Restos de Colecção: Hospital de Santa Maria

4 de janeiro de 2015

Hospital de Santa Maria

O "Hospital Escolar de Lisboa", projectado, em 1938, pelo arquitecto Hermann Distel,  foi inaugurado em 27 de Abril de 1953 - data do 25º aniversário da entrada do Doutor Oliveira Salazar para o Governo - com as presenças do Chefe de Estado General Higino Craveiro Lopes, do Ministro do Interior Dr. Trigo de Negreiros, do Ministro das Obras Públicas engenheiro Frederico Ulrich, dos ministros da Educação Nacional, das Finanças, do Exército e da Marinha, assim como o presidente da Comissão Técnica dos Hospitais Escolares, professor Dr. Francisco Gentil (1878-1964), que orientou os estudos e os trabalhos da construção do novo hospital.

«O primeiro acto oficial das comemorações do 25º aniversário da entrada do sr. prof. dr. Oliveira Salazar foi a entrega do grande Hospital Escolar de Lisboa pelo Ministério das Obras Públicas ao do Interior. Quis-se assim deixar assinalada nesta data o facto com a maior realização material, no capítulo das edificações, que se tem feito no País e á qual está directamente ligado o nome do sr. presidente do Conselho, não só pela circunstância de ser levado a efeito pelo Governo da sua presidência, mas também porque o ponto de partida desta obra foi uma nota oficiosa assinada pelo sr. prof. dr. Oliveira Salazar. Foi, com efeito, na nota que publicou em 27 de Julho de 1933, que o problema dos hospitais escolares de Lisboa e Porto foi posto, com os dados justificativos da sua necessidade e todas as indicações relativas á decisão que o Governo anunciava de promover as construções.
(...) Depois de analisar o problema hospitalar portugues, com a citação de alguns números elucidativos, o chefe do Governo apresentava, como primeira necessidade, «a construção imediata de um grande hospital-faculdade, com a lotação de 1.500 camas»». in: “Diario de Lisbôa”

                  Notícia na revista “Gazeta dos Caminhos de Ferro”                                   27 de Abril de 1953

 

Com uma área de 128.000 metros quadrados, uma frente de 260 metros, 4.500 portas, 5.400 janelas, com as suas redes de água e energia eléctrica atingindo respectivamente 60 e 350 quilómetros de comprimento, a sua construção orçou em 330.000 contos (330.000.000$00) e o seu empreiteiro geral foi a “Sociedade de Construções Amadeu Gaudêncio”.

A sua construção que teve início em 1940 e terminou em 1953, e tendo sido na altura considerada uma das maiores realizações do Estado Português até então. teve como responsáveis máximos os engenheiro Jacôme de Castro, Tavares Cardoso e Eduardo Carvalhal e arquitecto João Simões que  «neles consubstanciando toda a peleiade de técnicos distintos que aqui mourejaram no erguer deste edifício desde os seus alicerces, que viveram dia a dia a obra e que, na sua execução, puseram o melhor do seu saber e uma dedicação sem limites».

 

 

 

 

A história do Hospital de Santa Maria remonta a 1934, aquando da aprovação do Decreto-Lei relativo à criação da comissão administrativa dos novos edifícios universitários, presidida pelo Professor Francisco Gentil. Esta comissão seria, então, responsável pelos edifícios que iriam albergar os hospitais escolares, tanto em Lisboa como no Porto.

No decurso das obras foi publicado um decreto-lei (em 1952) que integrou todos os hospitais no então Ministério do Interior o que levou a que o inicialmente “Hospital Escolar de Lisboa” sob a tutela única do Ministério da Educação, passasse a “Hospital de Santa Maria”, tutelado por dois diferentes ministérios (Ministério do Interior e Ministério da Educação). A inauguração solene do edifício que como já referi, ocorreu a 27 de Abril de 1953, sendo que em Outubro do mesmo ano se deu a abertura do novo ano lectivo da “Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa” já nas novas instalações do hospital.

 

Cozinha

 

Construção da Avenida 28 de Maio para acesso ao “Hospital Escolar de Lisboa” a partir do Campo Grande

 

Entrada principal

 

 

 

Em 8 de Dezembro de 1957 foi inaugurada a “Escola de Enfermagem do Hospital de Santa Maria” e nela foi formado um número significativo de Enfermeiros. No entanto, a necessidade crescente em termos de recursos de saúde, e muito particularmente de recursos humanos no âmbito de Enfermagem conduziu à necessidade de construção de uma nova Escola com um bloco Residencial, a qual teve o apoio financeiro da “Fundação Calouste Gulbenkian”. Foi inaugurada em Outubro de 1972, com a designação de “Escola de Enfermagem de Calouste Gulbenkian de Lisboa”. Em 1988, quando o Ensino de Enfermagem foi integrado no Ensino Superior Politécnico, passou a designar-se por “Escola Superior de Enfermagem de Calouste de Gulbenkian de Lisboa”.

Actual “Escola Superior de Enfermagem de Calouste de Gulbenkian de Lisboa”

Planta de 17 de Janeiro de 1974

Em 1975 o decreto-lei 674/75 de 27 de Novembro decreta a extinção dos Hospitais Escolares que passam, a partir de então, a ser equiparados aos restantes hospitais e os seus médicos integrados nos quadros dependentes da Secretaria de Estado da Saúde.5

Em 2004 foi inaugurado, também nos terrenos do hospital, o “Edifício Egas Moniz”, sede do “Instituto de Medicina Molecular” destinado à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Também em 2004, o decreto-lei número 206/2004, de 19 de Agosto, restitui ao “Hospital de Santa Maria” a designação de “Hospital Universitário”. A 29 de Novembro desse ano foi feito Membro-Honorário da Ordem do Mérito.

Edifício Egas Moniz

Em Janeiro de 2007 o “Hospital de Santa Maria” foi convertido numa “Entidade Pública Empresarial” (EPE), tendo sido posto em prática o Plano Estratégico 2006-2008 que visava a requalificação global do Hospital.

A 9 de Outubro de 2007 foi apresentado o projecto do novo edifício Sul, designado Edifício Cid dos Santos, que deverá albergar blocos operatórios, cuidados intensivos, cirurgia de ambulatório e ainda uma área dedicada às neurociências e outra aos cuidados materno-infantis.

Desde 27 de Dezembro de 2007, o “Hospital de Santa Maria” integra, juntamente com o “Hospital Pulido Valente” o “Centro Hospitalar Lisboa Norte” EPE (CHLN).

A 14 de Abril de 2009 abriu, junto à Urgência Central, a “Farmácia Santa Maria”, de venda directa ao público. Esta constitui a terceira farmácia hospitalar a abrir no país.

Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (estúdio Horácio Novais)

4 comentários:

jsilva@fm.ul.pt disse...

O "Edifício Egas Moniz" (designação homologada somente em 7/junho/2004 )foi inicialmente concebido e aprovado pela Faculdade de Medicina de Lisboa,em 1986, com a designação de "Edifício das Ciências Fisiológicas",para alojar a maioria dos laboratórios e institutos (e respectivas unidades de ensino) das ciencias fisiológicas, medicina preventiva e medicina nuclear. Esta última unidade não viria a integrar, por razões de operacionalidade, o conjunto anterior. O Instituto de Medicina Molecular (IMM), criado em 2001 a partir de centros de investigação de algumas daquelas unidades, representa o somatório das respectivas actividades, com o estatuto de laboratório associado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Portanto, o EEM não é a sede exclusiva do IMM. Na realdade e de facto é a sede natural de todos laboratórios e institutos para que foi concebido, aos quais veio a juntar-se o IMM.

José Leite disse...

Muito grato pela informação adicional.

Os meus cumprimentos

Anónimo disse...

Sr. José Leite

Os meus agradecimentos por este seu excelente trabalho sobre o HSM.

Felizmente que, até à presente data, não tive necessidade de recorrer aos serviços daquele grande Hospital mas, recentemente, lá tive de ir.

Verifiquei com espanto e tristeza que mão mesquinha e deliberada apagou os nomes do General Higino Craveiro Lopes e do Dr. Oliveira Salazar e mais algumas palavras, da Lápide comemorativa da inauguração daquela grande realização do Estado Novo.
Foi graças a este seu trabalho, que pude reconstituir, através das fotografias que publica, o texto completo da dita Lápide.

Todavia, tive oportunidade de verificar também que, no serviço hospitalar a que recorri, de criação relativamente recente (de grande utilidade mas de pequeníssimas dimensões comparado com o todo do Hospital) lá se encontra bem visível, numa parede da sala de público, a placa dourada comemorativa da inauguração daquele Serviço, pelo Sr Presidente Cavaco Silva.

Será que ninguém se interrogou até agora, sobre esta gritante dualidade de critérios relativamente às placas comemorativas dentro do HSM?
Meus cumprimentos
Manuel Alves

José Leite disse...

Caro Sr. Manuel Alves

São "as amplas liberdades democráticas" em que se tem vivido.

Pena que só são para o "lado" esquerdo ...

É o país que temos.

Os meus cumprimentos