A "Discoteca do Carmo", abriu as suas portas, pela primeira vez, em 28 de Fevereiro de 1957 na Rua do Carmo, em Lisboa, tendo como proprietária a firma "Discoteca do Carmo, Lda." de Manuel Simões (1917-2008), homem da indústria e comércio discográficos.
"Discoteca do Carmo" (dentro da elipse) na Rua do Carmo. À esquerda desta, na foto, a "Discoteca Universal" inaugurada em 2 de Dezembro de 1957
Na véspera da inauguração o jornal "Diario de Lisbôa" noticiava:
«A partir de amanhã, está á disposição do publico um novo estabelecimento dos mais completos no género, onde poderão escutar-se em três bandas de som, alta fidelidade e adquirir também, os mais variados e formidáveis êxitos agora chegados á nossa capital para esta inauguração.»
28 de Fevereiro de 1957
No dia seguinte à inauguração ...
«Centenas de pessoas de todas as categorias sociais, umas para darem o seu abraço de amizade, outras fazendo as suas compras de forma a demonstrarem a sua simpatia para com esta nova casa confirmavam, por assim dizer, toda a expectativa prevista pela gerência da Discoteca do Carmo, Lda, no dia da sua abertura»
Antes da "Discoteca do Carmo", a "Sapataria do Chiado" (dentro da elipse)
Natural de Pedrógão Grande, e ainda menor de idade Manuel Simões, torna-se empresário em 1934, ficando a sua firma em nome de seu pai. Em 1947 toma contacto com a indústria discográfica em Espanha, onde encontrou discos de 78 rpm de Hermínia Silva e Irene Isidro, entre outros artistas, nunca comercializados em Portugal. Viria a ser um dos primeiros editores discográficos portugueses, tendo gravado nomes históricos como Berta Cardoso, Alfredo Marceneiro, Argentina Santos, Anita Guerreiro, Tristão da Silva, Tony de Matos, Artur Ribeiro, Maria de Lourdes Resende, Margarida Amaral, Francisco José, Mariana Silva, Maria José da Guia e Manuel Fernandes, entre outros.
Manuel Simões (1917-2008)
23 de Dezembro de 1959
«Manuel Simões era representante em Portugal da espanhola "Fábrica de Discos Ibéria", sediada em San Sebastian. Na loja da Rua 1º de Dezembro, nº 45, 3º, em Lisboa, vendia discos de repertório português editados pela marca espanhola. Em 1952, o comerciante negociou com o empresário espanhol Juan Inurrieta, proprietário da "Fábrica de Discos Ibéria", a criação de uma fábrica subsidiária em Portugal. Durante esse ano, foram projectados dois edifícios, um provisório com licença para dois anos, e um definitivo, cujo projecto incluía igualmente um estúdio de gravação, em Vila Franca de Xira. Dos dois projectos, apenas o primeiro foi construído e o período de funcionamento previsto prolongou-se do inicio da década de 50 até aos anos 70, altura em que a fabrica terá suspendido a actividade. Entre Maio e Dezembro de 1952, os arquitectos Jorge Ribeiro Ferreira Chaves e Álvaro Peterson trabalharam no projecto final, cumprindo as exigências dos sócios Manuel Simões e Juan Inurrieta. As plantas projectadas revelam um projecto inicial de grande envergadura que, no entanto, nunca chegou a ser concretizado.» Leonor Losa in "Machinas Fallantes" - (2013)
14 de Dezembro de 1957 14 de Fevereiro de 1958
Seria Manuel Simões, com a editora discográfica "Estoril", contando com a direcção artística e musical do maestro Belo Marques (1898-1987), quem, ele próprio, prensaria o primeiro disco de microgravação fabricado em Portugal, o LP Estoril 5001. Retomaria a edição de discos na década de 1980, com a série "Lisboa - Cidade do Fado", que publicou 16 CD's.
A "Discoteca do Carmo", foi um caso de sucesso, sendo conhecida pelo seu stock de discos importados.
A "Discoteca do Carmo", foi um caso de sucesso, sendo conhecida pelo seu stock de discos importados.
Seis anos antes do encerramento definitivo da "Discoteca do Carmo", Manuel Simões abre, em 1992, na Rua do Ouro, a "Discoteca Amália", onde anteriormente tinha estado instalada uma loja de fotografia, que por sua vez tinha substituído a conhecida "Charcutaria Suiça".
Manuel Simões acalentou o sonho de um Museu dedicado a Maria Teresa de Noronha, que não concretizou, mas estabeleceu em Dezembro de 2001 uma Fundação com o seu nome - "Fundação Manuel Simões" - à qual deu objectivos precisos, entre eles a divulgação do fado nas suas diferentes vertentes, não esquecendo os valores da solidariedade social, e o apoio aos novos valores. Com a sua morte em 27 de Agosto de 2008, a sua Fundação e por sua expressa vontade, passou a ser presidida pela sua sobrinha, Rosa Amélia Piegudo.
"Discoteca do Carmo" (dentro da elipse) e a Rua do Carmo, em finais dos anos 60 início dos anos 70 dos século XX
Quanto a este veículo, e à sua actividade comercial, o jornal "Negócios" em 20 de Agosto de 2013, transcrevia uma entrevista com o seu funcionário, António Cardoso:
"Discoteca do Carmo" (dentro da elipse) e a Rua do Carmo, em finais dos anos 60 início dos anos 70 dos século XX
A "Discoteca do Carmo" encerraria, definitivamente, em 1998, devido a danos causados pelas obras de extensão do metro até ao Cais do Sodré na estrutura do edifício. Depois de reconstruído o edifício foi colocada defronte deste uma pequena camioneta, tipo antiga, da marca inglesa "Fleur de Lys Automobile Manufacturing" (1983-1994), a "Lisboa Cidade do Fado", propriedade da "Fundação Manuel Simões", para venda de discos de fado exclusivamente.
Pequena camioneta "Fleur de Lys Automobile Manufacturing" da "Lisboa Cidade do Fado"
Quanto a este veículo, e à sua actividade comercial, o jornal "Negócios" em 20 de Agosto de 2013, transcrevia uma entrevista com o seu funcionário, António Cardoso:
«Vivemos momentos de angústia e aflição porque não sabíamos sequer se estava a arder o nosso estabelecimento. Mas não chegou a ser atingido. A loja anterior foi a última a ter danos - vidros partidos - e para cima então ardeu quase tudo", recorda.
António Cardoso conta que apenas no dia seguinte ao incêndio foi permitido pelas autoridades chegar à Discoteca do Carmo, que voltou a abrir ao público apenas uma semana depois.
No entanto, a loja acabou por ter de fechar dez anos depois do fogo, devido a danos causados pelas obras de extensão do metro até ao Cais do Sodré na estrutura do edifício.
A venda de discos passou a ser feita pela conhecida carrinha verde, de onde todos os dias se ouve o fado escolhido por António Cardoso.
Ligado à música desde os 16 anos, recorda o tempo em que a Baixa era "um centro comercial a céu aberto" onde as "pessoas com dinheiro" iam de propósito fazer compras.
"O negócio era melhor nessa altura", afirma, até porque havia "mais compradores de música do que há hoje".
Hoje com 61 anos, a luta de António Cardoso na sua Carrinha de Fados é a Internet: "O disco físico cada vez está a vender menos", salienta.»
4 comentários:
Foi com uma boa dose de nostalgia que vi a discoteca do Carmo, foi nela que eu comprei boa parte dos meus álbuns importados nos anos 70, as outras duas discotecas de eleição para mim eram a do Centro Comercial do Rossio (estação da CP) e claro, a do Centro Comercial de Alvalade, onde comprei os meus primeiros discos de Led Zeppelin.
Gostaria muito ver uma matéria sua sobre o Centro Comercial do Rossio, local onde passei umas boas centenas de horas da minha juventude.
Obrigado.
Paulo Rodrigues
Caro Paulo Rodrigues
Grato pelo seu comentário.
O Centro Comercial do Rossio, foi dos mais importantes de Lisboa, apesar de ser dos que menos importância atribuiram. Talvez pela sua decoração muito pobre e a grande quantidade de lojas com produtos de baixa qualidade.
No meu caso, a loja mais importante (e das mais importantes de Lisboa da altura) era de aparelhos de alta fidelidade. Muita "kandonga" mas muita fartura de boas marcas e oferta. Comprei lá um belíssimo amplificador "Sansui" AU D-9 com um belíssimo par de colunas. Isto em 1979.
Tinha também uma boa sala de cinema o "Terminal - Cine Estúdio" (1977-1990).
Os meus cumprimentos
José Leite
Caro José Leite.
Foi também no Centro Comercial do Rossio que eu comprei o meu primeiro pick up digno desse nome, o Technics - Sl Q20.
A loja Triudus encantava-me, pois ela tinha tudo o que eu gostava em sistema de luzes para montar no meu quarto.
O Centro Comercial em si, o que eu mais gostava é que ele parecia um labirinto.
Enfim, boas recordações da minha Juventude e que você tantas vezes desperta com os seus excelentes artigos.
Obrigado.
Paulo Rodrigues
Excelente apanhado desta importante página do retalho fonográfico lisboeta, bem como da sua indústria. Como sempre, está de parabéns.
Nesse particular da indústria fonográfica, a talho de foice, e se me permite, convirá relembrar que há muito se impõe a reabilitação comercial da Discos Estoril - encontram-se no seu catálogo pequenas pérolas do cançonetismo português e da música ligeira nacional do período (meados de 50), como se sabe, mas também incipientes mas muito interessantes ensaios no jazz, na sua vertente de salão, digamos - destacam-se nessa perspetiva discos de Jorge Machado e Shegundo Galarza.
Um abraço!
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