O edifício da “Agence Générale d’Automobiles”, mais conhecida por “Garage Beauvalet”, e pertença da firma “A. Beauvalet & Cta., Engenheiros”, foi inaugurado em Março de 1906, na praça dos Restauradores em Lisboa.
Segundo José Carlos Barros Rodrigues no livro “O Automóvel em Portugal - 100 anos de história” …
“Em 1899, a Empreza Industrial Portugueza dirigida por Fernando Baerlein, convidou um engenheiro francês, Albert Beauvalet, para dirigir a concepção e o processo de produção de um automóvel nacional. … Quanto a Beauvalet fixar-se-ia definitivamente no nosso país, garantindo nessa mesma altura a representação da Peugeot.”
Umas fontes afirmam que a experiência da EIP não teve sucesso (pelo menos conhecido), outras fontes permitem concluir que o carro foi construído e chegou a rodar. O problema é que a indústria portuguesa não tinha máquinas-ferramentas nem operários especializados para prosseguir o projecto. Provavelmente também faltou o necessário financiamento.
O “Palácio Castelo-Melhor”, localizado na Praça dos Restauradores, na fase anterior às obras introduzidas pelo Marquês da Foz, possuía o muro, visível à esquerda da foto seguinte, e que dava acesso aos jardins, onde se instalou o Circo Recreios Whyttoine. Mais tarde, no início do século XX, já tinha sido acrescentado um piso (2ª foto).
No edifício das antigas cocheiras, visível na foto anterior, ainda chegou a funcionar entre 27 de Janeiro de 1889 e 29 de Dezembro de 1891, o “Grande Museu Universal Artistico Historico e Oleopatico”. No ano de 1890, chegou a chamar-se de “Grandiosa Galeria Universal Parisiense”, tendo, ainda no final do mesmo ano, voltado á antiga designação retirado o “Oleopatico”.
27 de Janeiro de 1889 29 de Dezembro de 1891
Mais tarde, em 1902 as antigas cocheiras deste palácio seriam alugadas e transformadas na “Garage Beauvalet”. Parte do rés-do-chão seria cedido a um "Music-Hall", mais ou menos improvisado e que seria o primeiro de Lisboa.
20 de Julho de 1907
1904
1905
Em Março de 1906 seria inaugurado um novo edifício no mesmo local, destinado à venda e reparação de automóveis importados pela “Albert Beauvalet & Cª”. À inauguração estiveram presentes o Rei D. Carlos, e Armand Peugeot, fundador da marca «Peugeot» e representada por Albert Beauvalet.
Garage da “Albert Beauvalet & Cª” à esquerda na foto
«Os srs.Albert Beauvalet & Ctª acabam de inaugurar a sua nova garage no terrasse do Palacio Foz, sito na Praça dos Restauradores, um dos pontos mais centraes de Lisboa.
Foi por esta occasião, Beauvalet, alvo d'uma justíssima manifestação de apreço e sympathia, por parte de todos quanto em Portugal se interessam pelo automobilismo e que viram n'aquella grandiosa installação, o quanto vale a iniciativa e persistencia d'um verdadeiro homem de trabalho.
Desde o Augusto Chefe da nação portugueza ao humilde chauffeur, todos quiseram n'essa ocasião manifestar o seu applauso ao grande emprehendedor. El-Rei dignando-se visitar e elogiar a sumptuosa garage de Albert Beauvalet, deu um nobre exemplo de justiceiro e do apreço que liga a todos quanto se distinguem pelo trabalho. O representante da França, patria de Beauvalet, honrou tambem a festa com a sua presença e teve palavras de incitamento e louvor para galardoar o seu compatriota.
Uma das demonstrações que mais deveria ter calado no animo do sr. Beauvalet, foi a vinda expressa a Lisboa de mr. Armand Peugeot, hoje representante em chefe da prestigiosa fabrica conhecida pelo seu nome, e patriarcha da industria do automovel. A casa Peugeot, quiz assim distinguir o seu representante em Portugal e mr. Armand Peugeot, que na sua visita era acompanhado de sua gentilissima filha, levará para França a convicção de qua a sua marca de automoveis está perfeitamente cotada no nosso paiz.
A recpeção que os srs. Albert Beauvalet & Ct.ª prepararam aos seus convidados foi verdadeiramente fidalga e as honras da casa gentilmente prestadas por madame Beauvalet e seu esposo e pelo nosso amigo José Vicente Gomes Cardoso.
Os brindes, ao champagne, eram terminados ao som dos hymnos portuguez e francez e da festa compartilhou tambem todo o innumero pessoal da garage, amigos dedicados dos seus directores.
Um dos brindes que mais se nos tornou significativo foi o do sr. Beauvalet aos seus operarios, frisando que todos eram portuguezes e protestando a sua admiração pelo muito que o teem ajudado.» in: jornal: “Tiro e Sport”
Albert Beauvalet em Peniche em Setembro de 1908, num Lion Peugeot Voiturette de 1907.
Postal publicitário
Em Junho de 1909 o stand de Albert Beauvalet seria transferido para uma das lojas do “Avenida-Palace Hotel”, também na Praça dos Restauradores”. Nas suas instalações instalar-se-ia o “Recreios Music-Hall” que a revista “Serões” noticiava, em Dezembro de 1909, da seguinte forma:
Em 1914 seria construído, no seu lugar, o “Eden Teatro”
O novo stand, no edifício do “Avenida Palace Hotel”
E por ocasião da “Rampa da Ponte Nova à Cruz das Oliveiras” outro anúncio em Março de 1910
Lembro que Albert Beauvalet teve um papel pioneiro na introdução dos transportes de passageiros em automóveis. Duas marcas - e, consequentemente - dois importadores, destacaram-se no apoio à divulgação dos transportes utilizando automóveis: a «Peugeot», com “A.Beauvalet & Cta., Engenheiros” e a «De Dion Bouton», com a “Sociedade Portuguesa de Automóveis”. O seu papel não se limitou ao de um revendedor: estudaram as melhores propostas sob o ponto de vista mecânico (número de cilindros e potência) em conjunto com a capacidade instalada dos veículos e fizeram inúmeros testes práticos, medindo consumos e velocidades. Na realidade, neste campo, foram fundamentais para ajudar os empresários a decidir, efectuando trabalho que, em tese, teria de ser desenvolvido pelos últimos.
“Companhia Portugueza de Transportes em Automoveis” em 1903
Na foto seguinte um carro de transporte colectivo, numa saída de «experiência» da “Auto-Palace” já propriedade da “The Anglo Portuguese Motor & Machinery Company Limited” sucessora da SPA. No carro pode-se ler: “Passageiros, Bagagens e Mercadorias”.
Já em 1913 a representação da marca de automóveis «Peugeot» tinha passado para a firma “A. Contreras & Cª, Lda.”, com stand na Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Nota. Muito agradeço a colaboração do sr. Pedro Ferreira para a elaboração deste artigo
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital