Restos de Colecção: Meia de Vidro

19 de julho de 2025

Meia de Vidro

A loja "Meia de Vidro" abriu as suas portas, pela primeira vez, em Novembro de 1944, na esquina da Rua Augusta, 158-160 com a Rua da Vitória, 58-64, em Lisboa. Era propriedade da firma "Farinha & Almeida, Lda.".



Localização (dentro do rectângulo amarelo) da "Meia de Vidro", na Rua Augusta


Anúncio de 7 de Dezembro de 1944

Esta loja foi transformada e renovada sob o projecto do arquitecto Miguel Jacobetty Rosa (1901-1970), que tinha sido o autor do projecto do "Estádio Nacional", inaugurado em 10 de Junho do mesmo ano de 1944.



1945


1946

Quanto ao nome "Meia de Vidro" foi inspirado no novo tipo de meia para senhora com o mesmo nome introduzido no mercado na altura. Quanto a este tipo de meia o jornalista e escritor Artur Portela (1901-1959) no seu livro "Como elas são" editado pela "Livraria Popular Francisco Franco" descrevia:

« (...) Mas o caso, agora, é mais sério. Trata-se de meias, daquelas finas teias róseas, cor de âmbar, de caoba, de sândalo, que a Eva lisboeta de 1949 não dispensa, seja qual for o ágio, a cerimónia ou o orçamento doméstico.
Efemeramente, ela ainda pintou as pernas, mas sem resultado. As cores não tinham luminosidade, calor, sangue, vida! E, depois, perdoem-nos as leitoras, era impossível por um processo assim tão barato gastar dinheiro, o que é, até certo ponto, uma obrigação deliciosamente feminina. Redobrou, então a loucura das meias, que já não são de seda algodão, de linho, mas de uma matéria preciosa, rara ainda nos laboratórios americanos, que se chama «nylon».
São as famosas meias de vidro, que, afinal, não se quebram, tão parecidas com as antigas - num antigo relativo - macias, sedosas, inconsutis, que estão a enlouquecer agora as lisboetas.
As vitrinas  oferecem-nas numa tentação brilhante, e as mulheres, extasiadas, gulosas, tremendo de emoção, com as pupilas febris, namoram-nas, sofregamente.
Não falam noutra coisa pelo telefone, no  chá, ou zumbindo como abelhas, na rua do Ouro, numa delícia voluptuosa -de fruto proibido... a  X escudos o par. Ah, Se no Paraíso, em vez de maçã, houvesse uma dessas meias preciosas, tenham a certeza de que o destino humano seria outro! »


1960


1976



Na revista "Boa Noite" em Dezembro de 1977


Alfinete de lapela

A "Meia de Vidro" terá encerrado definitivamente por volta de 2002, a fazer fé na reprodução do processo camarário do cancelamento de licença de utilização, disponível no "Arquivo Municipal de Lisboa". Quanto à firma sua proprietária "Farinha & Almeida, Lda." com sede na Rua da Vitória , 58- 3º Dto. foi dissolvida em Janeiro de 2008. No seu lugar viria a instalar-se a multinacional "Calzedonia", que opera no mesmo ramo de roupa interior de senhora.

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa

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