Restos de Colecção: Instituto Português de Oncologia

1 de fevereiro de 2015

Instituto Português de Oncologia

O “Instituto Português de Oncologia” foi fundado em 29 de Dezembro de 1923, através do Decreto n.º 9333, com a designação de “Instituto Português para o Estudo do Cancro”. No momento da sua criação, o Instituto ficou na dependência do Ministério da Instrução Pública, antiga designação do actual Ministério da Educação, onde permaneceu até 1987, ano que foi integrado no Ministério da Saúde.

O Professor Francisco Gentil foi nomeado presidente da “Comissão Directora do IPO” no momento da sua criação, – acessorado por colaboradores como Mark Athias, Henrique Parreira, Benard Guedes e Raposo de Magalhães -, e foi director do Instituto até 1961.

                                     Prof. Francisco Gentil (1878-1964)                  Seus colaboradores

      

Em 1927, uma verba disponibilizada pelo “Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios” permitiu a aquisição de um terreno de 7 hectares da “Casa Cadaval”, em Palhavã, que viria a acolher o IPO até à data presente. A actividade do Instituto começou, em 29 de Dezembro desse ano, no chamado “Pavilhão A”, o primeiro a ser utilizado e cuja construção demorou apenas seis meses. Este momento marca o início de um período de intensa actividade científica reconhecida internacionalmente.

“Pavilhão A” de 1927

O Professor Gentil Martins, tinha em mente a criação de um Laboratório de Investigação de Isótopos para Aplicações Médicas como via de investigação com grande aplicação prática na Medicina Geral e particularmente na Oncologia, antecipando-se, com o génio e a visão demonstradas, a muitos outros a nível mundial. Um donativo de um doente, Abílio Lopes do Rego, possibilitou a concretização deste sonho, ao permitir equipar o Laboratório que ficou instalado no Pavilhão A e que desde essa altura passou a ter o nome do seu patrocinador.

O segundo pavilhão a ser construído é o chamado “Pavilhão B”, que foi inaugurado a 29 de Dezembro de 1929, e destinava-se às "consultas gerais e especiais", nomeadamente das especialidades médicas de Dermatologia e Urologia.
Segundo alguns testemunhos recolhidos e de acordo com os escassos registos existentes, ao “Pavilhão B” foram dadas, desde a sua construção e até à presente data, várias ocupações e finalidades. Desde a sua inauguração e até 1933, data em que entra em funcionamento o terceiro pavilhão do IPO, chamado “Pavilhão C” (ou “Pavilhão de Rádio”), funcionou ali a administração do Instituto, sob a direcção do Dr. João Sanguinetti

“Pavilhão B” de 1928

A 6 de Fevereiro de 1930, com a Portaria 6641, foi aprovado o modelo do selo branco em que o “Instituto Português para o Estudo do Cancro” surge pela primeira vez com a designação de “Instituto Português de Oncologia”. É, então, definido oficialmente o símbolo identificativo do Instituto; o câncer trespassado pela espada, que simboliza a “Luta Contra o Cancro”.

          

Em 1931, foi criada a “Comissão Iniciativa Particular de Luta Contra o Cancro” por um "conjunto de senhoras", entre elas Mécia Mouzinho de Albuquerque e a Condessa de Murça, com o intuito de promover a saúde e prevenir o cancro, tendo organizado peditórios e tentado angariar pessoas que se juntassem à causa.

Cartaz de 1931

O “Pavilhão C” também chamado de “Pavilhão do Rádio”, edifício de quatro pisos, e projectado pelo arquitecto Carlos Ramos, é inaugurado em 1933. Possui espaço de internamento, sala de operações, biblioteca, sala de aplicações de rádio, sendo o 1.º da Europa com as condições de segurança estabelecidas no II Congresso Internacional de Radiologia realizado em Estocolmo em 1928.

“Pavilhão do Rádio” exteriores e interiores, inaugurados em 1933

 

 

 

Em 4 de Abril de 1941 é fundada e constituída legalmente a “Liga Portuguesa contra o Cancro”, por proposta do Professor Doutor Francisco Gentil. A esta instituição privada, sens fins lucrativos, foi-lhe atribuído, em 1966, o título de “Membro Honorário da Ordem de Benemerência”. Em 1985, seria considerada “Instituição de Utilidade Pública” e em 2006, “Membro Honorário da Ordem Militar de Cristo”.

Em 17 de Maio de 1943 foi construído o Pavilhão D, destinado ao alojamento dos doentes com cancro avançado, nos terrenos que hoje correspondem à área do Pavilhão de Medicina. A ideia da sua criação é semelhante a que rege a concepção dos cuidados paliativos, e simbolizou o empenhamento do IPO pelos aspectos sociais do cancro. Mais tarde viria a ser demolido.

“Pavilhão D”

A 28 de Maio de 1948 foi inaugurado o “Bloco Hospitalar” do IPO, edifício com 7 pisos e cave, concebido pelo arquitecto alemão Herman Distel, especialista na concepção de Hospitais e Escolas, responsável pela construção do Hospital de Santa Maria” em Lisboa e do “Hospital de S. João” no Porto.

“Bloco Hospitalar” inaugurado em 1948

 

 

“Bloco Hospitalar” em construção

 

Na cave os armazéns, a rouparia e as oficinas;
No r/c o atendimento do ambulatório (colheita de análises,consulta,admissão);
No 1.º andar o diagnóstico (Rx e laboratórios);
No 2.º andar a terapêutica (bloco operatório, farmácia, transfusões);
Nos andares acima o internamento;
Num corpo central, os serviços de apoio (cozinha, residência, biblioteca, anfiteatro).

Correspondeu, ainda, à grande supremacia da cirurgia no tratamento do cancro naquele período e daí a existência de três serviços de cirurgia (4.º, 5.º, 6.º andar), e de um bloco operatório (2.º andar) com duas salas de operações para grande cirurgia, de uma para especialidades e uma para biopsias, com zonas individualizadas para anestesia, para recobro e para esterilização. Os quartos particulares no 3.º andar atendiam principalmente doentes do foro cirúrgico. Em todos os andares de internamento havia uma zona central em que estavam localizados os quartos do pessoal residente.

Entrada e Sala de atendimento

 

                                        Anfiteatro                                                                                  Farmácia

 

                                         Cozinha                                                                            Sala de Refeições

 

                                         Biblioteca                                                                    Serviços Administrativos

 

                                        Lavandaria                                                                                Terraço

 

Este pavilhão ficou, logo desde o início, ligado por duas galerias (“Zona Suja” e “Zona Limpa”) ao “Pavilhão do Rádio” de modo a facilitar a circulação tanto de pessoal como de material e de doentes. Era, em resumo, um Bloco com todas as valências, com capacidade para internar cerca de 350 doentes onde, quer as condições assistenciais, quer as de trabalho eram excepcionais e o mínimo pormenor era considerado. Só uma concepção arquitectónica com as suas características poderia permitir as adaptações necessárias às novas exigências assistenciais a que se tem assistido, sobretudo nos últimos 10 anos.

Em 17 de Maio de 1940, através do Dec. n.º 30447 da “Direcção Geral do Ensino Superior e das Belas Artes”, foi criada a “Escola Técnica de Enfermeiras”, impulsionada pela amizade entre o Prof. Gentil e o Dr. Rolahill, delegado da Fundação Rockfeller em Portugal. Inicialmente funcionou num edifício na cidade de Lisboa, tendo passado, a partir de 1944 para um edifício próprio dentro do perímetro do IPO na Palhavã.

Primeiras instalações da “Escola Técnica de Enfermeiras”

 

Instalações definitivas da “Escola Técnica de Enfermeiras”, no IPO na Palhavã

 

A Escola passou a estar integrada no Ensino Superior Público e designa-se por “Escola Superior de Enfermagem de Francisco Gentil”, sendo totalmente independente do IPO administrativa, financeira e pedagogicamente.

Com a inauguração do “Pavilhão Central” em 1948, o então designado “Serviço de Hemoterapia” passou a ter instalações próprias, no 2º andar do edifício, próximo da sala de operações e em 1950 ocorreu a inauguração oficial do “Centro de Hemoterapia do IPO”, hoje Serviço de Imunohemoterapia do IPO. Os dadores de sangue aguardavam numa sala no topo do corredor central, junto ao Bloco Operatório, e após a colheita era-lhes servido sanduíches e vinho do Porto. O Hospital era não só auto-suficiente como também cedia sangue, nomeadamente aos Hospitais Santa Maria e São José.

                                        Enfermaria                                                                  Quarto para dois doentes

 

Laboratórios

 

Salas de Cirurgia

 

 

O “Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, E.P.E.” é a actual designação de uma organização com mais de oito décadas de tradição no tratamento de doentes com cancro e na investigação e ensino da Oncologia. O IPO foi crescendo à medida das necessidades, sendo hoje uma unidade hospitalar distribuída por diversos edifícios.

O IPO divide a sua actividade entre a investigação, ensino, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação no domínio da oncologia, encarando o doente no seu todo.

1ª Exposição de Propaganda da Luta contra o Cancro, organizada pelo IPO e inaugurada a 29 de Outubro de 1940, com  trabalho realizado por José Rocha, no Largo das Duas Igrejas, em Lisboa

 

 

 

 

O Instituto dispõe dos meios de diagnóstico e terapêutica adequados ao cumprimento da sua missão, tanto nas áreas laboratoriais e de Medicina Nuclear, como nas terapêuticas cirúrgicas, médicas e pela radiação. É a única instituição da sua área de influência geográfica com possibilidade de tratamento específico de doentes oncológicos em idade pediátrica e é das raras que dispõe de condições para proporcionar uma abordagem diagnostica e terapêutica integrada na patologia tumoral mais complexa.

Na luta contra o cancro, Portugal conta com uma nova instituição, a “Fundação Champalimaud” fundada em 17 de Dezembro de 2004, com o objetivo de promover a investigação científica na área da biomedicina, em especial nas áreas do cancro e neurociências. Para tal foi inaugurado em 5 de Outubro de 2010, o “Centro de Investigação para o Desconhecido” da “Fundação Champalimaud” segundo o projeto do arquiteto goês Charles Correa.

Dedicatória: Dedico este artigo a todos os profissionais de saúde, que com a sua entrega e abnegação - onde incluo os voluntários - têm lutado contra esta doença, tratado e acarinhado os doentes, não esquecendo, evidentemente os doentes, e os que, infelizmente, já partiram vítimas deste flagelo. José Leite

Bibliografia: Instituto Português de Oncologia

Fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Instituto Português de Oncologia

5 comentários:

aragonez disse...

Magnifico artigo, na esteira de muitos outros que nos tem oferecido.
Um neto do Professor Henrique Parreira, é hoje Director na Fundação Champalimaud após muitos anos no IPO.

José Leite disse...

Caro Aragonez

Grato pelo seu amável comentário, e pela informação adicional.

Fundação Champalimaud outra grande instituição.

Os meus cumprimentos

José Leite

Anónimo disse...

Caro José Leite,

Mais uma vez não posso deixar de salientar o magnifico trabalho que tem feito em prol da sua página, que tanto me apraz consultar com a informação que nos transmite, de um passado histórico que deveria ser preservado.

Respeitosos Cumprimentos

José Leite disse...

Caro(a) Anónimo(a)

Muito grato e lisonjeado pelas suas simpáticas palavras em relação ao trabalho que venho desenvolvendo.

Os meus cumprimentos

José Leite

Flor disse...

Olá boa tarde!De vez em quando apareço por aqui e aprecio muito o seu trabalho. Hoje voltei e fiquei curiosa com o título. Eu sou doente oncológica e o IPO de Lisboa, é o meu hospital desde o ano 2000. Está tudo tão diferente.
Muitos parabéns pelo seu trabalho e muito obrigada. Um abraço.
Maria Isabel Quental.