alves & C.ª (Filhos) "na da área limitada a amarelo, e a "Sorefame"

A "Alfredo Alves & C.ª (Filhos)", era um consórcio de engenheiros, que produzia máquinas industriais, motores e maquinaria agrícola. Na nova metalúrgica da Amadora a empresa alarga a sua produção a equipamentos e componentes, em ferro fundido e aço vazado, para caminhos de ferro e para outras indústrias como a construção civil, cimentos, cerâmica, minas, pedreiras, etc.

Novembro de 1961

Um dos sócios-gerentes desta empresa, era Carlos Alfredo Garcia Alves (1898-1972), licenciado em engenharia eletrotécnica (1921) e mecânica (1922) pela francesa Universidade de Toulouse, distinguiu-se como fundador da "Cometna", bem como enquanto Presidente da "AIP- Associação Industrial Portuguesa" no período de 1960 a 1972. Este tinha adquirido em 1945-1946 a "Fábricas Vulcano e Collares" na Venda Nova-Amadora onde instalou a firma "Alfredo Alves & Cª. (Filhos)".


Carlos Alfredo Garcia Alves (1898-1972)


Henrique de Araújo Sommer (1886-1944)

A "Sorefame - Sociedades Reunidas de Construções Metálicas, S.A.R.L.", que tinha sido fundada por Henrique Sommer e o engenheiro Ãngelo Fortes (1908-1959), e a sua vizinha "Cometna" sempre tiveram uma relação estreita, sendo esta fornecedora de peças fundidas e vazadas utilizadas pela primeira.


"Cometna " na da área delimitada a amarelo, e a "Sorefame"


1963

A "Cometna", em 1964, contava «com duas fábricas, uma em Lisboa, outra na Amadora, cuja área total em Junho do ano passado, era de 41.000 metros, sendo de 22 mil a área coberta, e que tem ao serviço 12 engenheiros, 9 agentes tácnicos de engenharia, 759 operários e 247 entre funcionários administrativos e pessoal técnico.» E o jornal "O Século" acrescentava de 4 de Julho de 1964: «(...) a Cometna mantém em funcionamento em cada uma das fábricas, refeitórios e messes onde são servidas diàriamente, cerca de quinhentas refeições ao pessoal, ao mesmo tempo que já está prevista a entrada em funcionamento de uma cantina que fornecerá géneros alimentícios ao mesmo pessoal.»





1 de Janeiro de 1963



Em 1966, a "Cometna" adquire as antigas instalações de uma antiga fábrica em Palmela, onde vai montar a sua metelomecânica, mantendo na Venda Nova-Amadora a sua secção de fundição. Em Palmela serão montadas as peças fundidas e acabadas na Amadora.

1 de Dezembro de 1967


"Fenal - Sociedade Portuguesa de Válvulas, Lda. ", uma empresa da "Cometna" para o ramo das válvulas

Entre 1975 o "IPE - Instituto de Participações do Estado" assume a gestão da "Cometna" e torna-se sua accionista maioritária.

No início dos anos 80 do século XX, constrói novas instalações em Famões - Odivelas, para aí implementar novos processos de fabricação do aço. Ali instalaria a metalurgia do aço, enquanto na Amadora permaneceria a metalurgia do ferro e construção de veículos especiais.


Complexo da "Cometna" em Famões em fase de construção





Publicidade, em Janeiro de 1977, à "Cometna" e sua "Fenal - Sociedade Portuguesa de Válvulas", Lda.


Entretanto, o jornal "O Século" de 4 de Julho de 1964 já tinha alertado, para o problema da continuidade das instalações da Venda Nova, ao escrever: 

«Não deixará de ser oportuno e justo referir que a fábrica da Amadora, instalada na zona industrial da Venda Nova, vê hoje, as suas possibilidades de expansão grandemente restringidas, devido à falta de orientação do plano de urbanização referente a esta zona. De facto, verificou-se que entre e à volta das fábricas foram edificados blocos habitacionais, o que tão só é má solução para os habitantes, como condenou definitivamente as possibilidades de expansão industrial da Venda Nova.»

Com a construção de edifícios habitacionais em seu redor, não só se colocou o problema de expansão, como, e acima de tudo, grande poluição atmosférica provocada pelos seus fornos de fundição de ferro. Pelo que começou a ficar insustentável a sua permanência naquele local, tendo sido forçada, pelas circunstâncias, a transferir-se para Famões, encerrando definitivamente esta unidade fabril.

Depois de desocupados os terrenos deram lugar à construção da "Urbanização da Cometna", no final da década de 90 do século XX, tendo ficado habitável, consoante a conclusão da construção de cada edifício, entre 1999 e 2001.

Antigas instalações em Famões

Entretanto, a "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L." , viria a encerrar definitivamente a sua actividade, cerca de 1992.

Quanto aos seus terrenos em Famões, foram adquiridos pela empresa imobiliária "Ambimobiliária, Investimentos e Negócios Imobiliários, S.A.", onde instalou um Pólo Empresarial que reuniu naqueles terrenos um conjunto de empresas de diversos setores de atividade.

Pólo Empresarial em foto de 2022 via Google Maps

Bibliografia e algumas fotos:

Exposição temporária "A Ferro e Fogo: Sorefame e Cometna" promovida pelo Museu Municipal de Arqueologia - Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira. Ocorreu entre 26 -09-2020 e 08-05-2022.

fotos in: Hemeroteca DigitalArquivo Municipal de LisboaBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais), Exposição temporária "A Ferro e Fogo: Sorefame e Cometna" (Câmara Municipal da Amadora)

3 comentários:

Gonçalo Alexandre disse...

Mais uma grande indústria 🏭 que sofreu directamente com o impacto do "auto ataque nuclear" das infames, insanes e surreais nacionalizações de 1975. Pertenciam ao colossal Grupo Champalimaud este sofreu com as tresloucadas nacionalizações, destruindo o Grupo e Conglomerado Misto que era, e claro está a gigante COMETNA acabou por colapssar!

Anónimo disse...

A data de encerramento da Cometna não foi em 1989. Trabalhei na Fundição de Famões cerca de 2 anos, até fev. 1990, tendo a fundicação continuado em funcionamento, com grandes dificuldades financeiras, cerca de mais 2 anos.

José Leite disse...

Muito grato pela sua correcção
Cumprimentos