O “Cine-Teatro Avenida”, localizado na cidade de Aveiro e projectado pelo arquitecto Raúl Rodrigues Lima (1909-1979), foi inaugurado em 29 de Janeiro de 1949. Na sua inauguração foi exibido o o filme português «Não Há Rapazes Maus...”, realizado por Eduardo Maroto, inspirado na obra do Padre Américo.
O processo da construção do “Cine-Teatro Avenida” teve início em 1944, depois de em hasta pública ter sido vendida uma parte do terreno, propriedade da Câmara Municipal, pela quantia de 56.700$00 e mais tarde vendido o restante terreno, propriedade de um privado, Bolais Mónica, que cedeu a sua parte por 45.360$00 tendo logo começado o arquitecto Raúl Rodrigues Lima a conceber o projecto.
Arquitecto Raúl Rodrigues Lima (1909-1979)
Recordo que o arquitecto Raúl Rodrigues Lima foi responsável pelos projectos dos seguintes Cinemas e Cine-Teatros em Portugal:
- Cinema Cinearte, em Lisboa - inaugurado em 14 de Março de 1940
- Cinema-Teatro Monumental, em Lisboa - inaugurado em 24 de Março de 1943
- Cine-Teatro Avenida, em Aveiro - inaugurado em 29 de Janeiro de 1949
- Cine-Teatro Messias, na Mealhada - inaugurado em 18 de Janeiro de 1950
- Cine-Teatro de Estarreja - inaugurado em 12 de Março de 1950
- Teatro Micaelense, em São Miguel, Açores - inaugurado em 31 de Março de 1951
- Cine-Teatro da Covilhã, na Covilhã - inaugurado em 11 de Janeiro de 1954
- Cinema Império, em Lagos - inaugurado em 1946
Nota: na lista anterior, para aceder aos artigos acerca da história destas salas de espectáculos, neste blog, clicar nos títulos a amarelo.
Para a construção deste edifício foi constituída uma sociedade, a "Empresa Cinematográfica Aveirense, Lda.” - que também encomendaria o projecto do “Cine-Teatro de Estarreja” igualmente ao arquitecto Raúl Rodrigues Lima e que seria inaugurado em 12 de Março de 1950 - com um capital social inicial de 1.500 contos, dinheiro que foi todo gasto nas complicadas fundações, tendo sido aumentado por diversas vezes, fazendo parte dessa sociedade Augusto Fernandes, Joaquim Henriques, Severim Duarte, João da Costa Belo, José André da Paula Dias, Fernando Henrique Vieira Pinto Bagão, Henrique Alves Calado, Luís Francisco Cristiano, Manuel Bento, José Cândido Rodrigues Pereira, Carlos Marques Mendes e Vicente Alcântara, que na altura se revelou uma peça chave para a concessão do alvará, que estava altamente condicionada, pois possuía já esse alvará.
Sob a orientação do engenheiro Ângelo Ramalheira começaram as obras, algo atribuladas pois o subsolo alagadiço obrigou a que se procedesse à extracção das lamas e levasse injecções de areia, até uma profundidade de cerca de 20 metros, tendo a sua construção durado quatro anos.
O “Cine-Teatro Avenida” em construção
A sua sala de espectáculos possuía uma capacidade para 1.370 espectadores - sendo por isso, considerada uma das maiores do país - distribuídas por uma plateia, dois balcões e quatro frisas, dispondo de uma central eléctrica privada, de 60 Kws, com refrigeração e aquecimento, uma central telefónica com 9 linhas e três máquinas de projectar.
Nas páginas do jornal "O Democrata" podia-se ler:
«A sala de espectáculos comporta 1400 pessoas que podem distribuir-se pela plateia, 1º e 2º balcão e quatro camarotes. É toda em linhas modernas de avantajado pé direito, luz indirecta, havendo vários salões entre os quais se distingue o salão de festas no 1º andar, primorosamente decorado, sobressaindo no meio uma escultura (...) e um lustre e portão monumental onde se pode admirara a feliz combinação de arte de ferro forjado com motivos cerâmicos das Fábricas Aleluia (...) Há vários bars e numerosos lustres em cristal de fabrico de Alcobaça. As passadeiras e carpetes são riquíssimas. O mobiliário estofado inexcedível de comodidade».
A curiosidade e o requinte fizeram com que o público trocasse o velho “Teatro Aveirense” pela moderna e recém-inaugurada sala de espectáculos, na principal avenida da cidade.
Mesmo limitada, a concorrência era o suficiente para que o “Teatro Aveirense” passasse por algumas dificuldades ao nível das receitas. É que a cidade era pequena para comportar duas salas de cinema e as contrariedades não se fizeram esperar. Por tal motivo, nos anos cinquenta, as administrações das duas casas, para minimizarem o prejuízo, tiveram de se reunir e acordarem esquemas de gestão. A primeira ideia foi acordarem em exibições alternadas de espectáculos, o que implicava que nenhum deles apresentasse dois espectáculos seguidos. Depois, ainda se tentou dividir os dias da semana em que cada casa apresentava sessões de cinema e/ou teatro: terças, sábados e domingos, no “Teatro Aveirense”, quartas, quintas e domingos, no “Cine-Teatro Avenida”.
“Theatro Aveirense”
Em 1949, ano da sua inauguração o “Cine-Teatro Avenida” apresentou um espectáculo de Carnaval, com cinema, variedades e baile, estes abrilhantados por uma Orquestra de Variedades acompanhada pelo cantor José Segarra.
A acústica do novo “Cine-Teatro Avenida” não era aconselhada para representações teatrais. Três meses depois da sua inauguração, os periódicos aludem ao desconforto da sala, sentindo-se muito calor e, em alguns sectores, não se conseguia ouvir nada. Em Maio, o jornal “O Democrata” recorda quais as imperfeições desta sala: «as paredes muito nuas de ornatos, um palco muito pequeno e falta de acústica para os espectáculos declamados.»
Este dissabor, levou a que os seus administradores depressa se vissem obrigados a optar, apenas, por sessões cinematográficas, havendo, por isso, registo de poucos espectáculos.
No ano de 1984, a “Empresa Cinematográfica Aveirense, Lda.” e a “Sociedade Figueira Praia” formaram a “Aveitur- Sociedade de Empreendimentos Turísticos de Aveiro”, e que veio transformar por completo o Interior do edifício, mantendo o aspecto original exterior. No renomeado “Edifício Avenida”, viria a instalar-se um Bingo, agência bancária, um estúdio de cinema para 350 espectadores, e, no antigo Salão Nobre, que mantém a traça original, ficou a funcionar uma sala de exposições.
Actualmente, no “Edifício Avenida” funciona uma megastore de uma conhecida marca de roupa e ocasionalmente recebe exposições e espetáculos no Salão Nobre.
Nota: Para a elaboração deste artigo foi consultada a Tese de Mestrado de Judite Conceição Afonso Lopes, "Teatro Aveirense" - Faculdade de Letras - 2007, de onde foram transcritas algumas passagens de texto.
fotos in: Memórias de Aveiro, Opsis, Sipa
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