A “New York World’s Fair 1939”, traduzindo, “Feira Mundial de Nova Iorque de 1939” foi inaugurada em 30 de Abril de 1939. Esta exposição universal, ocupou um área de 492 ha, no “Flushing Meadows-Corona Park” - local que viria a ser ocupado pela “Feira Mundial de Nova Iorque” (1964-1965) - tendo sido a segunda maior feira mundial americana de todos os tempos, somente ultrapassada pela “Louisiana Purchase Exposition” de 1904. A feira mundial antecessora tinha sido a “Exposition Internationale des Arts et Techniques dans la Vie Moderne in Paris” , ou simplesmente “Exposição Internacional de Paris”, em 1937 onde Portugal também esteve presente.
Feira Mundial de Nova Iorque em “Flushing Meadows-Corona Park”
Planta com o pavilhão de Portugal no topo esquerdo
A “Feira Mundial de Nova Iorque”, em 1939, mais que uma demonstração da evolução técnica dos países participantes, pretendia ser como uma ilustração optimista e positiva centrada no futuro. Esta visão idealista tinha como objectivo fazer face à crise económica americana, decorrente do “Big Crash” de 1929.
Lembro que, a primeira presença de Portugal numa Exposição Universal foi em Londres, em 1851, naquela que seria a primeira do género e de seu nome: “Great Exhibition of the Works of Industry of all Nations”. Para albergar a exposição foi construído em Hyde Park uma grandiosa estrutura em ferro e vidro, o “Crystal Palace”.
“Crystal Palace” em Hyde Park, Londres em 1851
Portugal viria a participar em 1878 na “Exposition Universelle de Paris 1878”, pela primeira vez com um pavilhão próprio. O pavilhão de Portugal, era «o resultado de uma amálgama entre o Palácio da Pena, o Palácio de Sintra e o Mosteiro dos Jerónimos».
Pavilhão de Portugal na “Rue des Nations” da Exposição Universal de Paris
A presença portuguesa, teve um objectivo diferente em relação à exposição anterior e mesmo em relação aos outros participantes. A imagem projectada é a de um Regime “humanizado” preocupado com a população, é aqui amplificada de modo atingir directamente o interesse da comunidade de emigrantes portugueses residentes nos E.U.A.
A presença de Portugal nesta “Feira Mundial de Nova Iorque”, foi comissariada por António Ferro, director do “SPN - Secretariado de Propaganda Nacional”, que escolheria o arquitecto Jorge Segurado para a realização do projeto de arquitectura do pavilhão de Portugal. O pavilhão teve, ainda, a colaboração da equipa de decoradores do “SPN” formada por: Fred Kradolfer, Carlos Botelho, Bernardo Marques, José Rocha, Paulo Ferreira, Emmerico Nunes e Tomaz de Mello (a mesma equipe que decorou o Pavilhão de Portugal projetado por Keil do Amaral para a Exposição Internacional de Paris, em 1937). Foram ainda incluídas obras de outros autores, entre os quais: Maria Keil, António Soares, Jorge Barradas, Estrela Faria, Canto da Maia, Leopoldo de Almeida, Álvaro de Brée, Barata Feyo, Paulo Ferreira, etc.
Esboço do projecto inicial de Jorge Segurado
Obras de construção do pavilhão iniciadas em 1938
Planta do Pavilhão
A proposta que foi seleccionada, da autoria do arquitecto Jorge Segurado, foi composta pela junção de dois volumes distintos, um planimétrico e outro de forma circular. O primeiro destinava-se às salas de evocação histórica, com representações que pretendiam retratar o passado, o presente e o futuro, e o segundo teria a dupla função de espaço de recepção e expositivo, ao acomodar a secção do “Turismo e Arte Popular” no segundo piso.
Pavilhão de Portugal
Assinatura do Livro de Honra por António Ferro João de Bianchi (Ministro de Portugal em Washington)
Na foto anterior e da esquerda para a direita: Jorge Segurado (Arquitecto), Dr. Aragão Barros (Cônsul adjunto), Albin Johnson (Comissário da Feira), J. Saavedra de Figueiredo (Vice-cônsul em Nova Iorque), João de Bianchi (Ministro de Portugal em Washington), Julis Cecil Holmes (Assistente administrativo), Grover Whalen (Presidente da Feira), António Ferro (Comissário do pavilhão de Portugal), Admiral William H. Standley (Director das participações estrangeiras) e Victor Verdades (Consul de Portugal em Nova Iorque).
Cerimónia da inauguração do pavilhão de Portugal
Grover Whalen (Presidente da Feira) discursando
A entrada no pavilhão, situado no volume circular, é efectuada por uma porta de arco em volta perfeito, encimado pelo o escudo nacional e ladeado por uma monumental moldura decorado com uma figuração em relevo, inicialmente concebida como vitrine, por Maria Keil. Na torre redonda, marcada por pilares adossados rematados em ameias, é ainda inscrito a designação do país. O “hall” de entrada dá acesso ao segundo volume, organizado segundo uma sequência cronológica das salas, desde da sala da “Descoberta do Atlântico”, à secção de “Columbo”, à secção dedicada a “Expansão Portuguesa no Mundo”, seguido da secção do “Planisfério Luminoso” (monumental planisfério de cortiça onde estavam assinalados os diferentes trajectos realizados pelos portugueses) e finalmente na ala dedicada ao “Presente” e ao “Estado Novo”.
No "Século Ilustrado"
“Vitrine Monumental” por Maria Keil
Baixos relevos por Jorge Barradas e Paulo Ferreira
Painéis para a sala “Expansão Portuguesa no Mundo”
Planisfério Luminoso da Epopeia Marítima por Fred Kradolffer
O percurso é rematado por um pátio ajardinado, para o qual é projectado uma escadaria de ligação a um terraço ao ar livre. Esta estrutura independente, de significado simbólico, cujo distanciamento espacial é tradutor de distanciamento temporal, pretendeu ser uma representação de um possível futuro superior, justificado pelo passado e pelo o presente nacional, identificada pelo o friso escultórico.
O carácter térreo do pavilhão, a simulação de uma construção em pedra, a aplicação de elementos e decorativismos de função simbólica e evocativa, supostamente nacionais, definem uma encenação ligada ao passado e condicionada pelos objectivos ideológicos, onde a importância reside na exaltação da história e das raízes.
Maquetas a serem colocadas nas várias secções do pavilhão português
“Barcos e Portos”
“Finanças e Governação do Estado Novo” e “Pesca do Bacalhau”
“Obras Públicas e Restauro de Monumentos”
“Descoberta do Atlântico” por Fred Kradolffer
Incluída na participação portuguesa na “Feira Mundial de Nova Iorque”, para além do pavilhão principal, contou, também, com a edificação do “Stand de Honra”, também da autoria do arquitecto Jorge Segurado, a enquadrar no “Hall das Nações Estrangeiras”. Edifício de 5.000m2 de superfícies lisas, definido numa planta adaptável, concretizando um desejo de monumentalidade em que os únicos elementos decorativos são constituídos pelo tradicional escudo armilar, designação país e ainda um mapa-mundo, esta necessidade advém do facto de se querer impor face aos outros pavilhões, pretendendo ser a “afirmação das colónias, império e valores cristãos.”
“Turismo e Arte Popular” por Thomaz de Mello
Esta “Feira Mundial de Nova Iorque” encerraria no ano seguinte a 30 de Outubro de 1940. A exposição universal seguinte a “Exposition internationale du Bicentenaire de Port-au-Prince” em Port-au-Prince, no Haiti, viria a ser inaugurada só em 1 de Dezembro de 1949, em virtude da II Guerra Mundial, e para comemorar os 200 anos da fundação deste país.
Portugal esteve presente em várias exposições mundiais. As suas presenças em Paris em 1937, e Bruxelas em 1958, foram aqui destacadas em dois artigos que podem ser visitados nos seguintes links: “Portugal na Exposição Internacional de Paris” (1937) e “Portugal na Exposição Universal de Bruxelas” (1958).
Bibliografia: “Arquitectura como instrumento na construção de uma imagem do Estado Novo” - Tese de Licenciatura em Arquitectura de Marta Raquel Pinto Baptista - FCTUC Arquitectura - Coimbra (2008).
fotos in: New York Public Library, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)
1 comentário:
Não fazia ideia da existência deste evento, que curioso! Obrigada pela partilha.
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