Restos de Colecção: Restaurante “A Abadia”

6 de maio de 2011

Restaurante “A Abadia”

O “Palácio Foz”, ou mais correctamentePalácio Castelo Melhor”, foi mandado construir, no século XVIII, pelo 4º Conde (e mais tarde 1º Marquês) de Castelo Melhor, D. José Vasconcelos Sousa Câmara Faro e Veiga. Neste palácio funcionaram a “Pastelaria Foz”, o “Salão Foz”, o “Club Maxim’s”, o “Central Cinema”, o restaurante “Abadia”, e o “Club dos Restauradores”.

Em Abril de 1917 foi inaugurado no velho edifício do “Palácio Castelo Melhor”, então propriedade dos condes de Sucena, (que o tinham comprado ao Crédito Predial em 1910 fruto da execução de uma hipoteca sobre o palácio em 1908), um estabelecimento denominado “Pastelaria Foz”, que nas suas caves tinha instalado o restaurante “A Abadia” , ambos propriedade da firma “Leitão & Cª.”

A “Pastelaria Foz” ocupava grande parte do andar térreo do “Palácio Castelo Melhor”, sendo servida por três das cinco portas da fachada (já demolidas), executadas por Domingos Costa em cantaria e ferragens, ornamentadas com motivos zoomórficos e de carácter vegetalista. Nelas trabalharam igualmente Jesus Peres Mora, Emílio Campos e elementos das oficinas “Jacob Lopes da  Silva & Cª.”

Exterior da “Pastelaria Foz” em 1918

 

O salão da pastelaria, era uma pastiche concebida ao gosto Luís XV e rocaille, por Viriato da Silva, com a colaboração do escultor José Neto.

Seu interior

Na cave da “Pastelaria Foz” ficava o restaurante "Abadia" . Este restaurante foi construído em 1916, e inaugurado conjuntamente com a “Pastelaria Foz”, no lugar anteriormente ocupado pelas cocheiras e arrecadações do Palácio Foz, com o projecto arquitectónico de Rosendo Carvalheira.

                                                           Abril de 1917                                                                         Junho de 1917

   

A 30 de Abril de 1943 este café-restaurante passou para a posse do Estado e estava dividido em três partes:

O "Claustrum" , com a sua " taberna vínica ", conforme se pode ler num dístico em ferro forjado. Imaginemos o secretismo de entrar neste local de culto original de 1917, quem entra dá de caras com um velho poço onde ainda corre água, de uma das imensas nascentes lisboetas, este fica localizado num espaço que copia um antigo claustro conventual, de influência manuelina. A restante decoração é feita com dragões, cachos de uvas, pombas, elefantes e muitos outros símbolos com segundos sentidos, entre os quais os bustos de 24 maçons que utilizavam este espaço.

         

                                   “Claustrum” com uma “Cela” na foto da esquerda, e poço na foto da direita

              

O "Refectorium" ,inspirado nos claustros do românico cisterciense peninsular. Nas cachorradas do “Refectorium” representaram bustos de personalidades decerto bem conhecidas na época (algumas ostentam símbolos de lojas macónicas), que seria curioso tentar identificar, e nas mísulas do “Claustrum” associaram aos temas clássicos cabeças de elefante de trombas entrelaçadas.

         

As "Celas", pequenas dependências de carácter reservado suspensas sobre o "Claustrum".

                                                               

                

Colaboraram na decoração e concepção deste restaurante, os escultores Costa Mota e José Neto e os pintores Domingos Costa, Luís Borges e José Bazalisa.

A par das caves do Teatro da Rua dos Condes, também neste restaurante “Abadia” realizavam-se as reuniões gastronómicas do grupo maçónico “Os Makavenkos”. O grupo dos Makavenkos era uma sociedade gastronómica-filantrópica fundada em 1884 por Francisco de Almeida Grandella (fundador dos “Armazens Grandella & Cª.”) com fins de solidariedade e beneficência. Faziam dela fazendo parte, entre outros, o duque de Lafões (D. Caetano de Bragança), Bulhão Pato, Rafael Bordalo Pinheiro, D. Francisco de Sousa Coutinho e o almirante Ferreira do Amaral. Política e religião eram assuntos nunca discutidos, tendo o seu ex-líbris como divisa «Honni soit qui mal y pense».

                                               

Máximas dos “Makavenkos’”

“Zela pelas coisas municipais, porque são também tuas.
Não deixes danificar as paredes e os muros, consentindo que lhe escrevam e as sujem.
Ama o teu país e sobre tudo a tua linda cidade de Lisboa. Evita por isso suja-la e que os mais a sujem."

É conhecida a sua intervenção na conspiração revolucionária que conduziu à implantação da República em 1910, assim como o subsídio da construção de empreendimentos de utilidade pública no âmbito da saúde e um altruísmo sem par (auxiliavam órfãos pobres, artistas desamparados e doentes carenciados). Também não faziam questão de guardar segredo no que toca às suas extravagâncias e excentricidades: nos vetustos jantares que serviam, faziam questão de reunir belas mulheres – sobretudo actrizes  – e eram acompanhados por uma orquestra de músicos de olhos vendados.

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

2 comentários:

legião 1143 disse...

" Zela pelas coisas municipais, porque são também tuas.
Não deixes danificar as paredes e os muros, consentindo que lhe escrevam e as sujem.
Ama o teu país e sobre tudo a tua linda cidade de Lisboa. Evita por isso sujá-la e que os mais a sujem."
Os Makavenkos hoje teriam uma grande batalha pela frente , pena que já tenhamos perdidos alguns destes valores dos Makavenkos .

Palácio Foz disse...

Obrigada!
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