O "Palace-Hotel" de Coimbra, foi inaugurado em 17 de Novembro de 1912, na Avenida Emídio Navarro, em Coimbra, tendo como proprietárias D. Maria da Encarnação Alves de Souza Vieira e suas filhas. A mesma D. Maria Vieira já era proprietária do "Grande Hotel Universal", na Figueira da Foz. De referir que, o edifício foi mandado construir, e mantendo-se como proprietário, Julio da Cunha Pinto, que ali vivia e mantinha uma "Casa de Loterias", como veremos mais adiante.
"Palace Hotel", na Avenida Emídio Navarro
Publicidade ao estabelecimento do senhorio, em 1915
O jornal "Gazeta de Coimbra" de 20 de Novembro de 1912 noticiava a sua inauguração:
«Instalado no magnifico predio do sr. Julio da Cunha Pinto, uma das construções particulares mais grandiosas de Coimbra, sito na Avenida Navarro, inaugurou-se no domingo o Hotel Palace, de que são proprietarias as sras. D. Maria da Encarnação A. de S. Vieira & Filhas.
É incontestavelmente um dos melhores hoteis de Coimbra, não só pelo local em que está situado, mas ainda pelas ótimas condições em que se encontra, obedecendo aos mais recentes processos, ultimamente tratados nos congressos de turismo.
O mobiliario dos quartos é de primeira ordem e completamente novo, e honra bastante a industria conimbricense, pois é um magnifico trabalho confeccionado nas oficinas dos srs. João Crisostomo dos Santos & Irmão.
(...) Felicitamos a empresa exploradora do novo hotel, desejando-lhe as maiores prosperidades.
Igualmente felicitamos o nosso estimado amigo sr. Julio da Cunha Pinto, pelo aparatoso edificio com que dotou Coimbra e que honra os operarios desta terra que nele trabalharam.»
Na "Gazeta de Coimbra" de 16 de Novembro de 1912
Como sendo o mais luxuoso hotel da cidade no princípio do séc. XX, o "Palace-Hotel" foi construído de raiz e praticava preços, para os seus 18 quartos, que variavam entre os 1$200 e 2$000 réis.
«(...) O mesmo era considerado um dos melhores de Coimbra no século XX pelo local, mas também por integrar as condições estabelecidas nos mais recentes congressos de turismo de 1912. Neste sentido, ao contrário da maioria dos hotéis em Coimbra, o Palace Hotel possuía casas de banho em todos os quartos, encontrando-se em linha com as novas teses higienistas.
Constituído por cerca de dezoito quartos, cada um equipado com mobiliário de primeira ordem, o hotel dispunha ainda de aquecimento a gás em todos os compartimentos e de um serviço de cozinha à francesa e à portuguesa.
(...) O mesmo, condicionado ao meio citadino, distanciava-se da tipologia do Palace Hotel Bussaco que privilegiava o contacto com a natureza ou da tipologia termal como o Palace Hotel Vidago. Numa ótima de diferenciação importa também salientar que as dimensões do mesmo se mostram, em comparação com os restantes Palaces nacionais, extremamente reduzidas, aproximando-o dos restantes hotéis existentes na cidade.
Face a esta característica dimensional, pode ser avançada a hipótese de que este foi concebido para ser um hotel de pequenas dimensões, justificando-se pelo facto de ser uma construção privada que envolvia um grande investimento financeiro. Neste sentido, pode ser comparado um hotel de pequenas dimensões, mas que recorreu a todo um conjunto de opções estéticas que o aproximavam, ainda que de modo ilusório, de um Palace, quer pela elegância quer pelo pendor clássico que lhe fora impresso.» (1)
Lembro que o primeiro hotel projetado de raiz para o seu fim em Coimbra, tinha sido o
"Hotel Bragança", localizado um pouco mais à frente, ao lado da estação de caminhos de ferro, e inaugurado em 2 de Abril de 1899, tendo nesta altura como proprietário de Guilherme Máximo. Vide artigo acerca deste hotel, neste
blog, no seguinte
link:
Hotel Bragança em Coimbra. Outros dois também o foram, como o
"Hotel dos Caminhos de Ferro" - construído definitivamente na Praça 8 de Maio em 1900 e propriedade de José Gomes Ribeiro - e o
"Hotel Avenida", ex-
"Coimbra-Hotel" na Avenida Emídio Navarro e propriedade de José Garcia.
Além do "Palace-Hotel", publicidade a alguma oferta hoteleira de Coimbra no ano de 1913
A juntar aos equipamentos hoteleiros publicitados em 1913, na imagem anterior ,os seguintes:
"Hotel Novo", na Rua Adelino Veiga - 700 a 800 réis
"Hospedaria Raposo", no Largo do João d'Aveiro - - 700 a 800 réis
"Hospedaria Francisco dos Santos", na Rua do Pateo da Inquisição - 600 réis
"Hospedaria Antonio d'Oliveira Barros", na Rua da Sophia
"Hospedaria Raposo", no Largo da Fornalhinha
"Estalagem Joaquim Marques Perdigão", na Rua da Louça
Nas lojas da ala lateral esquerda (Norte) do Hotel, que fazia esquina com o Largo das Ameias, - que se pode ver na 2ª foto deste artigo - estava instalada a casa de loterias "Júlio da Cunha Pinto" (proprietário do edifício): «Géneros alimentícios, bebidas engarrafadas, tabacaria, perfumaria, papelaria, artigos de novidade, artigos para caça, postais ilustrados, águas minerais e sortimento em bilhetes e fracções de loterias para todas as extrações» in: "Boletim da Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra" de 15 de Agosto de 1916.
27 de Dezembro de 1912
Publicidade no "Guia Oficial dos Caminhos de Ferro de Portugal" de 1913
Publicidade ao "Grande Hotel Universal" na Figueira da Foz, da mesma proprietária
A existência do "Palace-Hotel" seria efémera, pois viria a ser vítima de um grande incêndio, com origem no depósito de lenha na noite de 29 para 30 de Abril de 1919, que o destruiria em cerca de dois terços da sua área, deixando apenas intacta a ala lateral esquerda (Norte), ocupada pela mercearia e residência de Júlio da Cunha Pinto. Anos mais tarde, esta ala viria à sua função hoteleira, passando a designar-se "Pensão Internacional" .
O jornal "Gazeta de Coimbra", de 3 de Maio de 1919 noticiava o sucedido da seguinte forma:
«O incêndio teve o seu inicio no deposito de lenha do hotel junto á cosinha e com grande rapidez se propagou ás outras dependencias devido ao derramamento de gaz.
(...) O incendio na sua marcha devastadora destruiu quase todo o predio, que se encontrava seguro em 38 contos nas companhias Portugal Previdente, Futuro, Indemnisadora, Comercial, Segurança, Douro e Fidelidade.
A mobilia do hotel estava segura em 10 contos n'A Colonial.
Os prejuizos montam a mais de 100 contos.
O sr. Alberto Davim, proprietario duma casa de modas em Lisboa, perdeu o seu mostruario de peles e de outros artigos do seu comercio, na importancia de 12 contos.
A familia do sr. Nunes Geraldes, um cofre com joias no valor de 4 contos, etc.»
6 de Maio de 1919
10 de Maio de 1919
Depois das alas central e direita Sul do edifício do "Palace Hotel" serem demolidas, seria construído no mesmo lugar outro edifício, que albergou no seu primeiro andar, a "Academia de Música de Coimbra" onde as artes musicais e dança passaram a ser rainhas. A sua inauguração ocorreu a 10 de Fevereiro de 1929.
Anos mais tarde, neste mesmo edifício, viriam a instalar-se o "Pensão Internacional" e o "Café Internacional", muito frequentado pelos estudantes da época. Actualmente, só resta a "Residencial Internacional".
(1) - A "Hotelaria Coimbrã dos anos 20: dos pequenos hotéis à utopia do Grande Hotel" - Dissertação de Mestrado em Arte e Património, de Sara Filipa Baptista Gomes da Silva (2018) - Universidade de Coimbra.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, AlmaMater UCDigitalis