Restos de Colecção: Igreja de Santa Engrácia

18 de janeiro de 2015

Igreja de Santa Engrácia

A “Igreja de Santa Engrácia” - “Panteão Nacional”, situa-se no local de uma igreja erguida pelo arquiteto Jerónimo de Ruão, em 1568, por determinação da Infanta D. Maria, filha do Rei D. Manuel I, para receber o relicário da virgem mártir Engrácia de Saragoça e por ocasião da criação da freguesia de Santa Engrácia, em Agosto de 1568, por Breve do Papa Pio V, separando-a da paróquia de Santo Estêvão de Alfama. Essa antiga igreja fora construída no local de um templo de meados do século XII mas foi severamente danificada por um temporal no ano de 1631.

Em 1632, tem início das obras da segunda igreja segundo projecto do arquitecto Mateus do Couto, tendo para o efeito sido solicitadas "esmolas régias" a Filipe III, contribuindo os irmãos com quotas anuais, para a execução da mesma. a “Irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento” (fundada em 1631), institui as “Festas do Desagravo”, a celebrar anualmente nos dias 16, 17 e 18 de Janeiro, às quais presidiam a Família Real. Com a morte do arquitecto Mateus do Couto, as obras são paradas, sendo só retomadas em 1682. A 31 Agosto de 1682, o então príncipe D. Pedro, em cerimónia solene, lança a primeira pedra da atual igreja, edificada de raiz, sendo encarregue da obra o sobrinho do anterior arquiteto, também ele chamado Mateus do Coutos, segundo projeto do mestre pedreiro João Antunes. As obras foram custeadas pelas esmolas régias e pelas quotas dos irmãos, mas entre os anos 1686 e 1692 as obras param de novo. Com as obras paradas, a seguir ao terramoto de 1 de Novembro de 1755, que não afeta a igreja, é acolhimento da “Irmandade do Santíssimo”, da “Irmandade  dos Escravos do Santíssimo”, e da “Irmandade das Almas e da Esperança”, quase em extinção.

 

 

Em 1834, com a extinção das ordens religiosas a “Igreja de Santa Engrácia” é entregue às instituições militares, tendo sido utilizada como quartel, depósito de materiais de guerra e fábrica de calçado do exército.

Fábrica de calçado do exército na “Igreja de Santa Engrácia”

Em 1916, com a publicação de uma lei de 29 de Abril, é-lhe conferida a condição de “Panteão Nacional”. Em 1934 é constituída uma comissão constituída pelo escultor Francisco Franco, pelo arquitecto Cristino da Silva e o olissipógrafo Gustavo de Matos Sequeira, destinada a elaborar um parecer sobre a forma de concluir as obras. Foram tomadas medidas efectivas para a recuperação do edifício existente e construção da cúpula em 1956, tendo sido pedidos novos estudos a dez arquitetos de entre os quais se encontravam, apenas o de António Lino (sobrinho do arq. Raúl Lino) e de Luís Amoroso Lopes, tendo sido escolhido este último para prosseguir o desenvolvimento do trabalho, a partir das várias soluções encontradas.

Projecto de António Lino, que não teve sequência

Projecto de Luís Amoroso Lopes

 

 

As obras prolongaram-se entre 1962 e 1966, ano em que se verifica a conclusão da construção com assentamento da cúpula baseada no projeto do arquiteto Amoroso Lopes. Em 1966 são executadas por mestre António Duarte, as  esculturas de Santa Engrácia, de Santa Isabel, de Nuno Álvares Pereira, de Santo António, de São João de Brito, de São João de Deus e de São Teotónio.

 

 

 

 

Finalmente, a 7 de Dezembro de 1966 é inaugurado oficialmente o “Panteão Nacional”, com a conclusão da construção da “Igreja de Santa Engrácia”, 334 anos depois do início da sua construção em 1632. Por isso foi criado o dizer popular «parecem as obras de Santa Engrácia» para algo que está demorando muito tempo a ser concluído. Nesse mesmo ano, os restos mortais de Almeida Garrett, João de Deus, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Óscar Carmona e Sidónio Pais seriam trasladados para aqui.

Aspecto das cerimónias da inauguração

Notícia da inauguração no “Díario de Lisbôa”

 

Chegada do Presidente do Conselho, Doutor Oliveira Salazar

O “Panteão Nacional de Portugal” está instalado em Lisboa, na “Igreja de Santa Engrácia”, e em Coimbra, na “Igreja de Santa Cruz”, estatuto que foi reconhecido ao “Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra” em Agosto de 2003, pela presença tumular dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I.

Mosteiro de Santa Cruz (Panteão Nacional) em Coimbra

A edificação de um “Panteão Nacional” foi estipulada pelo ministro Passos Manuel em Decreto de 26 de Setembro de 1836, cuja edificação ainda não tinha local escolhido. O objetivo na época seria dignificar os heróis que se sacrificaram na “Revolução de 1820” e reerguer a memória coletiva para grandes homens entretanto caídos no esquecimento, como Luís de Camões.

 

Actualmente, o “Panteão Nacional” destina-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade.

Abriga os cenotáfios de heróis da História de Portugal, como: Luís de Camões, Vasco da Gama, D. Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique, Pedro Álvares Cabral e Afonso de Albuquerque.
Nota: cenotáfio significa, memorial fúnebre erguido para homenagear alguma pessoa ou grupo de pessoas cujos restos mortais estão em outro local ou estão em local desconhecido.

Actual.2

 

Estão, actualmente, depositados no “Panteão Nacional” as seguintes personalidades:

Almeida Garrett (1799-1854), escritor e político
João de Deus (1830-1896), escritor
Manuel de Arriaga (1840-1917), Presidente da República
Sidónio Pais (1872-1918), Presidente da República
Guerra Junqueiro (1850-1923), escritor
Teófilo Braga (1843-1924), Presidente da República
Óscar Carmona (1869-1951), Presidente da República
Aquilino Ribeiro (1885-1963), escritor
Humberto Delgado (1906-1965), general da Força Aérea e Diretor-Geral da Aeronáutica Civil
Amália Rodrigues (1920-1999), fadista
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), escritora

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, SIPA, Museu da Cidade

5 comentários:

Vespinha disse...

Que curioso vê-la sem a cúpula!

José Leite disse...

Caro "Vespinha"

E durante muuuuuitos anos, assim permaneceu.

Cumprimentos

José leite

Ivete Ferreira disse...

E ter estado lá no topo e espreitar e ver o chão do interior da igreja. Só a insensatez de uma garota de cerca de doze anos...
Ivete Ferreira

Anónimo disse...

Arejem a cabeça e não façam censura vermelha à verdade que vos desagrada, como fizeram com um artigo que aqui escrevi à dias.

José Leite disse...

Caro(a) anónimo(a)

Não publiquei o seu comentário por o considerar de carácter político, e este não é o espaço para esses desabafos.

No entanto posso dizer-lhe que concordo, em parte, com a sua opinião.

Os meus cumprimentos

José Leite