O paquete «Lisboa», foi construído nos estaleiros “D. & W. Henderson & Co., Ltd.”, de Meadowside, em Glasgow/Escócia, por encomenda da “Empresa Nacional de Navegação”, e entrou no Tejo pela primeira vez em 18 de Junho de 1910. Foi o primeiro navio da frota mercante portuguesa a ser dotado com equipamento TSF. Superior aos paquetes «Portugal» e «África» também pertença da "Empresa Nacional de Navegação" ( futura Companhia Nacional de Navegação (CNN) ), o paquete «Lisboa» media 145 metros.
Paquete «Lisboa» (1910-1910)
Este paquete destinado às carreiras da África Oriental, juntamente com os paquetes «África», e «Lusitania», estava equipado com 12 embarcações a bordo, sendo 10 salva-vidas, para 600 pessoas. Para os serviços de carga e descarga possuía 4 guindastes hidráulicos, o que era novidade para a altura, e 9 a vapor. A bordo havia rede telefónica e estava equipado com 3 telégrafos marítimos (TSF), aliás o primeiro navio português a ser equipado com este tipo de equipamento. A ventilação interior era assegurada por 110 ventoinhas eléctricas.
«África» (1905-1932) «Lusitania» (1906-1912)
Oferecia aos seus passageiros duas magníficas salas de jantar das 1ª e 2ª classes, sala de reuniões, de fumo e de café. Este navio era iluminado por luz eléctrica por 710 lâmpadas de 16 e 30 Watts. Para o caso de doenças ou acidentes a bordo estava equipado com quatro enfermarias. Estava equipado com três cozinhas: duas para a 1ª e 2ª classes e outra a vapor onde se podia preparar uma refeição para 1.000 passageiros em duas horas e meia. Ainda oferecia luxuosa barbearia, lavandaria, farmácia e tipografia, 20 casas de banho e 45 «retretes».
Fotos da 1ª classe do paquete «Lisboa»
Acesso ao Salão de jantar Salão de jantar
Sala de música Bar
O custo deste navio ascendeu a 123.609 libras o que equivalia nessa data a cerca de 800 contos (4.000 €). A sua viagem inaugural foi a 1 de Julho de 1910 largando de Lisboa fazendo escalas no Funchal, São Tomé, portos de Angola, Cidade do Cabo, Lourenço marques e finalmente Beira ambas em Moçambique. Transportou nesta viagem 178 passageiros e 129 tripulantes.
Características:
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 7.450 Toneladas
Propulsão: 2 máquinas a vapor de 3.600 BHP cada. Potência total: 7.300 BHP
Veios de hélices: 2
Comprimento: 140,25 metros
Boca (largura): 16,44 metros
Velocidade máxima: 16,5 nós
Passageiros assim distribuídos:
1ª Classe - 108 em 40 camarotes
2ª Classe - 70 em 16 camarotes
3ª Classe - 151 em 18 camarotes
4ª Classe - 860 em beliches na coberta
Tripulação: 120 Tripulantes
Durante uma sua viagem comercial, o paquete «Lisboa», que devia assegurar uma carreira regular entre a capital portuguesa e Lourenço Marques (com escalas programadas nos portos de Luanda, do Lobito e da Cidade do Cabo), partiu de Lisboa a 1 de Outubro de 1910 transportando 250 passageiros e um carregamento de mercadoria diversa, que incluía gado bovino e azeite. Este navio foi o último navio a sair o Tejo, hasteando a bandeira da monarquia.
Notícia na revista “Ilustração Portugueza”
Sala de jantar da 2ª classe
Na noite do dia 23 de Outubro de 1910, pelas 21 horas, quando ainda navegava em águas do Atlântico, mas se encontrava já próximo da extremidade sul do continente africano, o navio foi despedaçar-se contra os traiçoeiros rochedos de Soldier's Reef, perto de Paternoster (África do Sul). No naufrágio pereceram 7 membros da equipagem do «Lisboa». Também por se ter virado uma das baleeiras morreram 3 passageiros e 4 tripulantes, e o desastre só não teve consequências mais gravosas, graças à utilização do equipamento TSF do navio, que permitiu a chegada rápida de socorros ao local do acidente.
O paquete «Lisboa» navegou apenas 4 meses detendo o recorde do mais curto tempo de vida de um paquete português.
Em 1930 navegaria no porto da Beira, em Moçambique, outro vapor com o nome de «Lisboa».
Vapor «Lisboa»
fotos excepto dos interiores do paquete in: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Hemeroteca Digital
Para a elaboração deste artigo foi consultado, além de outras fontes, o livro: «Paquetes Portugueses», de Luís Miguel Correia, Edições Inapa, Lisboa, 1992.
2 comentários:
Caro José Leite,
quase que me dá vontade de dizer que ainda bem que foi ao fundo tão rapidamente.
Realmente um navio que se destinava a transportar, além de pouco mais de 300 passageiros em condições normais, mais 860 pessoas, em beliches na coberta, não parecia merecer longa vida. Só quem não sabe o que seria alojar 860 pessoas em tais condições, poderá pensar o contrário. Suponho que nem nos tranportes de tropas tal era permitido e sabe-se em que condições eram feitos.
No entanto, ressalve-se a modernidade dos salões e demais equipamento e o facto de que o número de passageiros transportados foi sempre muito inferior a esse total máximo.
Bem haja,
João Celorico
Caro João Celorico
Comentário muito acertivo e cheio de propriedade
Cumprimentos
José Leite
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