A "Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima", foi edificada na Avenida Marquês de Tomar em Lisboa, cujas obras foram iniciadas em 1934, com projecto do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957). Esta obra destacou-se no panorama nacional pela polémica que suscitou, designadamente ao nível político, cultural e arquitectónico. Este facto valeu-lhe a designação de “ igreja mais polémica do século XX ”, construída em Portugal.
A controvérsia iniciara-se quando o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Cerejeira anunciou a construção, na sua Diocese, de uma igreja dedicada a S. Julião (Inicialmente a igreja tinha por patrono S. Julião, uma vez que a igreja antiga foi demolida, para a ampliação das instalações do Banco de Portugal) com características modernas, da autoria do arquitecto Pardal Monteiro.
O facto do arquitecto assumir publicamente a sua não religiosidade e de se considerar um cidadão laico, originou contestação por parte do sector conservador do Regime e da Igreja, que rejeitou simultaneamente a escolha do arquitecto e do projecto. Pardal Monteiro foi um dos arquitectos que mais contribuiu para a renovação da arquitectura em Portugal, tirando partido do conhecimento que dispunha sobre os movimentos internacionais a que estava ligado, era considerado um homem de ideias vanguardistas e, como tal, inadequado ao lema do Regime de Salazar: "Deus, Pátria e Família".
Nave Central Cúpula
Inaugurada a "Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima" a 12 de Outubro de 1938 pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Cerejeira, e apresentada como uma obra importante para o país, dado marcar o início de uma nova era na arquitectura religiosa em Portugal foi criticada por individualidades tão díspares como o então Presidente da "Sociedade Nacional de Belas-Artes",o Coronel Arnaldo Ressano Garcia, o arquitecto Raul Lino, o escritor e advogado Tomaz Ribeiro Colaço, entre outras.
Notícia da inauguração na revista “Ilustração”
Em relação ao interior desta igreja constata-se que apesar da expectativa e da contestação gerada, são poucas as inovações. De planta centralizada, tipo basilical, possui o Baptistério junto à entrada do lado direito, a uma cota inferior e com duplo acesso, tanto pelo exterior como pelo interior. Em lado oposto, situa-se a capela mortuária, também com duplo acesso. Sobre a entrada principal situa-se o coro, onde assenta o órgão de tubos de grandes dimensões. Com um corpo de 65 metros de comprimento e uma nave de 50 metros por 24 de largura e uma capacidade para 800 fiéis, tem ainda como complemento duas naves laterais de acesso às capelas laterais e aos confessionários.
Nave central Altar-mor, Presbitério e Cabeçeira
Artistas plásticos de renome nacional dão o seu contributo naquele que é considerado um dos edifícios religiosos com maior número de artistas intervencionados no século XX, em Portugal.
A Almada Negreiros pertencem todos os vitrais, os frescos da cúpula da ábside, os mosaicos e o portão do Baptistério; ao pintor Lino António correspondem as pinturas nos arcos e o fresco da Coroação da Virgem existente na guarda do coro; ao pintor Henrique Franco, a Via-Sacra; ao escultor Barata Feyo, o Cristo na Cruz; a Leopoldo de Almeida pertence o retábulo da Ressurreição de S. Lázaro, as imagens de N.ª Sr.ª de Fátima e de S. João Baptista sobre a pia baptismal; de Anjos Teixeira, filho, a porta do Sacrário e a St.ª Teresinha; a Raul Xavier, o St.º António; a António Costa a N.ª Sr.ª de Fátima existente no exterior e a Francisco Franco, o Cristo e os Apóstolos no alçado principal.
Baptistério Capela de Santo António
Não obstante, o contributo destes autores a igreja foi interpretada como uma obra austera, de menor qualidade e inapropriada à arquitectura religiosa da então Capital do Império. Consciente das críticas, Cardeal Cerejeira manifestou-se por escrito, argumentando que «Copiar cegamente formas artísticas doutras épocas, será fazer obra de arqueologia artística; mas não é seguramente obra viva de arte» e defendeu convictamente o arquitecto e o seu projecto, mesmo quando Oliveira Salazar manifestou o seu desagrado, considerando-o arrojado e descaracterizado, por o estilo arquitectónico não se enquadrar com o estilo cooperativo do Estado Novo.
Alguns Vitrais
A resposta da classe profissional dos arquitectos à controvérsia gerada veio com o Prémio Valmor de 1938.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital
1 comentário:
não fosse a cruz diria vista por fora que é um cinema .
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