Restos de Colecção: 5 de Outubro de 1910

5 de outubro de 2010

5 de Outubro de 1910

Na noite de 3 para 4 de Outubro de 1910 , o estado-maior da revolta republicana reúne-se nos Banhos de S. Paulo, dirigidos pelo velho republicano Joaquim Pessoa. Para aí convergem, designadamente, José Relvas, Eusébio Leão, Inocêncio Camacho, Afonso Costa, José Barbosa, António José de Almeida, João Chagas, Ricardo Durão, Celestino Stefanina, Malva do Vale, Marinha de Campos, Soares Guedes e Alfredo Leal. Às 8 da noite do dia 3, Machado Santos reúne no jardim de Campo de Ourique com as praças do regimento de Infantaria 16, combinando os detalhes do assalto ao quartel. Encontra-se depois com sargentos de marinha e passa pelo Grémio Lusitano (sede da Maçonaria), seguindo para a Sede do Directório, em S. Carlos, onde se depara com oficiais à paisana que deveriam já estar nos seus quartéis.

Na noite do dia 4 de Outubro, o  Rei D. Manuel II,  que oferecia nessa noite ao Presidente da República do Brasil, Hermes da Fonseca, um banquete em sua honra, no Palácio das Necessidades foi surpreendido pelo inesperado acontecimento. O presidente brasileiro assustado refugiou-se no couraçado brasileiro “São Paulo”que o transportara até Lisboa.

            Tropas republicanas no Rossio                                                e na Rotunda

     

A revolução republicana de 5 de Outubro de 1910 foi preparada por elementos da burguesia, profissionais liberais com um nível de instrução elevado, muitos deles ligados à Maçonaria ou à Carbonária, e alguns oficiais de patente relativamente baixa, encabeçados pelo Almirante Cândido dos Reis, que foi o principal responsável militar. Com o eclodir do golpe a 4 de Outubro, outras camadas da população lisboeta aderiram, prestando auxílio aos revoltosos e negando-o aos fiéis à monarquia.

No que diz respeito às operações militares, a queda do regime monárquico foi decidida a partir de um pequeno ponto da capital. Concentrados na Rotunda sob o comando de Machado Santos, os poucos efectivos da revolta contaram com a ajuda preciosa da população, que espontaneamente colaborava com informações, expressões de estímulo e mesmo o desejo de combater a seu lado, a ponto de, a certa altura, não haver armas para todos os que aderiam. Capitães Afonso Palla e Sá Cardoso, e tenente Ladislau Pereira foram outros operacionais e protagonistas da revolução.

                                  Postal evocativo                                            A Revolução vista em Espanha

           

Cerca das 16 horas do dia 4 de Outubro, os navios fundeados no Tejo São Rafael, Adamastor e Dom Carlos I deslocam-se para a frente do Terreiro do Paço e bombardeiam o Rossio, e o Palácio das Necessidades onde estavam concentradas tropas monárquicas. O "S. Rafael", já sob o comando do tenente Tito de Morais, dispara dois tiros de artilharia que puseram em fuga a companhia da Guarda Municipal ali estacionada. A posição dos navios da Armada impede o prosseguimento dos ataques à Rotunda pelas tropas fiéis à monarquia. Pelas 10 horas da noite, o cruzador "D. Carlos", que permanecia sob comando monárquico, é abordado por marinheiros e civis revoltosos, sob o comando do 2.º tenente José Carlos da Maia, a partir do "S. Rafael". A equipagem alinha também pela República, travando-se combates a bordo, com a oficialidade monárquica, de que resultaram diversos feridos, morrendo o comandante do navio Álvaro Ferreira. O cruzador "D. Carlos I" junta-se aos revoltosos, passando a patrulhar o rio sob as ordens do 2.º tenente Silva Araújo.

Aliás estas tomadas dos navios não tendo sido comunicada em devidas condições (1 única salva de canhão foi ouvida ouvida em vez de 3 salvas como combinado), levou ao suicídio de Cândido dos Reis no dia 4 de Outubro, pensando que a revolução tinha fracassado. Com a sua morte só o seu oficial Machado Santos se manteve activo no comando dastropas revoltosas na Rotunda.

Apenas o capitão Paiva Couceiro, com os seus soldados, aparecia a dar combate aos revoltosos a partir da sua posição no Torel. O tiroteio continuava, cada vez mais vivo. O Governo, desorientado, pediu pelo telefone a D. Manuel II que retirasse para Mafra, onde se lhe juntou, no dia seguinte, a rainha-mãe, D. Amélia de Orleães e Bragança, que estava no Palácio da Pena, em Sintra.

Dr. Miguel Bombarda, dirigente e deputado republicano e um dos principais impulsionadores da Junta Liberal, assassinado por um oficial do exército, antigo aluno dos colégios da Companhia de Jesus e seu doente mental, no dia 3 de Outubro e o Almirante Cândido dos Reis que se suicidou no dia 4 de Outubro , num postal evocativo

                           

                      Couraçado São Rafael                                                        Couraçado Adamastor

 

Pouco depois, pelas 9 horas da manhã do dia 5 de Outubro de 1910, era proclamada a república por José Relvas, (na companhia de Eusébio Leão, Inocêncio Camacho, Basílio Teles…) na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa, após o que foi nomeado um Governo Provisório, presidido por membros do Partido Republicano Português, presidido pelo Dr. Teófilo Braga. Este dirigiu os destinos do país até à aprovação da Constituição de 1911 que deu início à I República.

            

Constituição do governo provisório presidido por Teófilo Braga:

  • António José de Almeida (na pasta do Interior, antigo ministério do Reino)
  • Afonso Costa ( Justiça e Cultos )
  • Basílio Teles ( Finanças )
  • Bernardino Machado ( Estrangeiros )
  • António Luís Gomes ( Fomento )
  • Coronel António Barreto ( Guerra )
  • Comandante Amaro de Azevedo Gomes ( Marinha )

           

                                                           Auto da Proclamação da República

                           1910 Auto da Proclamação da República

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Às duas horas da tarde, chegou a Mafra a notícia da proclamação da República. A revolução republicana triunfara. A Família Real dirigiu-se para a Ericeira e embarcou no iate real “Amélia” para Gibraltar , onde um barco de guerra inglês os transportou até ao exílio, em Inglaterra.

                    Chegada á praia da Ericeira e embarque da família Real para o iate “Amélia”                            

  

A bordo, o Rei D. Manuel II escreveu ao seu primeiro-ministro, e líder do Partido Regenerador António Teixeira de Sousa :

“Meu caro Teixeira de Sousa,

Forçado pelas circunstâncias vejo-me obrigado a embarcar no iate real "Amélia". Sou português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer! Viva Portugal! Dê a esta carta a publicidade que puder.”

Após o 5 de Outubro e a par da dissolução dos partidos monárquicos, e com a substituição dos símbolos da monarquia,  foi substituída a bandeira portuguesa. As cores verde e vermelho significam, respectivamente, a esperança e o sangue dos heróis. A esfera armilar simboliza os Descobrimentos, os sete castelos representam os primeiros castelos conquistados por D. Afonso Henriques, as cinco quinas significam os cinco reis mouros vencidos por este Rei e, finalmente, os cinco pontos em cada uma as cinco chagas de Cristo. Esta bandeira foi uma adaptação da bandeira da Carbonária com a ajuda de Bordallo Pinheiro.

Foi criado o hino “A Portuguesa” , composto por Alfredo Keil, e letra de Henrique Lopes Mendonça tornando-se no hino nacional.

                        

Após a aprovação da Constituição em 21 de Agosto de 1911, Manuel de Arriaga viria a ser eleito, em 24 de Agosto de 1911, como 1º Presidente da República Portuguesa.

A revolução saldou-se em algumas dezenas de baixas. O número rigoroso não é conhecido, mas sabe-se que, até ao dia 6 de outubro, tinham dado entrada na morgue 37 vítimas mortais da revolução. Vários feridos recorreram a hospitais e postos de socorros da cidade, alguns deles vindo, mais tarde, a falecer. Por exemplo, dos 78 feridos que deram entrada no Hospital de S. José, 14 faleceram nos dias seguintes

A I República, após mais de 40 governos e uma crise económica grave, seria deposta com o golpe militar de 28 de Maio de 1926, encabeçada pelo General Gomes da Costa, e que leva à demissão do então Presidente da República Bernardino Machado.

Fotos in: 100 Anos da República, Almanaque Republicano, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Municipal de Lisboa

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito deste site, para fazer o nosso trabalho no ambito de historia de portugal ;)

GALO de ARTILHARIA disse...

A implantação da República foi um caminho negro onde tivemos falsas promessas e profetas que pregaram no deserto mad no meio de tudo foi o ZE POVINHO que mais sofreram o pobre sofrecom falta de tudo o rico esse vive da corrupção e de falsos moralistas