Restos de Colecção: Instituto Superior Técnico

15 de junho de 2012

Instituto Superior Técnico

A 23 de Novembro de 1910, Brito Camacho foi nomeado Ministro do Fomento do Governo Provisório da recém-criada República Portuguesa. Uma das suas primeiras prioridades, como escreveu uns anos depois no periódico "A Lucta", foi a reforma do "Instituto Industrial e Comercial de Lisboa" e que para tal convidou Alfredo Bensaúde, para primeiro director do "Instituto Superior Técnico".

 Alfredo Bensaúde (1856-1941)


[c. 1935-1941], Ellmo Braccla. Espólio de Miguel António Azcarreta Y Bensaude.© Instituto Superior Técnico.

O “Instituto Superior Técnico” (IST) foi fundado em 23 de Maio de 1911 na Boavista ao Conde Barão em Lisboa, comemorando o seu I Centenário ano transato, fruto da divisão do "Instituto Industrial e Comercial de Lisboa" herdando as instalações do extinto "Instituto Industrial".

Lembro que o "Instituto Industrial" foi fundado em 30 de Dezembro de 1852, pelo Ministro Fontes Pereira de Melo. Em 1869 passa a designar-se "Instituto Industrial e Comercial de Lisboa" e a partir de 1896 é convertido numa escola de comércio desde 1884 e de engenharia desde 1896 até 1910.

O "Instituto Industrial e Comercial de Lisboa" é extinto pela 1ª República. Em 1911 este instituto é dividido em "Instituto Superior Técnico" (ramo engenharia) e no "Instituto Superior de Comércio" (hoje ISEG) ramo comércio e finanças.

Em 1918 o "Instituto Industrial de Lisboa" é refundado, conferindo o grau de engenheiro técnico aos seus formandos. Em 1974 é renomeado de "Instituto Superior de Engenharia de Lisboa" (ISEL).

  Vista aérea das instalações do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, herdadas pelo Instituto Superior Técnico 1934


[c. 1900], Augusto Bobone. Arquivo Municipal de Lisboa/Núcleo Fotográfico/A30641© Arquivo Municipal de Lisboa

Ficou também o Instituto na posse de alguns terrenos na área do extinto Conventos das Francesinhas. O «barracão da Boavista» , designação pela qual eram conhecidas as instalações do IST, poucas condições ofereciam à prática do ensino. As salas de aulas teóricas eram exíguas, as salas de aulas práticas, não tendo sido construídas de raíz, não apresentavam as características de laboratórios, a iluminação era deficiente, o aquecimento inexistente, as infiltrações de água abundavam.

O ano lectivo iniciou-se em Novembro desse ano.O primeiro Director do IST (1911-1922) foi o Engenheiro Alfredo Bensaúde que, para além de promover uma profunda renovação nos métodos de ensino da Engenharia em Portugal, foi o responsável pela criação no IST dos primeiros cursos de Engenharia: Minas, Civil, Mecânica, Electrotécnica e Químico-Industrial.

Aula de Desenho Aula de Física[c. 1900], Augusto Bobone. Arquivo Municipal de Lisboa/Núcleo Fotográfico/A76237 e 76235 © Arquivo Municipal de Lisboa

Aula de Química Biblioteca[c. 1900], Augusto Bobone. Arquivo Municipal de Lisboa/Núcleo Fotográfico/A76241 e 76248 © Arquivo Municipal de Lisboa

Com as portas abertas pela legislação de 14 de Julho de 1911, Alfredo Bensaúde recrutou professores, nacionais e estrangeiros, cuja actividade era de reconhecida competência, sendo que alguns não estavam inicialmente ligados ao ensino. O corpo de docentes no período 1911-1920 era composto por 26 membros, dos quais cinco estrangeiros a saber: Charles Lepierre - França, Giovanni Costanzo - Itália, Abram Droz, Léon Fech e Ernest Fleury - Suiça. Grande parte dos portugueses tinham efectuado os seus estudos superiores em universidades e institutos europeus, sobretudo em França e na Alemanha.

Professores estrangeiros no IST


[193-?], autor desconhecido. © Instituto Superior Técnico

No ano lectivo de 1925-1926 o engenheiro Duarte Pacheco inicia as suas funções de professor da cadeira de Matemáticas Gerais aqui no IST onde tinha sido aluno e se formado com 19 valores. Mais tarde é eleito Director do IST a 10 de Agosto de 1927 com apenas 27 anos de idade. É nessa qualidade inicia as negociações com o Governo para desbloqueio e pedido de empréstimo "Caixa Geral de Depósitos" para a aquisição do terreno e construção do novo "Instituto Superior Técnico".

Duarte Pacheco (1899-1943)

O terreno situavam-se nas imediações do bairro da Arco do Cego, o primeiro bairro social de Lisboa, criado por decreto na vigência da I República com o objectivo de dar resposta à carência de habitação para a classe operária. Este bairro foi construído entre 1919 e 1927 sob o projecto do arquitecto Adães Bermudes, Frederico Caetano de Carvalho e Edmundo Tavares.

Com o empréstimo contraído junto da CGD , o IST não só comprou os terrenos necessários à área de construção do novo edifício como adquiriu uma área bem mais vasta, investindo capital na compra de prédios rurais, pois o que ali existiam eram quintas. A licença de construção obtida na CML contemplou toda a área adquirida e não sómente a estrita à construção do complexo. Com esta medida os terrenos valorizaram e o dinheiro da valorização  fortaleceu a segunda verba destinada à construção do complexo do IST. Os terrenos vendidos destinaram-se a arruamentos, ao "Instituto Nacional de Estatística" e a habitações privadas.

                          Primeiros alunos do IST em 1911/12                      Primeiras disciplinas do IST entre 1912 e 1927

 
  INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO/NÚCLEO DE ARQUIVO - Listagem dos primeiros alunos e das primeiras disciplinas do Instituto Superior Técnico. [2011] Acessível no Instituto Superior Técnico/Núcleo de Arquivo, Lisboa, Portugal.

© Instituto Superior Técnico

Entre 1927 e 1931 o Estado permitiu ao IST contrair um empréstimo junto da CGD no valor de 17.500 contos (87.289 €) . O programa das novas instalações do IST cujo projecto tinha sido entregue ao arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, escola técnica por excelência, implicava o equipamento com salas de aulas teóricas, salas para trabalhos práticos, laboratórios, anfiteatros, salas de conferências, biblioteca, dependência da associação de estudantes, piscina, etc…

Apresentando-se o volume de construção num programa muito vasto, o arquitecto Pardal Monteiro distribuiu as várias engenharias por diversos edifícios, «porque a divisão dos cursos em especialidades impunha a previsão de futuras ampliações e porque os perfis do terreno não eram favoráveis à concentração de todas as instalações num edifício»

Em 1934, o IST atingiu um dos objectivos que haviam norteado a sua criação: os seus alunos formandos e engenheiros diplomados eram já considerados pelos industriais com agentes do progresso, sendo considerada a partir desse ano uma escola de mérito e de excelência.

Campus do IST em construção em 1934, frente á futura Alameda Afonso Henriques, e do lado do Arco do Cego (dir.)

 
 [c. 1934], Pinheiro Corrêa Arquivo Municipal de Lisboa/Núcleo Fotográfico/A30640 e A30641 © Arquivo Municipal de Lisboa

Panorama do IST em construção e o Bairro do Arco do Cego


[c. 1934], Pinheiro Corrêa.Arquivo Municipal de Lisboa/Núcleo Fotográfico/A30643. © Arquivo Municipal de Lisboa

Entre 1928 e 1938 o IST apresentou uma média anual de 141 alunos matriculados, apresentando nesses 10 anos 100 reprovações. Apenas 31 por cento dos alunos conseguiam concluir o curso entre os 6 e os 10 anos de frequência, levando 69 por cento dos inscritos mais de 10 anos a concluir o curso de engenharia.

As novas instalações do "Instituto Superior Técnico", construídas entre 1929 e 1942, constituíram o primeiro «campus universitário» que foi inaugurado oficialmente em 23 de Maio de 1942.

O busto de Alfredo Bensaúde, esculpido por António Duarte, foi colocado no átrio do pavilhão central em 1943. à sala do Conselho do IST presidem, desde 1945, dois retratos: o de Brito Camacho e o de Duarte Pacheco; três obras que materializam e perpetuam a memória dos três homens que ergueram o "Instituto Superior Técnico" do projecto à realidade.

Instituto Superior Técnico, nos anos 40 do séc. XX

 

"Instituto Superior Técnico" e "Instituto Nacional de Estatística" 

                                                                         Traseiras do Pavilhão Central                                     

                                 

                                                 "Instituto Superior Técnico" e Alameda Afonso Henriques

                                 

O ano lectivo de 1935-36 decorreu já nas novas instalações do Arco do Cego. A última sessão do Concelho Escolar do Técnico presidido por Duarte Pacheco, realizou-se a 31 de Julho de 1937. Saía do IST para cumprimento do segundo mandato como Ministro das Obras Públicas e já não voltaria ao Técnico. Sucedia-lhe no Conselho Escolar engenheiro Bellard da Fonseca.

Em 1943 tem lugar nas instalações do IST a "Exposição Suiça" inaugurada em 30 de Outubro do mesmo ano.

                                                                             Cartaz por Fred Kradolfer

                                                          

Em 1947, o IST recebeu o II Congresso Nacional de Engenharia, o I Congresso Nacional de Arquitectura e, em 1948 a "Exposição 15 Anos de Obras Públicas".

                    Instituto Superior Técnico, em Maio de 1948 durante a "Exposição 15 Anos de Obras Públicas"

                                 

             15 Anos de Obras Públicas     1948 Expo Obras Públicas

Em 1930 surge a "Universidade Técnica de Lisboa", e o IST, então com cerca de 20 anos de funcionamento regular, é uma das quatro Escolas que a integra. Ao longo de toda essa década e da seguinte, a imagem dos engenheiros formados no IST foi projectada pela realização de grandes obras de engenharia, impulsionadas por Duarte Pacheco, na altura Ministro das Obras Públicas. Entre 1952 e 1972 a Comissão de Estudos de Energia Nuclear, criada no âmbito do Instituto de Alta Cultura, teve uma importante função na formação de meios humanos, levando à criação de 12 centros de estudos e agrupando um total de 14 laboratórios.

                                  Laboratório de física                                                                    Anfiteatro

         

                                       Sala de aulas                                                                             Piscina

        

Entre 1952 e 1972 são criados em Portugal 12 centros de estudos, três dos quais sediados no IST, abrangendo os domínios da Química, Geologia e Mineralogia, e Electrónica. Estes centros são responsáveis pela formação e qualificação científica do corpo docente do IST, nomeadamente através do fomento e realização de doutoramentos em universidades e centros de investigação no estrangeiro.

         

        

         

                 "Instituto Superior Técnico" e estátua de António José de Almeida do escultor Leopoldo de Almeida

                                 

Entretanto, a partir de 1970 o período mínimo para obtenção do grau de licenciatura altera-se de 6 para 5 anos, dando resposta a um aumento significativo do número de alunos matriculados no IST. Assiste-se, nesse período, a um crescimento considerável da investigação científica realizada no IST, nomeadamente através da criação do edifício Complexo Interdisciplinar que congrega várias unidades de investigação autónomas, tornando definitivamente o IST numa escola de referência a nível europeu.

                                                                          Complexo Interdisciplinar

 

Maqueta e projecto do Plano Director do IST de 1982

O IST inaugura em 2001 um novo «campus» em Oeiras, localizado no parque de ciência e tecnologia do “Taguspark”. Este complexo concentra mais de 120 empresas de base tecnológica. Recentemente, no ano lectivo 2006-2007, os cursos do IST adaptam-se definitivamente ao Processo de Bolonha cujo objectivo é a criação de um espaço europeu de investigação com vista a tornar a Europa na mais competitiva economia do mundo baseada no conhecimento.

                                                               Instituto Superior Técnico no "Taguspark"

        

Em 23 de Maio de 2011 o "Instituto Superior Técnico" comemorou o seu I Centenário.

                                  Cartaz da exposição “100 Anos do IST: Dos Directores aos Presidentes”. (2012)

                                               
                                                © Instituto Superior Técnico

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), IST

11 comentários:

Margarida Elias disse...

A família da minha avó tinha uma quinta onde hoje é a Alameda, na zona da Fonte Luminosa - a Quinta do Alperce.

José Leite disse...

D. Margarida Elias

Grato pelo seu comentário

Cumprimentos

Jaime F. Ribeiro disse...

Muito interessante esta história do IST. Uma dúvida:
No início diz que o IST ocupou, em 1911, as instalações do extinto Instituto Industrial, mas se foi extinto reapareceu mais tarde,. porque o actual ISEL também é herdeiro do dito Instituto Industrial.
Afinal o verdadeiro pai ou mãe da engenharia portuguesa parece residir no Instituto Industrial, que também deve ter uma história interessante. Quando teria nascido e em que contexto ?

José Leite disse...

Caro Jaime Ribeiro

Para não tornar o artigo fastidiosamente longo não incluí a história que me questiona.

Aqui vai ...

O Instituto Industrial foi fundado em 30 de Dezembro de 1852, pelo Ministro Fontes Pereira de Melo. Em 1869 passa a designar-se Instituto Industrial e Comercial de Lisboa e a partir de 1896 é convertido numa escola de comércio desde 1884 e de engenharia desde 1896 até 1910.

O Instituto Industrial e Comercial de Lisboa é extinto pela 1ª República em 1910. Em 1911 este Instituto é dividido em Instituto Superior Técnico e no Instituto Superior de Comércio (hoje ISEG).

Em 1918 o Instituto Industrial de Lisboa é refundado, conferindo o grau de engenheiro técnico aos seus formandos. Em 1974 é renomeado de Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL)

Os meus cumprimentos

José Leite

Pedro Machado disse...

Caros

Naquela imagem da alameda do IST, as estátuas existiram mesmo como parte integrante do dia-a-dia da escola? Que é feito delas?


Obrigado

José Leite disse...

Caro Pedro Machado

Não! Foram lá colocadas por ocasião da Exposição dos 15 anos de Obras Públicas, e depois retiradas.

Os meus cumprimentos

José Leite

Unknown disse...

Caro Jaime Ribeiro,

Fui surpreendido com a notícia do meu avô paterno ter sido o 2º presidente da Associação de Estudantes do IST: "1912 1913 Filipe Alistão Telles Moniz Cortê-Real*".
No seguimento desta notícia fui ver a lista dos primeiros 100 alunos e ele não consta. Seria possível ser presidente da AA sem estar inscrito? Pode ter-se acesso ao fundo matrículas? Onde me devo dirigir para tentar aprofundar um pouco mais a biografia de meu avô?Desde já grato por qualquer eventual ajuda, aproveito a oportunidade para o felicitar pelo seu interessantíssimo trabalho,
Miguel Côrte-Real

Jasmim Alberto Gerivaz disse...

Os Institutos Industriais formavam-se os Agentes técnicos, só passando a Engenheiros Técnicos depois do 25 de Abril de 74 quando os Cursos de Electrotecnia e Máquinas, Assim como Civil e Minas foram separados.Foram refeitos os curriculum, falando eu sobre a situação, pois estive na reformulação do ano Zero do Isel, assim como fiz parte do grupo que com o professor Nuno da Fonseca trabalhou para a implementação das Licenciaturas de dois anos após o Bacharelato de três anos cujas unidades de crédito eram semelhantes às licenciaturas do IST.Esta situação levou a APET, hoje Ordem dos Engenheiros -Técnicos a pedir a passagem directa dos Bacharéis a Licenciados.Vistas bem as coisas praticamente só Portugal a nível da Europa dava a licenciatura directa de cinco anos na Engenharia.Países desenvolvidos como o Reino Unido não o faziam.Neste momento as licenciaturas são de três anos, o que leva os antigos bacharéis a terem que fazer 3 a 4 cadeiras para terem a licenciatura quando as suas unidades de crédito serão porventura superiores ás actuais licenciaturas do processo de Bolonha.Outra situação que se foi perdendo no Isel foram as aulas de Oficinas de serralharia, Fundição e Máquinas e Ferramentas,pelo menos no curso de máquinas. Nos outros também se perdeu o que era feito no IIL.Tive conhecimento que existem Politécnicos que têm estas antigas práticas.Na minha opinião deveria existir Prática Simulada em todos cursos Cursos onde isso fosse possivel.
Continuando a designação de Engº-Técnico já era conhecidaem Moçambique que também tinha os IIC assim como Angola, antes do 25 de Abril de 74, como futura designação para os Agentes Técnicos, quando os cursos passassem a superiores, talvez devido à reforma de Veiga Simão o qual poderá ter dado a conhecer a sua ideia pois era reitor da Universidade de Lourenço Marques.

José Leite disse...

Caro Jasmim Gerivaz

Muito grato pela informação adicional.

Os meus cumprimentos

José Leite

Filipa Soares disse...

Olá,
Em relação à questão colocada pelo senhor Miguel Côrte-Real de dizer que dificilmente se poderia pertencer aos órgãos sociais da AEIST sem se ser aluno no Instituto Superior Técnico contudo, fiz uma pesquisa nas bases de dados do Arquivo do Técnico, onde trabalho, e de facto não há registo do seu avô ter cá estudado. Como explicação possível, mas que requer pesquisa, é o seu avô ter-se inscrito no antigo IICL que com a criação do IST, em 1911, terá dado continuidade aos estudos já no então criado IST. Tem ideia de onde vem a informação do seu avô ter sido presidente da AEIST no período/ano letivo de 1912-1913? O Arquivo do IST tem um considerável acervo documental relativo ao IICL e talvez se consiga apurar essa informação.

Unknown disse...

Cara Filipa Soares,

Muito obrigado pela sua ajuda e paciência. A fonte de informação que dá meu avô como presidente da AEIST em 1912-13 é https://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_dos_Estudantes_do_Instituto_Superior_T%C3%A9cnico

Ficarei muito reconhecido com toda a orientação que me puder dar relativa ao acervo documental do IICL tendo em vista o cabal esclarecimento desta questão.

Os meus mais gratos cumprimentos
Miguel Côrte-Real